terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Ventania volta a derrubar bananeiras no Centro-Sul

Iguatu. Uma forte ventania voltou a destruir plantio de bananas da variedade pacovan nas várzeas do Rio Jaguaribe, nos municípios de Iguatu e Cariús. Desde 2009, têm se repetido eventos semelhantes, nos meses de dezembro e janeiro, causando grandes prejuízos para os produtores rurais. O mais recente ocorreu na noite deste domingo (22), atingindo cerca de 100 bananicultores. O prejuízo foi estimado em cerca de R$ 2 milhões.
O vendaval veio acompanhado de relâmpagos, trovões, mas de pouca chuva. Esse novo desastre fez com que muitos bananicultores finalmente decidissem substituir o cultivo da variedade pacovan por nanica (casca verde). "Não dá mais para continuar plantando a pacovan, que tem melhor preço, mas já tive prejuízo por causa do vento por três anos seguidos", disse o produtor João de Oliveira, que decidiu substituir 25 hectares de banana pacovan por nanica.
A bananeira da pacovan tem altura média de 5 metros e facilita a ação do vento. O preço do milheiro pago ao produtor é de R$ 250. Já a variedade nanica tem copa baixa, que não é atingida por ventanias. O preço pago por milheiro é de R$ 120,00. Entretanto, a produtividade da nanica é maior, reduzindo a diferença de preço. "Não compensa arriscar", disse o produtor Carlos Queiroz, que prepara área para o plantio da fruta, no sítio Mutuca, zona rural de Jucás. "Só vou plantar a nanica, mas está faltando o 'fio' que custava um real e agora dobrou de preço".
Histórico
Desde 2009 que o Diário do Nordeste vem registrando destruição de bananais em Iguatu, Icó, Cariús e Jucás, provocada por intensos ventos, verificados sempre nos meses de dezembro e janeiro. Naquele ano, foram destruídos cerca de 80 hectares, atingindo 100 bananicultores em Iguatu e Icó. Na região de Cardoso, zona rural de Iguatu, somente os produtores Pedro Alexandrino e Armando Souza estimaram prejuízo na ordem de R$ 100 mil. Desde então, os bananicultores passaram a reivindicar linhas de crédito para financiar a retomada da produção. O fruticultor Marcos Siebra teve prejuízo em torno de R$ 50 mil.
Em janeiro de 2010, o fenômeno repetiu-se e atingiu novamente bananicultores nas várzeas do Rio Jaguaribe, em Iguatu, mas em menor intensidade, cerca de 10 hectares. Iguatu é um dos maiores produtores de banana do Ceará e as localidades de Cardoso e Quixoá, nas margens do Rio Jaguaribe, formam o principal corredor produtivo.
Em 2013, nova ventania destruiu cerca de 50 hectares e trouxe prejuízo de cerca de um milhão de reais. A destruição ocorreu no período da colheita. Na época, o agricultor Antonio de Souza Bezerra, conhecido por 'Baiano', perdeu mais de quatro mil pés de banana de um total de seis mil cultivados. O prejuízo foi estimado em R$ 80 mil.
No penúltimo dia de 2014, uma ventania deixou um rastro de destruição ainda maior em Iguatu: O prejuízo foi estimado em torno de R$ 7 milhões e destruição de 80% de 285 hectares de banana, atingindo 120 produtores. Em algumas localidades, o vento forte foi seguido de chuva de granizo. O clima entre os agricultores era de tristeza e de preocupação, sem motivo para comemorar o Réveillon, naquele ano.
O ex-presidente da Associação dos Fruticultores de Iguatu, Murilo Barroso, disse que a região de Quixoá é uma das mais afetadas com as ventanias seguidas e considerou o quadro de verdadeira calamidade que vem atingindo a produção da fruta, a renda e a vida dos produtores. "É preciso um estudo, uma orientação técnica aos fruticultores", defendeu. "O desestímulo é geral".
Alternativas
O agrônomo Paulo Maciel, presidente do Instituto Rio Jaguaribe, defendeu o plantio de árvores para recompor a mata ciliar do Rio Jaguaribe e no entorno das áreas de cultivo de bananeiras como forma de proteção. Ele avalia que a formação geográfica da região, a existência de um serrote e o corredor natural do rio facilitam o deslocamento de massas de ar, provocando ventanias intensas, que causam a destruição do bananal a cada ano. "É um problema recorrente", disse. "Há tecnologias de manejo que precisam ser aplicadas, mas, infelizmente, a maioria dos fruticultores insiste em manter técnicas erradas e amargam prejuízos constantes, insistindo no plantio de uma variedade alta e de tronco fino", concluiu

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