Iguatu. Uma tecnologia social de convivência com o Semiárido vem ganhando espaço neste Município, na região Centro-Sul do Ceará. Inicialmente, 25 famílias, moradores de áreas rurais, foram beneficiadas com o reúso de água cinzas para a produção de hortaliças e fruteiras. Os resultados são animadores: proteção ao meio ambiente e geração de renda para famílias de pequenos agricultores.
O projeto é fruto da parceria firmada entre o Instituto Elo Amigo e a Fundação Banco do Brasil (FBB). A expectativa é que a ação seja ampliada a partir do próximo mês. Segundo o coordenador local do programa, Francisco Braz de Araújo, já foi aprovada uma parceria entre o Instituto Elo Amigo e o governo do Estado por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) para a implantação de mais 40 projetos, beneficiando igual número de famílias em municípios da região.
Avaliação positiva
O coordenador Braz de Araújo faz uma avaliação positiva do programa. "Dos 25 projetos implantados, 23 estão funcionando plenamente, com produção de hortaliças ou fruteiras", pontuou. "Para o Ceará é uma tecnologia nova, e o Instituto Elo Amigo é o primeiro a implantar a ação de forma ampliada".
O sistema é simples e tem custo em torno de R$ 4.200, por unidade. Possibilita o reaproveitamento da água das pias do banheiro e da cozinha para regar plantas ao redor de casa. Para receber a tecnologia, as famílias passaram inicialmente por uma seleção realizada pela Comissão Municipal pela Vida no Semiárido e os critérios são basicamente ser agricultor e já possuir as cisternas de água de beber (16 mil litros) e de produzir (calçadão ou enxurrada) de 52 mil litros.
Francisco Braz disse que a iniciativa é importante para famílias que produzem em suas pequenas áreas ou nos próprios quintais. Ele destaca que o reúso consegue recuperar cerca de 50% de toda a água que iria para o esgoto. "Quem vive no Semiárido bem sabe que cada gota d'água poupada é importante".
Irrigação
As famílias beneficiadas têm água para utilizar na produção de canteiros de verduras e pequenas áreas de fruteiras, por meio de um sistema localizado de irrigação. "Imagine que a água que antes iria para o esgoto, poluir o meio ambiente, rios e lagoas, agora serve para produzir mais vida, hortaliças, frutas", destacou Braz.
Admiração
As famílias que receberam o projeto ficaram admiradas e não acreditavam na possibilidade do reúso. "A água, depois de filtrada, não tem cheiro e a gente fica sem acreditar no primeiro momento", contou a agricultora Fabiana Oliveira Correia Félix, moradora do sítio São José, na zona rural de Iguatu. "É uma coisa simples, que funciona, mas a gente precisa dar uma certa atenção, manutenção".
Fabiana é uma das maiores entusiastas do projeto e tornou-se, ao lado do marido, Francisco Félix, referência na implantação e desenvolvimento do programa. "Estou muito satisfeita, produzindo e vendendo para os moradores da localidade, além de ter a hortaliça para o consumo próprio", disse.
O sogro de Fabiana, Antônio Ferreira, agricultor tradicional há décadas, cultivando grãos, também ficou perplexo. "Para mim é uma água sebosa, que se perdia no terreiro. Agora, nós estamos vendo que dá certo", afirmou. A família fatura cerca de R$ 100 por semana com a venda das hortaliças.
Como funciona
O sistema aproveita a água da pia, lavatório, chuveiro e lavanderia. Inclui um caixa de gordura, um filtro em manilha com cascalho, pedra, areia, brita, pó de madeira, húmus e minhoca. O recurso hídrico filtrado escorre para um reservatório no chão e é bombeado para uma caixa elevada com capacidade para 500 litros. Daí escorre por canos para os canteiros onde há mangueiras com pontos de gotejamento. Há também um tanque com esterco de gado para a reprodução das minhocas e do húmus.
O técnico Ivanildo Rodrigues fez o acompanhamento inicial do projeto. A manutenção do sistema é simples com limpeza da caixa de gordura semanalmente, troca do húmus a cada seis meses e a cada ano do pó de madeira.
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