Era noite de domingo quando no dia 17 de abril de 2016, dos 513 deputados federais, 367 disseram "sim" para a abertura do processo contra a agora ex-presidente Dilma Rousseff (PT) por crime de responsabilidade. Passado um ano, a reportagem do Diário do Nordeste ouviu fontes de áreas estratégicas como economia, ciência política e políticos que se posicionaram de maneira divergente durante a votação no Plenário da Câmara Federal. Eles analisaram as mudanças implementadas de lá para cá.
Ricardo Eleutério é economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia, no Ceará. Para ele, há dois pontos que considera importantes. Um deles é a redução da taxa de juros. "O Banco Central reduziu a Selic. Desde o final do ano passado foram realizadas cinco reuniões e em todas houve a redução", relata. "Por outro lado, mesmo após a troca de comando político do País, continuamos estagnados. Do ponto de vista macroeconômico, a política fiscal contracionista, como a PEC dos gastos, busca o reequilíbrio. Essa política não incrementa crescimento econômico, mas busca o equilíbrio fiscal necessário", explica.
O cientista político Maurício Santoro, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, avalia que esse intervalo desde a abertura do impeachment mostrou que, independentemente do que se pense sobre o processo ter sido ou não correto, não se conseguiu resolver os grandes problemas existentes tanto no tocante à corrupção, quanto na economia. "Não era a crise do Governo Dilma ou do PT. A coisa era mais ampla e hoje coloca em questão todo o sistema partidário desde a redemocratização".
Legislação social
Ele observa que, embora o Brasil continue sendo o mesmo país de um ano atrás, o impeachment enfraqueceu o PT e a esquerda como um todo. "Vimos pelo resultado das eleições municipais como a esquerda sofreu um baque forte". Diante dessa perda de força, ele afirma que se abriu espaço para grupos políticos que tinham posição crítica sobre a legislação social, como o sistema de proteção social, as leis trabalhistas e previdenciárias. "O que se tem agora é algo que ao logo deste ano avançou no programa político de desmontar esse sistema. A reforma trabalhista enfraquece a CLT. Querem modificar a Previdência, de maneira que se torne dura aos trabalhadores". "A principal diferença do Brasil de um ano atrás é a mudança de conjuntura política".
Os deputados federais André Figueiredo (PDT) e Raimundo Gomes de Matos (PSDB) tomaram decisões distintas quando na votação do impeachment na Câmara. O pedetista comenta que, depois do afastamento de Dilma, o que se viu foi uma trégua por parte de setores da grande mídia "que não se cansaram enquanto não derrubaram a ex-presidente".
Transparência
Figueiredo ressalta a necessidade de o Brasil ser passado a limpo e defende que o cidadão deve cada vez mais acompanhar o desempenho dos parlamentares e membros de todos os poderes. "Toda a sujeira está sendo posta para fora. Que possamos fazer dessa limpeza um novo Brasil, mas que o cidadão se sinta mais partícipe na construção desse novo Brasil", defende.
Gomes de Matos opina que a partir do impeachment passou a ser implantada maior transparência no Governo Federal. "Também temos que reconhecer a retomada da credibilidade que o País está obtendo não só interna como externa, por parte dos investidores internacionais. O País estava em situação delicada e ainda vai demorar para se recuperar por completo".
Para o tucano, valeu o "sim" dado naquele dia em que todo o Brasil parou para acompanhar o desenrolar do processo, sem ainda saber até onde iria. "De qualquer forma me sinto contemplado porque se observava que faltava a Dilma a credibilidade não somente do povo, mas de organismos nacionais e internacionais. Ela não tinha credibilidade para continuar como gestora"
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