sábado, 21 de janeiro de 2017

Ações em bancos trazem prejuízos a pequenas cidades


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Em Itapiúna foram alvo de ações criminosas tanto a agência do Bradesco quando a do Banco do Brasil ( Fotos: Alex Pimentel )
Milhã. "Uma cidade sem banco acaba, meu amigo. É uma situação terrível". Este é o desabafo de João de Deus, 42, um dos comerciantes deste município do Sertão Central do Ceará, um dos últimos a sofrer um ataque a banco neste ano. A agência foi explodida em uma ação criminosa durante a madrugada do dia 10 de janeiro e os serviços na cidade estão suspensos por tempo indeterminado. Agora, João vive tempos de incerteza. "Se não construirem outro Banco, não vai prestar, não".
O desabafo reflete o sentimento de vários outros comerciários. São eles os que sofrem a maior das consequências de uma cidade sem banco. O movimento cai consideravelmente porque não há dinheiro na cidade e a economia fica fraca.
João de Deus tem mais de 20 anos de comércio. Em todo este tempo, segundo conta, nem mesmo a seca lhe trouxe uma situação tão difícil. "Essa semana, o movimento já foi péssimo. Caiu cerca de 50% nessa semana e eu tô me virando fazendo promoção que é pra não passar situação mais difícil".
Em Choró, por exemplo, a agência do Banco do Brasil foi explodida ano passado. Restava a do Bradesco, que teve os caixas violados. Com isso a cidade também está sem oferecer suporte aos correntistas. Para conseguir sacar o dinheiro, as pessoas precisam viajar até Quixadá. Sem opção, os moradores se arriscam. "Eu tenho muito medo de ser assaltada porque fica perigoso, né? A gente tem que tirar o dinheiro e não tem onde tirar aqui, então acaba indo pra Quixadá, se arriscar aí nessas estradas", contou a doméstica Sandrineia Caetano Cruz, 32.
Uma situação semelhante acontece em Senador Pompeu. Sem também dispor de agências bancárias funcionando, aposentados saem ainda de madrugada para sacar o dinheiro em Quixeramobim, Piquet Carneiro e Mombaça. As viagens acontecem em carros fretados e em topiques. Os idosos temem porque também enfrentam o risco de assaltos.
"Tem lotação que vai cinco pessoas, mas tem lotação de topique, onde o pessoal corre mais perigo, porque todo canto para pro pessoal subir, e onde para pode acontecer um assalto. É um risco enorme. Eu só vou porque eu tenho muita fé em Deus, já que aqui, não tem mais nenhuma opção", desabafa Sílvio Renato Gurgel, 61.
Centro-Sul
Em Cariús, a agência da cidade foi danificada após uma explosão, em meados de junho de 2016. Uma quadrilha fortemente armada tinha por objetivo roubar o cofre e dinheiro dos caixas eletrônicos. O temor passou, mas as consequências permanecem até hoje para os moradores, empresários locais e correntistas.
Quem precisa fazer saque, por exemplo, tem de se deslocar até a cidade vizinha, Jucás. O transtorno somente não é maior porque a distância entre Cariús é Jucás é de apenas 4 km. Mesmo assim, lojistas e clientes mostram-se indignados e prejudicados. Todos sabem que nas cidades pequenas é o banco que movimenta o comércio.
"Com certeza, o varejo foi afetado, as vendas caíram", disse a comerciária Rocicleia Vieira. Sem dinheiro nos caixas eletrônicos, os funcionários públicos estão indo para Jucás, enfrentando risco de roubo no percurso, e lojistas precisam fazer depósitos diariamente na cidade de Jucás. "Estamos preocupados com a perda nas vendas", disse a vendedora Maura de Souza. "A cidade ficou parada".
Sete meses após a explosão da unidade bancária ainda não há prazo para retomada de todos os serviços em atendimento aos clientes. A reforma da agência ainda precisa ser feita. Nos últimos quatro anos, já ocorreram três ataques em Cariús. Por último, o posto de atendimento do Bradesco também foi alvo da ação dos bandidos. A Prefeitura também é afetada por alguns serviços que precisam ser feitos diretamente na agência.
Cariri
