Adicionar Sérgio Machado. |
Desde que voltou para Fortaleza, quando desembarcou no último dia 24 no Aeroporto Pinto Martins e passou quase imperceptível pelo saguão, José Sergio de Oliveira Machado, 69, pouco sai de casa para encontrar amigos e políticos. Era o costume quando regressava do Rio de Janeiro, onde presidiu a Petrobras Transporte S.A.
A delação premiada do ex-apadrinhado e hoje desafeto Renan Calheiros, presidente do Senado, não causou destroços apenas no cotidiano de caciques políticos e empresários corruptos do País. O efeito tsunami, de cada revelação de Machado, também comprometeu relações afetivas e alterou para sempre a vida de uma das famílias mais tradicionais e de poder econômico hereditário do Ceará. Brigas, rompimento de casamento e sentimento de ter convivido com o inimigo vieram à tona.
De uma hora para outra, a mansão da família Machado, nas Dunas, bairro nobre de Fortaleza, deixou de ser residência para se transformar, a partir do fim deste mês, numa prisão domiciliar. Era isso, a tornozeleira eletrônica e alguns benefícios ou um presídio comum para ele e os filhos Daniel, 40, Serginho, 38 e Expedido, 31.
Todos envolvidos na sangria da Transpetro e alcançados pelas investigações da Lava Jato. O pai ficará preso na própria casa por três anos e, depois, será acompanhado pela Justiça por até 20 anos.
Uma “cadeia” de luxo, é fato, e cheia de privilégios para quem desviou pelo menos R$ 75 milhões da subsidiária da Petrobras. Bem diferente dos xadrezes do superlotados do sistema carcerário brasileiro. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), previsto na Lei das Execuções como regime domiciliar diferenciado.
Uma concessão da legislação para substituir o regime fechado comum, em caso de condenação, a que Sergio Machado e os rebentos seriam submetidos, caso não optassem pela delação que atingiu, até agora, mais de 20 políticos de partidos diferentes. Entre os nomes, o de Michel Temer (PMDB), presidente em exercício do Brasil.
A mansão/prisão tem regras diferenciadas, segundo determina o acordo de colaboração premiada firmado entre Machado e a equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mas não deixa de ser um vexame para o clã que se orgulhava, até então, de ter tido em sua história um ministro do presidente João Goulart, o pai Expedido Machado e de ter eleito, o próprio Sérgio Machado, deputado federal e senador da República pelo PSDB, sem contar o histórico empresarial na vida do Estado.
O confinamento
Segundo as normas definidas pelo MPF, a casa de Machado não será mais lugar de festas sociais, de encontros políticos e lugar de receber visitas que não constam numa lista de 27 pessoas. São familiares que não romperam e amigos que não se afastaram mesmo após descobrirem que Sergio Machado aumentou o patrimônio particular roubando a Transpetro. Machado, que terá a companhia da esposa (ela não é uma presa domiciliar), será monitorado durante 24 horas via informações enviadas pela tornozeleira eletrônica colocada na perna direita do político que já foi candidato ao governo do Ceará.
Sergio Machado aguarda para esses dias, em Fortaleza, a ordem judicial que o transformará em detento de luxo. Até 2018, ele terá o benefício de oito saídas por seis horas contínuas da mansão. Um dos indultos, previsto na página 34 do acordo de colaboração, é a noite de Natal deste ano. Além disso, o delator terá o direito de sair no dia 29 do próximo mês. Sem deixar a região Metropolitana de Fortaleza.
No ano que vem, ele deixará a prisão domiciliar em cinco datas, incluindo o sábado de Carnaval e o Natal de 2017, e uma saída em 2018.
(Demitri Tulio/O Povo
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