quinta-feira, 26 de maio de 2016

Negociação divide artistas

Ocupação do Iphan em Fortaleza: órgão ligado à esfera federal segue com artistas acampados e programação cultural aberta ao público ( Foto: Nah Jereissati )
Com a restituição do Ministério da Cultura, a classe artística está dividida. De um lado aqueles que se dispõem a dialogar com o novo ministro. Do outro, aqueles que consideram que sentar à mesa com o novo ministro, Marcelo Calero, é legitimar um governo que, para eles, é ilegítimo.
Na última terça (24), o movimento Ocupa MinC divulgou nota onde repudia entidades representantes de grupos da classe artística que disseram que vão dialogar com o novo ministro, Marcelo Calero: a APTR (Associação de Produtores de Teatro), o Procure Saber e o GAP (Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música).
Para o movimento, trata-se de iniciativa "oportunista e corporativista", feita "à revelia da grande mobilização nacional dos mais diversos segmentos da diversidade cultural".
"Repudiamos qualquer apoio ou tentativa de diálogo por parte da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), do Procure Saber, do GAP Pró-Musica (Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música) e de qualquer outra entidade, segmento ou artista que venha a negociar com esse governo golpista, utilizando-se da luta plural e democrática travada nas Ocupações. A história lhes reservará espaço ao lado dos usurpadores da democracia!", diz a nota.
Prédios ligados ao MinC seguem ocupados em ao menos 18 capitais. O movimento Ocupa MinC repudia o governo interino como um todo e não aceita qualquer tipo de diálogo. Ele tem o apoio de nomes de peso.
"A legitimidade desse Ministério da Cultura é a mesma do governo do qual ele faz parte: nenhuma. Temer erra se acha que vai comprar o apoio da classe artística ressuscitando o MinC. Não à toa seu convite para o ministério foi recusado por todo e qualquer representante da classe. Esse governo é uma farsa e a existência de um Ministério da Cultura não o torna mais legítimo", diz o humorista do Porta dos Fundos e colunista da Folha de S.Paulo Gregorio Duvivier.
Crise aguda
Em um vídeo publicado na página do movimento na internet na última segunda (23), Marieta Severo, Enrique Díaz, Mariana Lima, Patrícia Pillar, Andréa Beltrão, Otto, Soraya Ravenle e outros artistas famosos manifestam apoio aos protestos. "A luta pela democracia não tem data para terminar", diz Marieta no vídeo, editado pelo grupo Mídia Ninja. No último dia 19, Andréa Beltrão disse à reportagem que sua posição pessoal é contrária a qualquer sinal de legitimação do governo.
"É um momento de crise aguda para a cultura. As pessoas estão tentando fazer o que podem, afinado com o discurso de cada um. Não é hora de condenação, de fazer julgamento de valor, mas eu acho que o melhor a fazer é não legitimar esse governo que está aí. Eu não aceito essa troca. Essas pessoas que estão lá não me representam. Vamos resistir bravamente. Não tem problema termos opiniões divergentes, não acho que é preciso ter um discurso único. Mas é preciso uma atitude única e poderosa". Servidores da cultura foram a Brasília nesta terça (24) para a posse de Calero. Luciana Muniz, presidente da Associação de Servidores da Biblioteca Nacional, disse que eles conversariam com o novo ministro. "Dialogar não significa apoiar, mas abrir espaço para entender o que está acontecendo e que caminhos esse ministério vai tomar. Estamos num processo de encontrar consenso, mas seremos críticos, como éramos no governo Dilma, e vamos permanecer nas nossas pautas".
Mobilização
Ocupações de prédios públicos ligados ao Ministério da Cultura já acontecem em cidades de todos os 26 Estados e também no Distrito Federal, conforme anunciou o movimento do Rio de Janeiro nesta terça (24). As manifestações começaram no último dia 13 em Curitiba.
Mesmo após o recuo de Temer, que recriou o MinC, participantes decidiram manter as ocupações contra o governo que consideram ilegítimo. Na maioria das capitais, organizadores das ocupações pedem, pela internet, doações de água, comida, cobertores e utensílios.

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