Brasília. Em comunicado oficial, a presidente Dilma Rousseff informou, ontem, mudanças de pastas e agradeceu os serviços prestados por José Eduardo Cardozo, que deixou o Ministério da Justiça. A nomeação do procurador baiano Wellington César como novo ministro da Justiça era estudada pelo governo federal desde o final do ano passado.
Com a possibilidade da saída de Cardozo, que já havia pedido para deixar a Pasta mais de uma vez, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, articulava a nomeação do aliado político para o posto. O nome foi sugerido em janeiro pelo ministro a Dilma e tinha o apoio do atual ministro da Justiça, que o defendeu como possibilidade para substituí-lo.
No início deste ano, com a definição de que Luís Inácio Adams deixaria em fevereiro a Advocacia-Geral da União (AGU), o governo federal chegou a pensar em colocar o procurador baiano temporariamente no cargo até a saída de Cardozo da Justiça.
A presidente, no entanto, tinha dúvidas sobre se César seria o melhor indicado neste momento, diante da abertura do processo de impeachment, e tinha preferência pelo procurador-geral do Banco Central, Isaac Menezes Ferreira, e pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência, Marcelo Siqueira. Com a definição da saída do ministro da Justiça, o nome do baiano foi novamente sugerido por Wagner e Cardozo à presidente, que foi convencida a nomeá-lo.
Segundo a reportagem apurou, pesou na decisão da petista o bom trânsito de César junto a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o fato dele ser um nome de fora do meio político, o que o tornaria menos suscetível a pressões para segurar as investigações da Lava-Jato.
Ao mesmo tempo, a nomeação de um aliado político de Wagner também teve como objetivo acalmar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha acusando nos bastidores José Eduardo Cardozo de não controlar a Polícia Federal.
A posse dos novos ministros deve ocorrer na quinta-feira (3) a pedido de Adams, que quer, ainda no cargo, participar de audiência na Comissão Mista de Orçamento no Congresso Nacional, hoje, e de um anúncio do acordo do governo federal com a Samarco para reparo dos estragos causados em Mariana (MG), programado para quinta.
Mesmo que a saída do cargo tenha colocado em risco a permanência de Leandro Daiello à frente da direção-geral da Polícia Federal, ele permanecerá no cargo da PF. Além de mexer nos ministérios da Justiça e da Advocacia-Geral da União, a presidente Dilma decidiu também fazer mudanças no comando da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão interno que atua no combate à corrupção em instituições federais. Luiz Navarro, que já atuou na CGU e é especialista no combate a desvios na esfera pública, assumirá a Pasta, que hoje está interinamente ocupada por Carlos Higino.
Críticas da oposição
Ontem, líderes dos partidos de oposição no Congresso afirmaram que o ex-presidente Lula e o PT trabalham para barrar investigações da PF e são os responsáveis pela saída do ministro da Justiça. Cardozo, que é do PT mas nunca foi próximo de Lula, era alvo de ataques de petistas devido à avaliação de integrantes do partido de que a PF faz investigação seletiva nas apurações que envolvem políticos - persegue Lula e poupa tucanos suspeitos de irregularidades.
"O que o PT e Lula querem é que o ministro da Justiça controle as atividades da Polícia Federal e as investigações que atingem membros do governo e do partido. Sem ter como se explicar, os investigados querem impor uma mordaça aos investigadores", afirmou em nota o líder da bancada do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).
Em linha oposta o líder do governo no Senado, senador Humberto Costa (PT-PE), considerou o pedido de Cardozo como uma "mudança administrativa de rotina". Quando chegou ao Palácio da Alvorada na noite de domingo (28) para a conversa definitiva com a presidente Dilma, Cardozo disse, porém, que sua situação à frente da Pasta estava "insustentável".
Horas antes, ele havia dito a amigos que tinha "perdido a paciência" diante das pressões feitas pelo PT e pelo ex-presidente Lula, que pediam há meses a saída dele do cargo. O ex-ministro da Justiça diz que sempre rejeitou interferências externas na Polícia Federal e que a PF age de forma "independente".
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