Brasília. Um dia antes da votação da abertura do impeachment no plenário da Câmara, a presidente Dilma Rousseff cancelou a visita que faria na manhã deste sábado (16) ao Ginásio Nilson Nelson em Brasília, onde se encontraria com representantes dos movimentos sociais que são contra o seu afastamento.
Dilma quer dedicar o dia à consolidação de seus votos e, por isso, recebeu, no Palácio da Alvorada, líderes de vários partidos, um a um. A presidente, no entanto, enviou uma carta para justificar sua falta. No texto, lido pela secretária especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, Dilma afirma que vai dialogar com todos os parlamentares que se mostram sensíveis à reprovação o pedido de afastamento dela.
“O que estará em jogo é o respeito às urnas e à vontade soberana do nosso povo. Estarão em jogo direitos e conquistas sociais que o Brasil alcançou nos últimos anos”, escreveu, reiterando que “o impeachment é golpe” e que “não cometeu crime nenhum de responsabilidade”.
Lula marca presença
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia decidido não ir ao evento, no entanto, vai ao acampamento dos representantes dos movimentos sociais no lugar de Dilma para animar a militância e fazer com que o grupo permaneça nas ruas “gritando contra o golpe”.
O ato reúne na área central de Brasília movimentos contra o impeachment como a Central Única dos Trabalhadores, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, União Nacional dos Estudantes e Central dos Trabalhadores Brasileiros. Os manifestantes ocupam uma tenda branca montada no estacionamento do ginásio, mesmo local onde estão acampados os manifestantes da Frente Brasil Popular.
Guerra de números
Depois, Lula voltará ao hotel onde está hospedado para continuar recebendo deputados, na tentativa de conquistar mais votos ou assegurar novas ausências na votação. Há uma guerra de números e o governo comemora o fato de ter conseguido virar alguns deles – assegura, agora, que tem os 172 mínimos necessários. Mas a oposição também garante ter as 342 adesões pelo impedimento.
O que demonstra a preocupação de lado a lado é que Dilma e seus ministros vão ficar nos Palácios do Planalto e Alvorada conversando com parlamentares. Ao mesmo tempo, o vice-presidente Michel Temer, que ia ficar em São Paulo acompanhando a votação, decidiu voltar para Brasília para fazer suas articulações.
Sem garantia segura de vitória, a equipe de Dilma decidiu antecipar articulação para a etapa mais importante do processo, o julgamento no Senado, e já busca votos de senadores. A gestão petista reconhece que a situação é crítica, mas um assessor presidencial diz que a presidente Dilma “não jogou a toalha ”.
Na véspera da votação do impeachment, interlocutores da presidente vão reforçar a investida num bloco de deputados de partidos nanicos para conseguir as 172 adesões necessárias para barrar o avanço do processo de impedimento na Câmara.
Um ministro do Palácio do Planalto disse que iria se encontrar logo cedo com a deputada Renata Abreu (SP), vice-presidente do PTN. A parlamentar permaneceu na lista dos indecisos até esta semana, quando articulou a formação de um grupo com PHS, PROS, PSL e PEN e anunciou 26 votos a favor do impedimento. Na sexta-feira, 15, porém, o governo conseguiu reverter votos e ganhar fôlego na disputa.
‘Conspiração’
A presidente Dilma Rousseff acusou, em um artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, aqueles que conduzem seu processo de impeachment no Congresso de quererem alcançar o poder para escapar das acusações de corrupção que pesam contra eles mesmos.
“Será que estes que lideram o golpe permitirão que o combate à corrupção continue? Qual a sua legitimidade? O que querem dizer quando anunciam a necessidade de impor sacrifícios à população? O governo de salvação que prometem será para salvar o Brasil ou a eles mesmos?”, questionou a presidente, que nos últimos dias acusou seu vice-presidente, Michel Temer, e o chefe da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, de conspirarem contra o governo.
Ministra foca em indecisos
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, tem feito um apelo a deputados indecisos para votar contra o impeachment da presidente. Desde a quinta-feira (14), a ministra conversou por telefone e se reuniu com mais de 30 deputados para lhes pedir que votem no domingo (17), em favor de Dilma. Nesta sábado, Kátia deve participar de um almoço para fazer contatos. A ministra não restringe a sua atuação à bancada ruralista e tem procurado tanto membros de seu partido quanto do PTB, do PR e do PSD. No PMDB, ela almoçou ontem com o ex-titular da Secretaria de Aviação Civil, o deputado Mauro Lopes (MG), que disse que só decidirá seu voto sobre o assunto no domingo.
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