sábado, 26 de novembro de 2016

Atividades começam a decair no Orós

As regras de operação, segundo a Cogerh, foram negociadas ( Fotos: Honório Barbosa )
Orós. Barqueiros e comerciantes, nesta cidade, no Centro-Sul do Ceará, amargam queda nos negócios por causa da redução rápida do volume no reservatório Presidente Juscelino Kubitschek, conhecido por Açude Orós, o segundo maior do Estado. O nível continua em queda, gerando prejuízo ainda maior para o setor de serviço e varejo. O segmento já estima queda de 80% no faturamento.
Os meses de dezembro e janeiro costumam registrar crescimento no número de visitantes e aumento nas vendas nas barracas, balsa-bar flutuante e restaurantes. O principal prato é o peixe frito, acompanhado de baião-de-dois. Neste fim de ano, o cenário é diferente. "Já demiti quatro garçons e estou trabalhando com a família. Veja como estão as mesas, vazias para uma manhã de domingo, isso é triste", diz Fransualdo Andrade.
O nível do açude vem caindo desde 2012, quando começou o atual ciclo de seca no sertão cearense. Hoje, está com 17,03%. Neste mês, a perda de água foi intensificada com a abertura da válvula dispersora em vazão máxima de 16 metros cúbicos por segundo, além de liberação de mais água por uma tubulação para o Rio Jaguaribe. A operação de transferência de água em maior escala para o Jaguaribe e para o Açude Castanhão começou em setembro passado e foi intensificada neste mês. No fim do ano, o Orós deve acumular cerca de 10% do volume total.
Lazer
"Teremos um fim de ano amargo e as férias em janeiro serão ruins. Quem vem para cá com o açude seco?", questiona o barqueiro Luzimar Bezerra. Os barcos ficam praticamente parados na margem do açude. "Ainda tem um pequeno movimento aos domingos", afirma o barqueiro Jaricê da Silva Targino.
O passeio de barco de uma hora custa R$ 60 para dividido no grupo, com uso de colete salva-vidas. Os dois balneários (Recanto das Águas e Ilha do Paraíso), um hotel e duas balsas flutuantes que ficam nas margens do açude são atrativos para os turistas. "O movimento vem caindo e a tendência é parar porque o açude está secando e não atrai os visitantes", disse o integrante do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe, Paulo Landim.
Piscicultura
Outros setor afetado com a escassez de água no Orós é o de piscicultura, que cresceu nos últimos anos, gerando renda para 700 famílias e produzindo cerca de 150 toneladas de pescado por mês. "A partir de janeiro, a atividade vai paralisar a produção", disse o empresário José Lima.
Há dezenas de gaiolas transferidas para o leito do Rio Jaguaribe e estão próximas da parede do reservatório. É um esforço dos produtores para tentar manter um mínimo de produção e renda até janeiro. "O açude baixa 5cm por dia e a água está indo embora rapidamente", disse o produtor rural Luís Custódio.
A perda de água no Orós criou um clima de preocupação e de tristeza entre os moradores, produtores rurais, piscicultores e aqueles que trabalham com o setor de serviço, alcançado com a ausência dos turistas. A crise já começa a afetar os negócios na cidade, com queda nas vendas nos postos de gasolina, lanchonetes e bares, farmácias e até mercadinhos. "Sem renda, as pessoas compram menos, procuram priorizar o essencial", disse o empresário Luís Souza.
Transferência
Esta não é a primeira vez que o Açude Orós socorre a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Construído e inaugurado em 1961 pelo presidente da República Juscelino Kubitschek, o reservatório era o maior do Ceará, com capacidade para 2 bi de metros cúbicos, até a construção do Castanhão, em 2003, que pode armazenar mais de 6 bi m3.
Mesmo com cinco anos seguidos sem recarga, ou seja, falta de aporte de água das chuvas, o reservatório se manteve com volume médio. Ele tornou-se uma reserva estratégica após a construção do Castanhão. A reserva de água do Orós vinha atendendo parte do Baixo Jaguaribe, localidades como Nova Floresta, Feiticeiro, além de cidades como Jaguaretama e Jaguaribe por leito natural e sistema adutor. No passado, em 1993, o Orós também socorreu Fortaleza e municípios da RMF, quando foi construído o Canal do Trabalhador.
Na época, o Orós chegou ao volume morto em torno de 5% e deixou milhares de famílias sem condições de produzir e com falta de água, nas localidades ribeirinhas. "Parece que a história vai se repetir", disse o piscicultor e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, que mora na localidade de Barrocas, na margem do reservatório, em Iguatu.
As famílias de Barrocas e de outras localidades rurais na Bacia do Orós já enfrentam escassez de água. "A captação da água está distante cerca de 100m", disse Saraiva. Na comunidade, dezenas de pescadores estão de braços cruzados. "A pesca praticamente acabou", disse o pescador, Raimundo Lima.
Nas proximidades da parede do reservatório, já se observa áreas de terras que antes estavam submersas e agora formam ilhotas. "O cenário aqui está triste", disse a turista Leda Xavier, que mora em Juazeiro do Norte. O vai-e-vem de moradores e visitantes no açude diminuiu. Os barcos estão ancorados à espera de gente para passear.
Protestos
A liberação de água no Açude Orós gerou polêmica. Houve protesto dos moradores na semana passada. "A gente não é contra o uso da água para abastecimento humano, mas estão aproveitando para irrigação, criação de camarão, fazendo captação irregular, no Baixo Jaguaribe, em um período crítico como esse", disse Paulo Landim.
Os produtores rurais de Orós reclamam por medidas compensatórias, porquanto alegam que não estão produzindo, além da falta de água que vão enfrentar nas comunidades ribeirinhas. "Quem antes plantava em vazantes agora está parado; quem criava peixe também cruzou os braços e até água de beber não teremos", disse a moradora Francisca Oliveira, que na semana passada participou do protesto.
"O momento é de dificuldade e, mediante a incerteza se haverá chuva suficiente para recarga do reservatório em 2017, as pessoas que dependem diretamente da água do açude vêm se mobilizando e cobrando do governo do Estado para uma compensação para os atingidos. A válvula continua aberta 24 horas, diariamente", frisou.
A Cogerh explicou que as regras de operação dos reservatórios Orós, Castanhão e Banabuiú foram definidas no XXIII Seminário de Alocação Negociada das Águas dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú, promovido anualmente desde 1994. No Seminário de Alocação, foi aprovada a vazão média de 15 m³/s para o açude Castanhão e 11,5 m³/s para o Orós, que teve vazão alocada de 16 m³/s de setembro de 2016 a janeiro de 2017.
Imagens do reservatório
O reservatório é fonte de renda para muitos
Travessia, passeios, pesca, consumo nas barracas, no bar flutuante, plantações no entorno. São muitas as atividades desenvolvidas na região do reservatório, que foi o maior do Ceará até a construção do Castanhão e serve também como reserva estratégica para atender a Região Metropolitana de Fortaleza, assim como o Baixo Jaguaribe

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