As cidades da região do Cariri protagonizam um cenário à parte: elas não têm sido alvo frequentes de assaltos. Em 2016, foram cinco ataques contra bancos ou caixas eletrônicos. O último ocorreu em 24 de outubro, quando um grupo de três homens invadiu e arrombou um caixa eletrônico da agência do Banco do Brasil no Centro do Crato, durante a madrugada. Segundo a polícia, dois homens teriam entrado no interior da agência munidos de vários equipamentos como maçarico, pé de cabra e alicates.
Em junho, um ataque contra a agência do Banco do Brasil de Várzea Alegre deixou os munícipes sem atendimento por várias semanas. Quem precisou de atendimento bancário se viu obrigado a percorrer quase 100Km até o Crato. Comerciantes, na época, se disseram prejudicados com a baixa rotatividade de capital na Cidade.
Correios
Como também oferece serviços de correspondência bancária, por meio do Banco Postal, as agências dos Correios começaram a registrar assaltos e explosões. A estatal possui 212 unidades próprias no Ceará. Desse total, três estão com atendimento atualmente suspenso em virtude de danos provocados por ataques: Choró, Banabuiú e Monsenhor Tabosa. Procurada, a estatal respondeu que não detalha estatísticas sobre assaltos às suas agências.
Investigação
De acordo com a contagem oficial do Diário do Nordeste, somente em 2016 foram 63 ataques contra agências bancárias de 39 cidades. Algumas sofreram ataques mais de uma vez. Das ações registradas, 20 tiveram explosões.
Os assaltos a bancos no Ceará são investigados pela Delegacia de Roubos e Furtos (DRF). Segundo as informações da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), só em 2016, foram realizadas 226 prisões, a maioria delas envolvidas com esse tipo de roubo, além da apreensão de 91 armas.
A Secretaria complementou, pior meio de nota, que "as forças de segurança do Estado vêm sendo interiorizadas e os municípios cearenses vêm recebendo reforço no combate a delitos, como assaltos a banco e a carro-forte, entre outros crimes.
Sobre isso, a SSPDS informa que o Comando Tático Rural (Cotar), vinculado ao Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), e o Batalhão de Divisas atuam, de forma ostensiva, no interior cearense com o objetivo de inibir a prática criminosa contra instituições financeiras, entre outros casos".
Respostas
Procurado, o Banco do Brasil respondeu, em nota, que colabora com as investigações. A nota do Banco detalhou que "avalia constantemente a implementação de novas soluções de segurança para sua rede de agências superando, inclusive, as exigências legais relacionadas à segurança bancária".
Entre as medidas, "terminais de Autoatendimento dotados com tecnologia de entintamento de cédulas, cofres com dispositivos de dilaceração, entintamento e abertura remota".
Os Correios esclarece que mantém contato direto com órgãos de segurança pública do Estado e possui parceria com a Polícia Federal (PF) para a prevenção e repressão de assaltos a agências. "Além disso, as unidades contam com kit de segurança composto por cofre com retardo, circuito fechado de TV, alarme monitorado, e, de acordo com uma matriz de vulnerabilidade, são alocados recursos adicionais, como vigilância armada", conclui a nota enviada.
A reportagem também procurou o Bradesco, mas a superintendência do Banco informou que não comenta casos de ataques às suas agências. As ligações e e-mails ao Sindicato dos Bancários do Ceará não foram retornados até o fechamento desta edição.
Procurada, a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) respondeu, também por meio de nota, que concilia "investimento relevante no aprimoramento da segurança bancária, da ordem de R$ 9 bilhões, o triplo do que era gasto dez anos atrás, e cooperação intensa com as autoridades encarregadas da segurança pública".
Além disso a Febraban esclarece que "são investidas somas expressivas de recursos em tecnologia para a realização de operações de forma rápida e segura por meio dos canais digitais, reduzindo a necessidade de recurso dentro das agências bancárias ou no manuseio de dinheiro em espécie".
fds

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