00:00 · 19.12.2016 / atualizado às 00:09 por André Costa - Colaborador
Juazeiro do Norte. A retração econômica é apontada, por especialistas, como o principal fator responsável pela alta taxa de desemprego no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), já são mais de 12 milhões de brasileiros desocupados no País.
Diante da falta de perspectiva na abertura de vagas no mercado, nada melhor para o trabalhador que ideias criativas para driblar a crise.
Matheus Quintans, 28, é um daqueles que engrossaram as estatísticas do desemprego que no último trimestre atingiu a taxa de 11,8%, maior índice da série histórica.
Formado em Design de Produtos, o paraibano residente em Juazeiro do Norte há quatro anos, conta que, após ter ficado desempregado, decidiu iniciar seu próprio negócio, ao lado de sua esposa, Rosângela Menezes, 28, formada em Letras e que também estava desempregada.
"Deixamos toda nossa família na Paraíba e viemos para Juazeiro trabalhar na indústria calçadista, um dos setores mais fortes da cidade. No início conseguimos emprego, tinha sim vaga de trabalho, mas depois veio a recessão e, assim como vários outros da fábrica, fomos demitidos", recorda o agora microempreendedor.
A decisão do casal é, inclusive, considerada uma boa alternativa para superar o desemprego, além de ser uma oportunidade de crescimento, conforme avalia o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE).
"Essa é sim uma possibilidade, e o interessante é que algumas dessas pessoas até já pensavam em ter um negócio próprio, mas acabavam se acomodando pelo fato de ter um emprego, e, com a saída do emprego, aproveitam o conhecimento e experiência adquiridos e montam seu próprio negócio", detalha Tânia Porte, articuladora do Sebrae-CE no Cariri.
Empreendedorismo
Sem capital de investimento, desempregados e inseridos num mercado de alta competitividade, o casal pesquisou o cenário local e apostou em algo até então pouco explorado na cidade: lanches naturais. "Inicialmente foi um grande desafio. Primeiro, por sermos de outra cidade, segundo porque iniciar um novo projeto nunca é fácil. Mas, ao mesmo tempo, isso nos motivou a batalhar mais ainda", lembra Rosângela, natural de Monteiro (PB), assim como o esposo.
De início, o casal investiu apenas R$ 40. "Não podíamos arriscar muito, pois já estávamos sem dinheiro. Então esse valor deu para custear a primeira remeça de sanduíches, dez ao total", explica Quintans.
O sucesso foi imediato. "Em um hora vendi todas as unidades e em 15 dias já tínhamos uma produção diária de quase 40 sanduíches", acrescenta Rosângela. A aceitação do público, conforme avaliam, se dá pelo "diferencial na produção e escolha selecionada dos produtos".
Diferencial
Para cada dia, o sanduíche é fabricado com um sabor diferente. A única semelhança entre eles é a utilização de produtos naturais, saborosos e com baixo teor calórico, como ricota, peito de peru, atum e filé de frango. "Nas ruas do Centro, há muito lanche sendo vendido, mas a maioria deles é gordurosa, contém muita massa e a opção de bebida é só refrigerante. Levamos a proposta de se alimentar rápido, mas de forma saudável. As pessoas tendem a se preocupar mais com a saúde", conta Matheus.
Os conhecimentos adquiridos durante a formação acadêmica também foram úteis para tornar o produto singular. "Trouxemos o nosso conhecimento do Design e unimos à culinária para que os sanduíches fossem apresentados ao consumidor de uma forma mais atrativa e, principalmente, higiênica", acrescenta Rosângela.
Os produtos também são selecionados, garantem. "Compramos de uma feirinha orgânica. Além de trazer mais saúde à mesa, estamos incentivando a economia local", explica Rosângela. Com tantos diferenciais, o negócio avançou nos últimos meses. Hoje já são mais de 60 sanduíches produzidos e vendidos, em uma bicicleta estilizada, todos os dias. Para suprir a demanda, o casal outrora desempregado, já entrega uma funcionária.
Conhecimento
Tânia aconselha aos empreendedores que se dediquem a pesquisar e conhecer bem a atividade na qual deseja empreender. "É importante que não comecem na emoção", pondera. Segundo a articuladora do Sebrae, entender a dinâmica desse mercado, como atuam os concorrentes e conhecer experiências semelhantes ajuda a obter sucesso.
"Para empreender é importante conhecer o mercado, ser ávido por informação, ter persistência, e ter conhecimento na gestão de negócios. Muitos fecham, não por falta de recursos, mas por incapacidade de gerar receita", diz. Ainda segundo ela, alguns questionamentos devem ser feitos antes de abrir um negócio.
"Quem é o público que o empreendedor deseja atender, quais são suas necessidades, desejos, como chegar até esse público e qual o capital necessário para a empresa funcionar são perguntas primordiais antes de iniciar qualquer atividade", acrescenta, ao lembrar que todos devem, também, levar em consideração "suas habilidades e experiências", pois elas podem ajudar o êxito na atividade, conforme fizeram Matheus e Rosângela.
Perfil
De acordo com pesquisa realizada pela Amway Global Entrepreneurship Report (Ager), que estuda as principais características dos empreendedores no Brasil e no mundo, o interesse por empreender está relacionado à faixa etária. Os jovens até 35 anos representam 65% do empreendedores. Eles enxergam no empreendedorismo uma possibilidade de conquistar o estilo de vida desejado, fomentar o crescimento econômico e alcançar uma renda estável.
O jovem Franklin Rodrigo Rodrigues está incluso nessa estatística. Com apenas 18 anos, ele já se considera um empreendedor. Todas as noites, são vários quilômetros percorridos pelas principais ruas de Juazeiro do Norte oferecendo trufas dos mais variados sabores.NATURAL de Farias Brito, Franklin veio morar na terra do Padre Cícero no início do ano com o objetivo único de se estudar. No entanto, nem tudo saiu como planejado.
"Tinha que ajudar nas despesas de casa, como aluguel e alimentação, e não conseguia um emprego que me desse tempo também para estudar para o Enem. Então decidi vender trufas", conta o jovem, que garante que todas as trufas fabricadas diariamente são comercializadas à noite. A simpatia e boa oratória, ajudam na hora da venda, reconhece Franklin.
"Trufa é algo que muita gente vende. Então busquei algo mais original. Peço licença e sento na mesa para conversar um pouquinho com os clientes, explico os sabores, conto um pouco minha história e tem dado certo, consigo vender todas", comemora.
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