Banabuiú. Com suas mais de 100 variações já identificadas, o câncer é uma doença silenciosa, mas tem um poder devastador na vida dos portadores. A maioria tem a rotina de vida inevitavelmente abalada, a autoestima prejudicada. Em alguns, o problema, que já é grave, se converte em algo ainda pior: a depressão. A ajuda para amenizar estes efeitos tem vindo de programas que trabalham o resgate do otimismo e da qualidade de vida de pacientes oncológicos. Trabalhos desenvolvidos pelas secretarias de saúde dos municípios também têm contribuído.
Em alguns casos, o trabalho é desenvolvido pelas próprias secretarias municipais. É o que acontece neste Município do Sertão Central, que criou, há quase um ano, o Projeto de Apoio aos Pacientes Oncológicos (Proapo), que trabalha o psicológico e emocional dos pacientes.
Patrícia Almeida, secretária da Saúde de Banabuiú, explica que o Proapo nasceu da necessidade de articular algo em prol dos pacientes, dado o grande número de casos desenvolvidos por moradores da cidade. "Vimos, a partir da quantidade de pacientes com câncer, que a gente precisava fazer alguma coisa. Isso se converteu em encontros dinâmicos, com informações sobre a doença, sobre como lidar, como relaxar diante do problema, como ter prazer em viver, como interagir e conviver", diz.
Resgate
Os encontros são quinzenais. As reuniões são supervisionadas por uma equipe multidisciplinar com psicólogos, assistentes sociais, educadores físicos e fisioterapeutas. Patrícia diz que o número de participantes chega a 15. A cada reunião são trabalhadas atividades dentro de um tema específico. Pacientes que estejam em tratamento e que já superaram a doença participam.
Em todos eles, conta, a emoção é uma garantia. "Desenvolvemos atividades lúdicas, como desenhos, pinturas, conversas sobre nossas vidas e dificuldades e, um dia, um deles chorou porque disse que aquela era a primeira vez que ele tinha a oportunidade de desenhar na vida. Não tenho dúvidas que este é um trabalho de resgate da vontade de viver", enfatiza. "Houve uma vez que promovemos um dia de beleza com o patrocínio de uma marca de cosméticos. Foi lindo! Ver cada um alegre, esquecendo daquele mau por um dia que seja, é recompensador", completa.
Homens e mulheres estão entre os integrantes do Proapo. Neste mês de outubro, que ficou colorido de rosa para simbolizar a luta contra o câncer de mama, o grupo tem agendado trabalhos ainda mais específicos. "Estamos com uma agenda de iniciativas que abrange não só os que já participam do Proapo, mas para mobilizar mulheres da cidade", diz a secretária.
Impacto
Câncer vem do grego Karkinos. A palavra foi batizada pelo médico grego Hipócrates, considerado o Pai da Medicina. Ele a lançou depois de ver um tumor com vasos sanguíneos ao redor, que lembrava um caranguejo. Hoje, já há uma nova forma de encarar o diagnóstico. Os tratamentos estão mais modernos no combate a doença e ajudam a curar cerca de 70% dos casos. Mesmo assim, quem descobre ser portador de câncer tem as estruturas emocionais abaladas. "Na hora, você não sabe o que fazer. Bate um desespero porque você construiu uma vida aqui com filhos, família, trabalho e acha que o câncer vai tirar tudo isso de você", diz João, nome fictício de um dos pacientes que pediu para não ter a identidade divulgada.
Graças ao trabalho do Proapo, ele vem conseguindo recuperar o ânimo. "Eu me sinto muito bem com esse trabalho. É uma coisa tão pequena, que muita gente não percebe, mas que ajuda muito. A recuperação de um câncer é muito lenta, íntima e silenciosa. Cada ação nos ajuda muito", afirma.
Segundo levantamento da Agência Internacional para a Pesquisa de Câncer, até 2030 cerca de 22 mi de casos devem surgir. Entre os homens, o que atinge a próstata é o que faz mais vítimas. Já entre as mulheres é o tipo que atinge a mama que faz mais casos. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silveira (Inca) é que 21.120 novos casos surjam neste ano no Estado.
Amparo
Outros municípios também se destacam pelo trabalho de atenção a pacientes oncológicos, como em Quixeramobim, onde a Associação Luz e Vida de Apoio à Pessoa com Câncer oferece apoio a pessoas com a doença. O grupo foi fundado há quase três anos e atualmente acompanha 23 pessoas, além de acompanhar pessoas em visitas domiciliares. "O grupo dá assistência encaminhando pessoas para institutos de tratamento. Quando alguém tem dificuldade para pagar um exame, embora a gente não tenha ajuda de nenhum governo, ajudamos a financiar, e desenvolvemos palestras, encontros recreativos, tudo que possa trazer de volta a alegria abalada", diz Liduina Leite, fundadora do Luz e Vida.
A associação não tem sede própria, mas está prestes a iniciar a construção, depois de ganhar um terreno doado pela Prefeitura, os serviços de topografia e o projeto de arquitetura. No espaço, Liduina diz que terão mais chances de desenvolver novas atividades. "Na nova sede vamos ter salas para fazer oficinas de músicas, de computação, tanto para portadores como para a população, e queremos fazer um dormitório porque hoje as pessoas que tem exames em Fortaleza e que moram nas localidades, chegam a dormir na praça porque o ônibus da Prefeitura para levar os pacientes sai às 2h da madrugada. Tendo um lugar de amparo na sede vai ficar mais fácil", afirma Liduina.
O grupo atua com 50 colaboradores, entre advogados, assistentes sociais, psicólogos e firmou parcerias que garantem descontos de até 50% em medicamentos em farmácias locais e em Fortaleza. Aurineide Monteiro desenvolve palestras de Assistência Social entre os doentes. A atividade, para ela, traz um conforto inigualável.
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