segunda-feira, 21 de março de 2016

Desafio é superar violência e doenças do envelhecimento


Em 16 anos, qualquer cidade muda muito. Fortaleza, por exemplo, entre o fim da década de 1990 e o início da atual, passou por conjunto de transformações sociais e econômicas que tiveram impacto em todas as áreas, sobretudo na saúde. A renda das famílias aumentou, assim como o grau de urbanização da Capital. A taxa de fecundidade entre as mulheres diminuiu. Ao mesmo tempo, caiu a mortalidade infantil e, com isso, cresceu a expectativa de vida e o índice de envelhecimento da população.
Fatores como esses, conforme mostra o livro "Fortaleza: Cidade Saudável e Fraterna", diagnóstico publicado neste mês por médicos e estatísticos da Capital, tiveram impacto direto no cenário epidemiológico da cidade hoje, ou seja, doenças e agravos que mais têm atingido os fortalezenses. As mudanças dos últimos anos influenciaram na situação de saúde existente hoje em Fortaleza, em que os agravos causados pelo envelhecimento e a violência urbana são as principais causas de morte e preocupações do poder público.
Utilizando informações do período entre 1997 e 2013, o estudo revelou que, de um lado, parte da população está vivendo mais, mas não necessariamente melhor. À medida em que cresceu a esperança de vida ao nascer e o índice de envelhecimento, houve maior incidência de problemas de saúde relacionados à terceira idade. Em 2013, conforme os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), as doenças do aparelho circulatório, por exemplo, foram a segunda causa de morte entre fortalezenses, com 121,4 óbitos a cada 100 mil pessoas.
Causas externas
"A base da pirâmide populacional reduziu e o topo está começando a crescer. Isso vai se refletir nas taxas de mortalidade. As pessoas estão envelhecendo e começam a aparecer as doenças do envelhecimento, como diabetes, câncer, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e infarto, que estão entre as causas de morte", explica Fonsêca.
Perderam apenas para as causas externas. No período de 16 anos analisado, os principais motivos de morte na Capital deixaram de ser as complicações vasculares, conforme registrado em 1997, e passaram a ser homicídios e acidentes de trânsito, em 2013. Segundo o levantamento, entre os dois anos, houve um aumento de 124,1% no número de mortes por causas externas, sendo os homicídios mais recorrentes desde 2001.
"Dentro da violência, um tempo atrás, a maior parte dos óbitos acontecia em acidentes de trânsito. Pelo aumento do tráfico de drogas e armas, hoje os homicídios ocorrem em maior número. É uma grande preocupação", diz o médico.
Segundo Manoel Fonsêca, embora o fortalezense esteja vivendo mais anos que no passado, com uma expectativa de vida acima de 74 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é preciso pensar no futuro.
"Houve realmente melhora da saúde, mas temos que pensar primeiro na questão da violência, que precisa ser superada, e, principalmente, na população que vai envelhecer, no cuidado que isso vai exigir das unidades de saúde e da promoção de saúde. Se dermos a atenção certa, as pessoas viverão mais e com mais qualidade", diz.
fgbhg

Próximas gerações
Pensar adiante é a segunda fase do trabalho. O diagnóstico faz parte do projeto Fortaleza 2040, do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), que prevê o desenvolvimento da Capital nos próximos 24 anos em diversas áreas. A partir do levantamento em saúde, serão elaboradas projeções acerca do cenário da cidade e propostas para minimizar problemas existentes.
Para os autores do diagnóstico, a violência na Capital atingiu níveis tão "intoleráveis" que poderá levar sociedade e poder público a se mobilizarem para reverter o quadro.
Na opinião do mestre em Saúde Pública Caio Cavalcanti, membro dos grupos de discussão na área de saúde do Fortaleza 2040, diante das estatísticas, a tendência observada é de crescimento da taxa de mortalidade por causas externas. No entanto, o desenvolvimento de políticas de pacificação pode frear esse aumento. "Quando se vê uma tendência como essa, isso impõe ações para superar, para prevenir. Se essa ação se efetivar, podemos frear essa tendência", explica Cavalcanti.
Já o maior envelhecimento da população da Capital é inevitável, principalmente se a alta taxa de homicídios e acidentes de trânsito for reduzida. Por isso, o especialista destaca a necessidade de pensar em estratégias para que idosos evitem os agravos típicos da terceira-idade.
"O envelhecimento é tendência real, a questão é como ter idosos ativos e saudáveis. Cabe à gente estruturar ações e projetos que promovam isso", diz Caio Cavalcanti.
Eudoro Santana, superintendente do Iplanfor, afirma que já existem ações dedicadas a minimizar os dois principais pontos expostos no diagnósticos. Sobre a violência, ele cita a implantação de medidas de segurança e combate às drogas do Pacto pelo Ceará Pacífico em bairros da Capital de vulnerabilidade, como Vicente Pinzón. Já em relação às doenças do envelhecimento, o gestor aponta a reforma de praças e outros espaços de lazer que beneficiem os idosos.
Santana salienta que o objetivo do Iplanfor é propor estratégias para o futuro da cidade. "Uma cidade limpa, que tenha praças e parques em quantidade maior, transporte coletivo melhor, mais educação, mais esportes, tudo isso contribui para a saúde das pessoas. É isso que vamos propor à Prefeitura para planejar Fortaleza de 2040", diz.

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