Barbalha. Nova espécie de caranguejo foi descoberta no território do Geopark Araripe. É a primeira já descrita tipicamente no Semiárido e que pode ser a chave de um quebra-cabeças que conta a evolução da paisagem na América do Sul. O crustáceo recebeu o nome científico de Kingsleya attenboroughi. O caranguejo já foi descoberto em condição de ameaça de extinção. A partir de agora, deverá ser iniciado um trabalho estratégico para a conservação da espécie. Nesta quarta-feira, os pesquisadores darão uma entrevista coletiva, às 15 horas, no auditório da sede do Geopark Araripe, em Crato, para falar sobre o achado.
Trata-se de um caranguejo de água doce. O material foi descrito pelos pesquisadores Allysson Pinheiro, da Universidade Regional do Cariri (Urca); e Willian Santana, da Universidade do Sagrado Coração (USC) em Bauru, São Paulo. O crustáceo foi encontrado no distrito de Arajara, em Barbalha, e descrito e ilustrado no artigo "A new and endangered species of Kingsleya Ortmann, 1897 (Crustacea:Decapoda: Brachyura: Pseudothelphusidae) from Ceará, northeastern Brazil", em tradução livre "Uma nova e ameaçada espécie de Kingsleya Ortmann, 1897 (Crustacea: Decapoda: Brachyura: Pseudothelphusidae) do Ceará, Nordeste do Brasil".
Segundo os pesquisadores, a espécie foi descoberta já ameaçada de extinção, assim como o Soldadinho-do-Araripe, em situação crítica de desaparecimento. O pássaro é endêmico da mesma região, e foi inserido na Lista Vermelha Internacional da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em 2015, e pela lista oficial brasileira do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O professor William Santana explica que o Kingsleya attenboroughi existe em pouquíssimos lugares, com um número reduzido de espécimes e, por causa do impacto do ser humano ao meio em que ele vive, é considerado ameaçado de extinção.
Importância
O caranguejo foi coletado durante o mês de abril, no Córrego do Arajara e em pequenos cursos de água da região. Recebeu esse nome em homenagem ao naturalista inglês, David Attenborough, que completa 90 anos em 2016, considerado o padrinho do Soldadinho-do-Araripe. De acordo com o professor Allysson Pinheiro, coordenador do Laboratório de Crustáceos do Semiárido, da Urca, esse achado ratifica a importância da região para a biodiversidade, além de reforçar o valor do Geopark Araripe e da Floresta Nacional do Araripe (Flona), além da Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe (APA-Araripe).
Ele afirma que, para a realização do trabalho, foram importantes os apoios da Urca, USC, Governo do Estado do Ceará por meio da Fundação Cearense de Apoio Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece); além da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O professor Allysson afirma que, possivelmente, esse caranguejo já pode estar muito mais ameaçado do que propriamente o Soldadinho-do-Araripe. "Ele só pode estar na água. O soldadinho também tem uma relação com a água, mas tem condições de seguir para outro lugar, o que não ocorre com o caranguejo", explica.
O coordenador afirma que, ao longo dos anos, vários dos corpos de água foram manejados, modificados e secaram por um tempo. Isso leva a crer que as espécies encontradas só estão em alguns pontos onde há água há milhares de anos.
No Cariri esse é o primeiro de água doce, e outro foi visto em Ipu, na Chapada da Ibiapaba. Uma espécie amazônica, que conseguiu chegar até aqui, com os resquícios do processo de modificação da paisagem no Semiárido. "Com as alterações climáticas, ele ficou lá naquela ilha, e continua sendo a mesma espécie, mas em processo de modificação", relata.
Para Allysson Pinheiro, esse é um caranguejo diferente de todos os que foram descritos anteriormente. O artigo aborda justamente essa questão e destaca as características principais, nessa espécie, como grupo de água doce. A ornamentação de espinhos e as modificações na carapaça estão entre essas diferenciações do espécime, conforme os relatos dos pesquisadores.
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