sábado, 6 de fevereiro de 2016

Redução de homicídios levanta divergências


O anúncio do governo de que o índice de homicídios no Ceará caiu 25,3% no mês de janeiro repercutiu, ontem, na Assembleia Legislativa. O deputado Capitão Wagner (PR) reconheceu o esforço do governo em trabalhar medidas para a redução desses índices negativos, mas criticou a negativa do governador Camilo Santana de que no Estado esteja havendo
 ( FOTO: JOSÉ LEOMAR )  a união de facções criminosas em prol do fim dos homicídios.
"O governador, prematuramente, diz que isso é brincadeira de mau gosto. Até aceito que ele procure a imprensa e peça que ela não divulgue a informação, mas negar não aceito. Tem que mandar seu órgão de segurança, investigar, depois sim poderá se posicionar", disse Wagner, referindo-se à declaração de Camilo Santana, que, durante balanço dos crimes letais, afirmou que a suposta trégua não passaria de "boatos irresponsáveis".
Em discurso, Wagner Sousa cogitou que a redução no número de homicídios no Ceará esteja relacionada ao suposto acordo firmado entre membros do Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho. "Claro que tem a ver com o trabalho das equipes de segurança, agora, depois de ser anunciado que um pacto seria feito pelas gangues rivais e no final de semana seguinte ocorrer apenas quatro homicídios, quando a média é de 30 a 40, nos faz acreditar que alguma verdade pode existir em tudo isso", avaliou.
Fernando Hugo disse concordar com a fala de Wagner que, por ter feito parte do quadro de militares do Ceará, tem conhecimento da área mais do que os demais parlamentares. Ele disse ter sido procurado por seu amigo delegado Carlos Crisóstomo, que lhe mostrou imagens de facções criminosas agindo no Ceará. "Imediatamente tentei falar com o governador Camilo, mas não fui atendido e depois soube que ele estava em reunião para tratar exatamente desse assunto", relatou Hugo, que classificou como "responsável" a atitude do governador em não permitir que o "boato" ganhe maiores proporções. "Temos que mostrar para a sociedade que o governo não está silente. Ele trabalha com o seu setor de inteligência, disso eu não tenho dúvida".
Prejuízo
O deputado afirmou que o poder de segurança do Estado não ficará nas mãos de criminosos, porque a própria polícia não permitiria tamanho prejuízo, uma vez que o governo estimulou a tropa policial a conceder milhares de promoções, por exemplo. "Nossos policiais estão estimulados e se dedicam ainda mais para garantir a segurança do cidadão comum nas ruas". Uma solução definitiva contra facções interestaduais, segundo apontou, seria transferir todos os seus membros que se encontrem no Ceará para presídios federais.
Enquanto essa decisão não é tomada, ele disse que o caminho está sendo cultivado, mas falta orçamento para avançar. "Nossa tropa policial precisa ser ampliada para 30 mil policiais. Somente de policiais civis deveríamos contar com mais de sete mil e não apenas os atuais 2.500", defendeu Hugo. Outra medida apontada pelo parlamentar seria a polícia "responder à altura" a ação dos criminosos que assustam aos cearenses.
"O que acontece hoje é que abrimos estatísticas e verificamos que nossos defensores são trucidados por bandidos que não têm respeito e nem temor ao militar. Eles atiram nos quartéis e soltam bombas em patrulhas, mostrando que o crime organizado está mais afoito do que a polícia. Não planto guerra civil, mas não se pode negar que muitas vezes o militar deixa de enfrentar o bandido por medo de responder a processo", concluiu.
O deputado Renato Roseno, que integra a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, disse, em resposta à declaração de Hugo, que segurança pública não se faz só com polícia. "Precisa haver planejamento, formação e mediação de conflitos, o que não aconteceu em mais de uma década no País. No final dos anos 90, o número de pessoas reclusas era de 170 mil, mas passou para 660 mil em 2015", comparou. "As varas criminais estão lotadas de presos pobres, isso mostra como funciona o sistema penal do País", acrescentou.
Milícias
O parlamentar alertou para a possibilidade de, caso seja verdade a união e domínio das facções criminosas no Estado, o próximo passo seria a apropriação de serviços essenciais como gás de cozinha e TV a cabo, além da segurança assegurada por milícias. "Quando o Estado se omite, eles tomam conta. Assim aconteceu no Rio de Janeiro. É equivocado chamar isso de pacificação quando, na verdade, se trata de um acordo de mercado e cooptação de jovens para o crime", disse.
A deputada Rachel Marques (PT) admitiu que os números ainda são alarmantes, mas que não se pode deixar de atribuir a redução de janeiro ao trabalho do governo. "Muito ainda tem que ser feito e investido, mas passos importantes foram dados. Primeiro com a valorização dos profissionais da segurança. O impacto das promoções, do ponto de vista do reconhecimento profissional, exerce forte influência na autoestima dos policiais que passam a desempenhar melhor sua função", avaliou.
A petista também citou a interiorização do Raio e das equipes do Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). "Em Sobral, após a implantação de bases dessas duas importantes forças, foi registrada queda no número de mortes acima de 50% nos meses seguintes".
O peemedebista Audic Mota disse lamentar que o número de homicídios no território cearense tenha reduzido após "tal acordo". "Queremos melhores dias, sem assaltos, com o cidadão podendo caminhar pelas ruas em qualquer horário sem receio de ser atacado por um bandido, mas que essa segurança seja garantida pelo Estado", disse.

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