quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Celebrando o poeta


No alto, o músico e poeta Belchior: em 2016, ele recebe uma série de homenagens pelos seus 70 anos e 40 anos de "Alucinação", seu segundo álbum; acima, a banda sobralense Trovador Eletrônico, interpretando o repertório do compositor
Este ano é tempo de homenagens ao músico e poeta cearense Belchior. Registrado como Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o artista, natural de Sobral (CE), hoje completa 70 anos de idade. As celebrações em 2016 ocorrem a pretexto, também, do aniversário de 40 anos do lançamento de "Alucinação" (Polygram), segundo e mais influente álbum de sua discografia, reunindo clássicos como a faixa-título, "Apenas um rapaz latino-americano", "Alucinação", "A Palo Seco" e "Como nossos pais" (que tornou-se um marco da MPB, na voz de Elis Regina).
Na próxima sexta (28), no Sindicato dos Bancários (Centro), haverá mais um evento de lançamento do livro "Para Belchior com amor", organizado pelo escritor Ricardo Kelmer. A publicação foi lançada no último dia 7, no Theatro José de Alencar, com a presença de parte dos 14 autores envolvidos na homenagem e músicos cearenses que interpretaram a obra do homenageado.
O ciclo de lançamentos do livro - até então, foram seis eventos - faz parte do projeto "Belchior Sete Zero" (facebook.Com/belchiorsetezero), que ainda reúne a agenda das exibições do espetáculo solo "De olhos abertos lhe direi", escrito, encenado e dirigido por Ricardo Guilherme. O ator é um dos 14 autores de "Para Belchior com amor", para o qual escreveu um texto inspirado na música "Como nossos pais".
"Primeiro, convidei autores que tivessem uma relação afetiva com a obra do Belchior. Alguns são amigos, já conhecia. Outros passei a conhecer por conta do projeto, como o Thiago Arrais e o Joan Edesson de Oliveira, lá de Sobral", observa Ricardo Kelmer. O escritor enfatiza que "muitos outros autores de talento ficaram de fora. Não puderam participar por conta da limitação de espaço e de tempo", detalha.
Kelmer, 52, começou a se interessar pela obra de Belchior ainda na adolescência. Ele conta que, de pouco tempo pra cá, começou a perceber os aspectos literários das composições do sobralense. "E entendi que ele usava música para expressar a sua poesia, sua veia literária. Não era o contrário. Ele usava a melodia para expressar ideias, por meio de palavras muito bem trabalhadas", descreve o escritor.
Ausência
Sobre Belchior não se encontrar mais na ativa e ter se retirado da vida pública, Ricardo Kelmer não vê nenhum problema em si, e procura refletir a homenagem, independente da participação, ou não, do homenageado. O escritor ainda evidencia a força da obra do músico cearense.
"Ele tem todo direito de fazer o que quiser da vida dele. A gente faria a mesma homenagem, se ele ainda estivesse participando. A obra do Belchior adquiriu uma atualidade gritante. Não só em relação ao nosso momento político: mas ao consumismo; ao sucesso fácil e a todo custo; a questão da opressão do sistema sobre os sonhos e anseios de liberdade", percebe Kelmer.
Para o escritor, a obra do sobralense resvala, através das poesias, na "violência, na solidão das grandes cidades. A tecnologia que não nos salva, ao contrário do que a gente imaginava. Tudo isso grita muito forte atualmente", reforça o organizador.
Segundo Léo Mackellene, vocalista do projeto "Trovador Eletrônico", reunindo músicos de Sobral que têm apresentado o espetáculo "Canto Torto", em homenagem ao álbum "Alucinação", a questão sobre a ausência de Belchior em relação às celebrações de 2016 é curiosa.
"Me fiz essa pergunta, depois que fiz o show no Theatro José de Alencar (no último dia 23 de julho). Ficamos impactados demais com o público cantando as músicas. De certa forma, a gente reforça a imagem, um ícone, mas na realidade eu não sei se ele ficaria feliz com isso não (risos). Até porque, no caso dele, parece ter percebido os conchavos e os bastidores do mainstream (da música)", reflete Mackellene.
Além do Ceará
Com o repertório de "Alucinação" em destaque, o grupo - formado por Léo Mackellene, Fernando Madeira (bateria), João Marcos (baixo), Anderson Freitas (teclado), Kelvin Mota e Robson Emanuel (guitarra e violão) - segue com agenda de shows para além de Sobral e Fortaleza. Na próxima sexta (28), eles se apresentam em Sousa (PB), no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).
Na sequência, haverá shows no CCBNB de Juazeiro do Norte/CE (sábado, 29), e na Fundação Casa Grande Nova Olinda/CE (domingo, 30).
Mackellene revela que haverá lançamento do livro "Para Belchior com amor" em Sobral, com data e local ainda a confirmar. Para o músico, o "Trovador Eletrônico" ganha espaço também por força da obra de Belchior em sua terra natal. "Aqui em Sobral, nos bares, em todo lugar, a música dele toca muito. No último (16), no aniversário do Maestro Brasil, o evento aconteceu todo com o repertório do Belchior", situa o vocalista.
Também professor de Letras na cidade do interior cearense, Léo Mackellene avalia a relevância da obra do sobralense para refletir o momento político do País (incluindo o impeachment de Dilma Rousseff, o mandato de Michel Temer até 2018 e as disputas extremistas).
"Vivemos um momento chave no País, e a canção dele dialoga bastante com esse momento. Quando a gente faz o show com essas canções, divulgamos a ideia da 'alucinação com as coisas reais'. É uma revolução interior, silenciosa", percebe.
Indagado se o Trovador Eletrônico ainda tocará após as efemérides deste ano, o músico revela que o projeto "Outros Cearenses" continuará. Este homenageia o repertório do Pessoal do Ceará (Ednardo, Fagner, entre outros).
Homenagens
Sexta (28)
18h30 - Lançamento de "Para Belchior com Amor", no Sindicato dos Bancários de Fortaleza (Rua 24 de Maio, 1289, Centro). Haverá ainda show com Erickson Mendes e Edinho Villas Boas; exposição das capas dos discos autorais de Belchior, e vídeos. Entrada franca.
Sábado (29)
19h30 - Show "Canto Torto", com o projeto Trovador Eletrônico (de Sobral/CE), no CCBNB de Juazeiro do Norte/CE (Rua São Pedro, 337, Centro). Entrada franca.
Domingo (30)
19h - Show "Canto Torto", com o projeto Trovador Eletrônico (de Sobral/CE), na Fundação Casa Grande de Nova Olinda/CE. Entrada franca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário