A comunidade acadêmica do Cariri está de luto pelo falecimento do ex-reitor da Universidade Regional do Cariri (URCA) e diretor do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, Professor Plácido Cidade Nuvens. Ele faleceu vítima de câncer em Fortaleza, na manhã desta terça-feira (1). O Reitor da URCA, Professor Patrício Pereira Melo, por meio de portaria, emitiu nota de pesar e decretou luto oficial na Instituição, por sete dias, com hasteamento das bandeiras a meio mastro, suspendendo todas as atividades na URCA, nos dias 1º e 2 de novembro.
A Universidade recebe, a partir da meia-noite, o corpo do ex-Reitor, no Salão de Atos da Instituição, para as homenagens, e, às 6 horas, será levado para a sua cidade natal, Santana do Cariri, para ser velado no Museu de Paleontologia da URCA. O sepultamento acontece por volta das 17 horas.
Na nota, o Reitor destaca a grande perda para a comunidade acadêmica da URCA e a comunidade científica brasileira. Ele se solidariza aos familiares e destaca o meritoso e inestimável trabalho do Professor, que foi Vice-Reitor e Reitor, para o desenvolvimento educacional, científico e institucional da URCA, tendo sido o primeiro Reitor eleito pela comunidade acadêmica. Chegou a ser vitorioso em duas consultas realizadas na Universidade. Professor Plácido foi docente do Curso de Direito da Instituição e primeiro doutor da Universidade. Em 2003, foi agraciado com o Título de Doutor Honoris Causa da URCA, pelos relevantes serviços prestados à Instituição.
Na portaria, é destacado o compromisso do intelectual e homem público, Professor Plácido Cidade Nuvens, em prol do desenvolvimento regional em bases sociais justas, seja como membro da Fundação Padre Ibiapina, braço social da Diocese do Crato, seja como Prefeito Municipal de Santana do Cariri, Presidente do Conselho Deliberativo da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico do Cariri (FUNDETEC), e, sobretudo, como docente e gestor da URCA. Quando prefeito, Plácido Cidade Nuvens, criou o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri e ainda com chefe do executivo, doou o equipamento para a URCA.
O Reitor ainda destaca a relevante atuação do Professor Plácido, para a preservação e conservação do patrimônio fossilífero da Bacia do Araripe, contribuindo significativamente para os estudos paleontológicos no Brasil e no mundo, além da sua contribuição para a Literatura Popular do Nordeste, ao ícone Patativa do Assaré.
Bibliografia destaca relevante contribuição de Plácido Cidade Nuvens à Região do Cariri
O Professor Plácido Cidade Nuvens traduz o reconhecimento da URCA a grande contribuição dada por ele a região do Cariri, logo após chegar da Europa, onde permaneceu por mais de dez anos. Lá, cursou Teologia e Ciências Sociais na Faculdade Gregoriana, chegando ao mestrado no primeiro curso e ao doutorado no segundo. Vale ressaltar, também, sua Especialização em Português Superior na Universidade de Lisboa e Jornalismo na PRODEL, em Roma. Este último é responsável pela função que exerceu no Jornal L’ Observatore Romano como redator e revisor da edição portuguesa, tendo também trabalhado na Rádio do Vaticano.
Plácido retorna ao Brasil em dezembro de 1973. Em janeiro de 1974 passa a trabalhar na Diocese do Crato, precisamente na Fundação Padre Ibiapina – FPI, instituição criada por Dom Vicente de Paulo Araújo Matos, então bispo Diocesano. Nesta instituição, a contribuição maior consistiu em dar fundamentação filosófica e teológica a ação de Promoção Humana desenvolvida pela FPI. A ação se voltava para a quebra do isolamento cultural das comunidades do interior dos municípios da Diocese do Crato, além de criar condições para despertar o trabalhador rural para ir buscar a organização da categoria em sindicatos. A Promoção Humana tinha por lema: “O homem todo e todos os homens".
Ele trabalhou na fundação durante dez anos, dando incansável suporte teológico, filosófico e também científico. Um ponto que não posso deixar de ressaltar da sua atuação na Coordenação Colegiada foi a criação de um setor que expressa, entre outras coisas: sua preocupação com a memória regional e da instituição, a valorização dos talentos regionais e sua ampla divulgação, a preocupação com as riquezas naturais e, por fim, a qualificação continuada de todos aqueles que faziam a Fundação Padre Ibiapina. O setor recebeu o nome de Centro de Estudos, Documentação e Pesquisa – CENDEP, onde ele foi coordenador durante vários anos.
Foi no CENDEP, por iniciativa do Professor Plácido, que o livro ‘CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ’, de Patativa do Assaré, foi idealizado e editado em co-edição com a Editora Vozes. Foi também o CENDEP que promoveu a divulgação desta obra, através da realização de cerimônias de lançamento em quase todos os 30 municípios da Diocese, além da divulgação em periódicos da região e na imprensa maior, via rádio e jornais estaduais e nacionais. A divulgação tomou uma dimensão tão ampla que chegou a ultrapassar as fronteiras nacionais.
Na linha de pesquisa, o CENDEP realizou estudo sobre os Pequenos Negócios não Agrícolas do Cariri e da Região de Iguatu e Sertões do Salgado com o objetivo de identificar o perfil do proprietário e do empreendimento. Foi uma pesquisa realizada em convênio com o CEAG/CEPA com apoio financeiro do POLONORDESTE e Banco Mundial. Esta pesquisa tinha como finalidade verificar a possibilidade de instalação do SEBRAE nestas regiões.
