sábado, 4 de junho de 2016

Camilo não gostou da visita de Falcão ao Ceará

Camilo e Roberto Cláudio têm intensificado as visitas a obras e a eventos juntos. No último discurso Camilo disse que Roberto é o seu prefeito ( FOTO: FABIANE DE PAULA )
O anúncio solene, chancelado pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, no último fim de semana, da candidatura da deputada federal Luizianne Lins (PT) à Prefeitura de Fortaleza, no pleito deste ano, não alterou o posicionamento do governador Camilo Santana, do mesmo partido, de se incluir no rol de patrocinadores da candidatura à reeleição de Roberto Cláudio (PDT), e dela ser um dos atores ativos, nos comícios e na propaganda eleitoral, como aqui já reportamos, em várias oportunidades.
Camilo se magoou, embora não tenha feito manifestação pública, não apenas com a decisão do diretório municipal petista, tomada no sábado passado, mas, também, e especialmente, pela participação de Rui Falcão que veio a Fortaleza especialmente para o evento.
Ao presidente nacional do PT, no início deste ano, Camilo fez observações quanto à importância de manutenção da aliança com o PDT, no pleito municipal de Fortaleza, não só em razão dos apoios desta agremiação a outras candidaturas municipais petistas, em capitais e cidades importantes brasileiras, como pelo fato de ser imprescindível o apoio das lideranças pedetistas, neste Estado, à sua pretensão de reeleição em 2018.
Desconsiderar essas ponderações, e ainda estar presente ao evento por ele repudiado, o motivou, por certo, a reavaliar sua condição de filiado ao PT. A presença de Falcão no encontro municipal petista noticiado, por irrelevante, no contexto externo do ambiente do partido, foi entendida como um afronta ao seu filiado mais importante no Estado, um dos poucos governadores eleitos pela sigla e, no momento crucial para a presidente afastada Dilma Rousseff, um dos mais ativos na defesa dela.
Desconhecer
O comportamento do deputado José Guimarães, no episódio, também não agradou ao chefe do Executivo estadual. Ele está para o diretório estadual como Luizianne é para o municipal, em termos de força política. Aliados de Camilo esperavam mais empenho do deputado em apoio à tese do governador, até por ser, dos petistas cearenses, o mais bem aquinhoado com posições na administração estadual.
Camilo, a despeito das informações veiculadas por correligionários de Falcão, não o recebeu quando ele aqui esteve no último fim de semana do mês passado. Ao contrário, disse desconhecer sua presença, posto dela não ter sido informado.
Da mesma forma, passado uma semana do episódio, o governador não tratou da questão de candidatura do PT com qualquer dos filiados ao partido, uma demonstração de ter sido, realmente, consolidada a sua ruptura, não só com o grupo de Luizianne, com quem de há muito já não dialogava, mas, também agora, com o presidente nacional do PT.
No primeiro grande evento público de que participou, após o anúncio da candidatura de Luizianne, Camilo foi pródigo em elogios a Roberto Cláudio, na presença de centenas de industriais e empresários cearenses, na última quinta-feira.
Resultados
Ele terminou a saudação chamando-o de "meu amigo, meu prefeito", parecendo ter combinado com o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará - Fiec, Beto Studart, que antes havia se dirigido a Roberto como "meu prefeito, meu querido amigo. Fortaleza lhe quer por mais muitos anos".
Roberto Cláudio não diz, mas demonstra ter gostado da indicação do nome de Luizianne Lins. A polarização que acontecerá, naturalmente em razão da disputa se dar entre uma ex-prefeita com o atual, lhe permitirá falar mais dos resultados da sua gestão para fortalecer a comparação entre o feito de 2013 até aqui com o realizado em 8 anos de Luizianne.
Correligionários seus, no entanto, não escondem a satisfação de ter passado o pesadelo da possibilidade de uma aliança desinteressante, caso Camilo tivesse sua tese vencedora. Ademais, Luizianne poderá ser o alvo dos demais candidatos, também pelo fato de ela ser o principal nome que de fato encarnará a oposição ao atual prefeito, aliada ao fato de ser, no quadro até agora posto, a postulante com maior poder de combate.
Pleito passado
Em 2012, nove candidatos disputaram a Prefeitura da Capital, mas apenas cinco se destacaram no primeiro turno: Roberto Cláudio, 291.740 votos; Elmano de Freitas, 318.262 votos; Heitor Férrer, 262.365 votos; Moroni Torgan, 172.002 votos e Renato Roseno, 148.122 votos. Os demais: Marcos Cals, Inácio Arruda, Francisco das Chagas Gonzaga e André Ramos ficaram abaixo dos 30 mil votos. Em outubro próximo, o número de candidatos pode ser o mesmo, e só uns cinco deverão se sobressair.
O quadro posto, dependendo apenas do posicionamento do PMDB, não sofrendo modificações mais significativas, sinaliza para uma polarização entre Luizianne e Roberto Cláudio. O deputado Wagner Sousa vai para a sua primeira disputa majoritária empolgado com o sucesso eleitoral nas duas últimas disputas de cargos proporcionais de vereador da Capital e deputado estadual. Não tem a empatia, a desenvoltura, e o porte de Moroni Torgan, candidato algumas vezes a prefeito, tinha boa votação, mas só conseguia sucesso eleitoral nas disputas para a Câmara Federal, onde hoje está. Portanto, Wagner será uma incógnita.
Heitor Férrer, ao contrário da vez anterior, quando ficou em terceiro lugar e saiu dizendo que tinha sido pilhado, tanto que recorreu à Justiça para participar como o terceiro nome no segundo turno da disputa, quando lá já estavam Elmano e Roberto Cláudio, não conseguiu ainda tornar empolgante a sua postulação. O PSB, para onde foi depois de se desfiliar do PDT, continua buscando aliados, mas não tem sido fácil. A sinalização da direção nacional do PRB é uma luz. Por fim, Renato Roseno. Ele, sem dúvida, pelo histórico das campanhas do PSOL, em Fortaleza, ficará no rol dos cinco mais votados.

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