Brasília. As disputas internas no PMDB do Senado fizeram com que o presidente Michel Temer deflagrasse ontem uma operação para "apaziguar os ânimos" dentro da cúpula do partido. Temer conversou com vários interlocutores do Senado, entre eles o líder do PMDB na Casa, senador Eunício Oliveira (CE), que é o candidato para suceder Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado. Também ontem, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), garantiu, em mensagem publicada nas redes sociais, que Eunício é o candidato do PMDB. No entanto, Jucá confirmou que há disputas pela posição de líder do partido.
O fim da "era Renan" causou uma disputa de poder envolvendo a presidência do Senado, a liderança do partido e outros postos-chave como a Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). Nos últimos tempos, Eunício, Renan e Jucá vinham divergindo de como o grupo lidaria com a nova configuração de poder. O racha se tornou público, o que fez com que todos conversassem e se entendessem pelo "bem maior do partido".
Na conversa de ontem, Temer pediu a Eunício que ficasse tranquilo, garantindo que ele é o seu candidato à Casa. Hoje, o presidente da República embarca para Maceió, base de Renan, para lançamento de investimentos na área de combate a seca.
Apesar da garantia de Jucá e Temer, Eunício se mobilizou nos últimos dias e fez contatos para marcar sua candidatura, tendo que desmentir até que estaria desistindo devido ao seu nome ter surgido em delações de executivos da Odebrecht. Ele seria identificado como "Índio".
Na tentativa de mitigar a disputa pelo Senado, Jucá negou, nas redes sociais, animosidades entre os peemedebistas e garantiu a candidatura de Eunício. A interlocutores, Eunício disse que Jucá fora correto e que agora está tudo "pacificado" dentro do Senado Federal.
Poder demais
Jucá busca o compromisso de Eunício de que assumiria em 2018, mas o senador não quer se comprometer agora. Aliados de Eunício dizem que Jucá "já tem poder demais dentro do partido", sendo presidente, líder do governo no Congresso e agindo como ministro paralelo, tendo participado da elaboração das propostas do pacote econômico lançado na última quinta-feira.
"Não há nenhuma disputa ou animosidade na bancada. O nosso candidato é o senador Eunício Oliveira, líder da bancada. Sou hoje o presidente nacional do PMDB e líder do governo no Congresso", escreveu Jucá, no Twitter, rebatendo os argumentos de que já tem cargos demais.
Jucá disse que não é candidato à sucessão de Renan Calheiros, mas nada falou sobre o acordo de 2018.
"Gostaria de esclarecer de uma vez por todas que não sou candidato a presidente do Senado. Temos um entendimento para a sucessão do Renan", afirmou Jucá.
Mas, o presidente do PMDB acabou reconhecendo que há disputas dentro do partido, inclusive para o cargo de líder. Nos bastidores, Eunício está trabalhando para que o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) seja o escolhido, mas o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) também quer o posto.
Jucá disse que "existem postulações legítimas quanto à liderança, que serão debatidas pela bancada". Num discurso de paz, ele disse que o "PMDB está unido e consciente da sua responsabilidade e que cada um exercerá um papel importante cumprindo a sua tarefa".
No caso de Renan, a preocupação é com o seu imenso poder dentro da Casa e como ele o exercerá a partir de agora. O presidente do Senado quer a presidência da CCJ, segundo aliados, onde teria o controle da votação de propostas relativas ao Ministério Público e ao Judiciário, com quem está travando uma batalha desde que virou investigado na Lava-Jato.
Na visita a Maceió, Temer participará do anúncio de investimentos do governo federal em ações para redução dos efeitos da seca e em prol do acesso a água. O investimento contemplará 15 estados e 832 municípios. Junto ao presidente estarão o filho de Renan Calheiros, o governador Renan Filho, e o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra.
Aos senadores, Temer disse que está mais preocupado com o racha da base aliada na Câmara. O candidato de Temer é o atual presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas o centrão não gostou.
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