Concomitante ao seu trabalho na FPI, o Professor Plácido integra uma comissão encarregada de criar o Curso de Direito do Crato. A primeira aula deste curso foi por ele pronunciada, como professor concursado para as disciplinas de Sociologia e Introdução à Filosofia. Esse curso, posteriormente, passa a fazer parte da Universidade Regional do Cariri (URCA).
Como prefeito, cria o Museu de Paleontologia e repassa para a URCA
Após dez anos de trabalho na FPI, em 1984, o professor Plácido solicita afastamento e ingressa na política como candidato a Prefeito de Santana do Cariri. Eleito, inicia uma gestão marcada pela visão de longo prazo. Entre outras questões estruturais, preocupa-se com o reduzido número de pessoas com curso superior no município, preocupação que antecede esta fase, mas que nela se acentua. Cria condições de deslocamento para a Universidade e Faculdades do Cariri. Com pouco tempo conseguiu aumentar bastante o número de profissionais qualificados tanto para trabalhar nos colégios da cidade, quanto em outras profissões como Direito, Economia e Engenharia de Produção.
O patrimônio fossilífero do município chamou sua atenção. Cria o Museu de fósseis para, segundo suas palavras “conter a sangria desatada de fósseis e a depredação de terrenos do patrimônio cultural.” Nessa época os melhores terrenos fossilíferos haviam sido comprados por um ricaço norte-americano para a exploração de fósseis. O Prefeito usa o seu poder político e de convencimento que resulta na doação dos terrenos para o museu. Nova preocupação surge, o risco de deixar o museu, oficialmente instituído, ao sabor da política. Resolve doar esse patrimônio a URCA para que fosse cuidado e preservado pela comunidade acadêmica. Assim ele poderia se expandir e projetar-se a serviço da cultura e da ciência.
Hoje o Museu de fósseis da URCA, desde a gestão do Prefeito Plácido, tem projeção internacional e conta com um significativo número de visitantes nacionais e internacionais. Tem recebido, com freqüência, a visita de cientistas e demais estudiosos da área de paleontologia, conforme é possível verificar no livro de registro de visitantes especiais.
De Professor a Reitor
No Ensino Superior, o Professor Plácido teve atuação marcante. Galgou a hierarquia acadêmica gradativamente de professor, a Diretor de Centro, a Vice- Reitor e, por fim, Reitor. Nessa caminhada ascensional aconteceram fatos que merecem destaque. Um deles foi sua primeira candidatura a Reitor. A campanha foi permeada por intensa identificação da comunidade acadêmica com os planos de sua plataforma política.
A palavra de ordem era “Reitor eleito, Reitor empossado”. Ele venceu a eleição com grande maioria de votos, mas por injunções políticas não foi empossado, causando grande decepção para a maioria da comunidade acadêmica. No segundo pleito foi eleito e nomeado. Inicia a gestão com o processo de fortalecimento institucional como universidade pública, gratuita e o desenvolvimento regional sustentável e includente. Um dos atos de iniciação ao processo citado foi a abolição de todas as taxas que existiam na Universidade e, também foram garantidas a gratuidade dos cursos das unidades descentralizadas de Iguatu, Campos Sales e Missão Velha. Destaca-se, ainda o crescimento da “inclusão social” nessas unidades, registrando 70% de alunos egressos da escola pública, o que antes representava 30%.
Nesta gestão também se destacam a ampliação do Museu de Santana do Cariri, a conclusão de obras nos campus do Pimenta I e II, a construção do Restaurante e da primeira parte da Residência para estudantes, reforma do campus do Pirajá em Juazeiro do Norte para atendimento do Curso de Educação do Campo.
Termina o seu mandando deixando legados de construções significativas: o Ginásio Poliesportivo e o prédio para o mestrado em Bioprospecção. No âmbito da graduação a URCA, no período de 2007-2012, passa de 5.216 alunos para 9.310. São implantados os cursos de Física, Teatro e Artes Visuais. Na Pós-Graduação strito sensu houve a implantação do mestrado em Bioprospecção Molecular e do Doutorado Interinstitucional com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em Bioquímica Toxicológica, o primeiro deste nível no interior do Estado.
Muitas outras ações foram realizadas durante a gestão. Ao concluir o período do reitorado, o professor Plácido se afasta para sua cidade, trabalhando na direção do Museu de Santana do Cariri.
Títulos e homenagens
Uma frase de Albert Ainstein se adéqua muito bem ao perfil do homenageado. Disse Albert Einstein: “Tente ser uma pessoa de sucesso, mas prioritariamente tente ser uma pessoa de valor”.
Foi por ser essencialmente essa pessoa de valor que o Professor Plácido recebeu os seguintes títulos honoríficos: Prêmio SEREIA DE OURO, do Sistema Verdes Mares, Prêmio conferido em 1986 como o melhor professor do ano, pela Associação dos professores do Ensino Superior do Ceará.
Ainda em 1986 recebeu o Prêmio PREFEITO EXPRESSÃO NACIONAL, homenagem prestada pelo Jornal “Correio do Recife”.
Em 2007, o Ministério da Cultura confere-lhe o Prêmio Rodrigo Melo Franco, através do IPHAN, pela Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico, cujo prêmio ele recebeu das mãos do ministro da Cultura Gilberto Gil.
O Professor Plácido publicou duas obras sobre Patativa do Assaré. “Patativa e o Universo Fascinante do Sertão”, análise das críticas feitas ao livro Cante Lá que Eu Canto Cá, e “Patativa um Clássico” – um estudo dos sonetos em geral do poeta do Assaré.
Estas são marcas das pegadas do professor Plácido Cidade Nuvens na região do Cariri. Por serem profundas, ficarão indeléveis na memória do Cariri, solidificadas no tempo e no espaço. Em 2003, foi agraciado com o Título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Regional do Cariri (URCA).
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