domingo, 3 de abril de 2016

Orfanato exerce missão há 100 anos

Seguindo princípios de seu fundador, instituição acolhe e educa crianças ( Fotos: Elizangela Santos )
Um casarão, que pertenceu à fazenda do médico Floro Bartolomeu, principal aliado do Padre Cícero, cumpre sua missão, mantendo a originalidade do prédio
Juazeiro do Norte. Eram apenas crianças. Meninas vítimas da seca, de estados do Nordeste, que tinham como esperança o acolhimento do Padre Cícero. Aos poucos chegavam os órfãos na casa do sacerdote, entregues por famílias do Cariri e de outros lugares.
Muitos, por não terem condições de criar, por conta das secas avassaladoras do sertão nordestino e outros por terem perdido os pais e estarem sozinhos no mundo. A ideia de criar um lugar para abrigar os meninos e meninas surgiu em 1916, com a criação do Orfanato Jesus Maria José. Hoje, com o projeto "Construindo Cidadania", o trabalho social continua com mais de 40 crianças de áreas vulneráveis da cidade.
No início, eram as beatas que cuidavam dos pequenos. Os meninos aprendiam um ofício à tarde, e as meninas ficavam em casa para receber instruções sobre as prendas domésticas. Coisas do século passado. O resultado de tudo isso é que surgiu, ao mesmo tempo, o primeiro lugar de aprendizado de algum ofício para a vida na cidade. "A intenção do Padre Cícero, era preparar esses meninos para a vida", afirma a irmã Maria Aldenira Máximo, uma das coordenadoras do centenário do Orfanato, que acontece de 4 a 8 de abril. A comemoração é uma forma também de reaproximar os ex-alunos da instituição, que ao longo da sua trajetória passou por diversas mudanças.
Religiosas
A primeira delas, veio em 1935. Com muitas crianças em sua própria casa, na Rua São José, e as beatas já cansadas da árdua tarefa, além da idade mais avançada, o padre decidiu então repassar a missão para a Congregação das Filhas de Santa Teresa. Fez isso, um ano antes de seu falecimento, em 1934. Mas, apenas as meninas foram ocupar o novo local, um casarão na fazenda do médico Floro Bartolomeu, principal aliado do Padre Cícero. Os meninos ficaram sob a tutela dos salesianos. A irmã Aldenira até diz que no local eles chegaram a se encontrar por várias vezes. A originalidade do prédio, salvo pequenas reformas no local, tem sido mantida.
Ao longo desses 100 anos, ela afirma que o orfanato se manteve pela providência divina. Foram principalmente as doações. E, neste centenário, que será comemorado ao longo de 2016, a meta é reforçar esse caráter de filantropia com o auxílio das pessoas. Ex-alunos e ex-professores estão sendo contatados, para se unirem a esse trabalho.
Foi o primeiro orfanato de Juazeiro do Norte, fundado no ano de 1916, justamente por conta das crianças órfãs na seca. Elas vinham em romarias e ficavam desabrigadas. Os pais não tinham condições para criá-las e viam no sacerdote uma pessoa de confiança, que poderia dar um futuro melhor para os seus filhos. Segundo a irmã Zenilda Maria, quando o local foi criado, passou a existir inicialmente na Rua das Flores.
Mudanças
O trabalho continuou por vários anos, com internos, e, nos anos de 1990, se tornou escola. A parceria com os governos estadual e municipal para manter em funcionamento a instituição durou mais alguns anos. A burocracia da tutela das crianças, o processo árduo para adoção, além das dificuldades de manutenção, com doações escassas, não auxiliou muito na continuidade dos trabalhos.
Segundo a irmã Aldenira, o funcionamento atual veio com a proposta de atuar de uma forma de contra turno das escolas. Assim, conta com educadoras, por meio de uma parceria com o Sesc, além de duas psicólogas voluntárias. Ao retornar para casa, em 1994, a irmã Zenilda Maria decidiu trazer novamente as crianças para as instalações, que pode abrigar até 200 delas, divididas em dois turnos. Foi dado o espaço para brincar e o convite a três de trazer mais amiguinhos. No outro dia eram 40.
Compromisso
Para fazer parte dos trabalhos, as crianças devem estar matriculadas na escola convencional. Mas, no orfanato, elas têm acesso a aulas de música e teatro. Podem fazer parte do coral, aprender teclado, violão, banda de lata, entre outros ofícios. A responsabilidade das irmãs é algo que chama a atenção e uma das mais experientes, a diretora, ressalta a forma que tem que ser conduzido um processo com crianças que saem muitas vezes de ambientes conflituosos, principalmente nas próprias famílias. "Aqui elas têm a oportunidade de vivenciar um momento diferenciado, num ambiente mais tranquilo", afirma.
Na coordenação do centenário, a irmã Aldenira diz que esse trabalho teve uma continuidade dentro dessa missão do Padre Cícero. Mesmo sem a função inicial de um orfanato, ela diz que a visão social permanece, além do acolhimento, uma filosofia de trabalho desenvolvida pelo sacerdote, com a mesma dimensão e o objetivo de atender a criança pobre.
O resultado disso, são milhares de crianças que já tiveram a oportunidade de passar pelo local, com suas vidas transformadas pela assistência social de uma ação que resiste ao tempo. No orfanato, são atendidas principalmente crianças e adolescentes dos bairros Santa Tereza, Parque Antônio Vieira, Salesiano e Aeroporto, de 7 a 15 anos.
A irmã Aldenira reforça o apelo durante nas comemorações do centenário, neste ano, pela generosidade das pessoas. O sentido é fortalecer e garantir o bom funcionamento o espaço. (E.S.)
Cidadania
"O Padre Cícero era um homem inspirado pela sabedoria divina. Ele trabalhava as crianças para serem cidadãos" Zenilda Maria- Religiosa

Mais informações:
Orfanato Jesus Maria José
Rua Coronel Antônio Pereira, 64
Bairro Salesiano
Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 3511-1692

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