Apesar de tantas conquistas relacionadas ao direito da pessoa com síndrome de Down, ainda existe uma carência de centros de reabilitação de estimulação precoce para que a criança com esta condição consiga desenvolver capacidades, como a comunicação, cognição e motora. Lembrando o Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado ontem, pais e profissionais reforçam a exigência por uma rede mais estruturada e uma sociedade com menos preconceito
Embora não exista no País estatística sobre o número de brasileiros com a síndrome, causada por uma alteração no cromossomo 21, estima-se, conforme a ONG Movimento Down, que 270 mil pessoas vivam com essa condição no Brasil. A proporção é de um para cada 700 nascimentos. No Ceará, seriam cerca de 3.700 pessoas com Down.
Em Fortaleza, só o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), o Núcleo de Tratamento e Estimulação Precoce (Nutep) e Núcleo de Atenção Médica Integrada (Nami) da Universidade de Fortaleza (Unifor) oferecem esses serviços gratuitos. "Faltam lugares para o atendimento de reabilitação em Fortaleza. Aqui, por exemplo, só atendemos às crianças de zero a 3 anos, que são encaminhadas pelo próprio Hospital. E também não temos condições, até por questões estruturais, de ampliar esse serviço. As maternidades estão lotadas", diz a fonoaudióloga e coordenadora do Núcleo de Orientação e Estimulação ao Lactante (Noel), do Hias, Eveline Gondim. Ela explica que a criança com síndrome de Down tem uma maior propensão a desenvolver algumas doenças, hipotonia muscular e deficiência intelectual e, por isso, precisa ser acompanhada desde o nascimento por uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e neurologista. Depois, o pedagogo deve entrar para o acompanhamento escolar. "É um atendimento que deve ser feito por muito tempo. Os pais que têm mais condição financeira conseguem que a criança vá além. Para uma mãe, carente é mais difícil".
No Hias, a criança faz o atendimento uma ou duas vezes por semana com a equipe de profissionais, que têm o objetivo de desenvolver a fala e o movimento. Para isso, contam também com a ajuda da família, que é orientada a realizar exercícios e atividades que complementam as sessões no hospital. "É preciso envolvimento dos pais. Tem gente que vem do Interior e é atendida de 15 em 15 dias. Só as sessões aqui não seriam suficientes", explica Eveline. Quando completam três anos, são encaminhadas para o Nutep, Nami ou para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Muitas vezes, as mães abrem mão do emprego para se dedicarem exclusivamente aos filhos. Como é o caso de Ana Lúcia Rodrigues, mãe da pequena Elen, um ano e sete meses. Aos 42 anos, ela conta que descobriu a síndrome de Down com o nascimento da segunda filha. E tudo mudou. "Eu não sabia de nada. Quando ela nasceu, ficou internada porque disseram que tinha problema no coração. Com um mês, descobriram a síndrome. Tomei um susto. No início eu rejeitei, mas hoje ela é o nosso xodó", confessa Ana, que leva Elen toda semana aos profissionais e garante que faz tudo que ensinam em casa.
Geralmente, a alteração genética é conhecida ainda durante a gestação. No caso de Amanda Lemos, 24 anos, o anúncio de que Luiz Miguel, 2 anos e 8 meses, tinha síndrome de Down veio após várias suspeitas de mal-formação do feto. "No começo eu fique com medo, assustada. Fui procurar informação e vi que não era tão grave assim. Ele já desenvolveu muito depois que veio pra cá, com dois meses. Ele era muito molinho. Hoje anda, fala, adora brincar. Vai começar o colégio regular no mês que vem. Quero que ele tenha uma vida normal".
Inclusão
Para Eveline Gondim, hoje é possível ver muitas pessoas com síndrome de Down desempenhando papéis que outrora era considerado impossível. "Vemos alguns saindo da faculdade, sendo esportistas, casando e cuidando dos filhos", elenca.
A fonoaudióloga explica que esse desenvolvimento é resultado da visibilidade social que eles ganharam há cerca de 15 anos. "As famílias antigamente deixavam seus filhos trancados em casa. Quando começaram a lutar pela inclusão dos filhos, passaram a interagir mais e a se desenvolver mais".
A Associação Fortaleza Down é um exemplo desse movimento organizado das famílias. Hoje, são cerca de 180 que lutam pela inclusão escolar e socialização das crianças e adolescentes com a síndrome.
Protagonista
Garoto Matheus Ferraz é símbolo de campanha
Matheus Ferraz, 2 anos e 8 meses, é um símbolo do movimento pela inclusão das pessoas com síndrome de Down. Há um ano, os pais Karla Barros e José Landim, criaram um perfil no Instagram para compartilhar o dia a dia do menino. Em @mateusehdemais, os seguidores veem que a vida do pequeno é igual a de toda criança e conseguem informações. "A ideia era mostrar a pessoa e não a síndrome. A gente recebe e-mails de pais de todo o mundo que viram que a vida do filho poderia ser normal, sem tantas restrições", diz a mãe.
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