00:00 · 31.08.2017 por Marcelino Júnior - Colaborador
Senador Sá. A agricultora Maria Joice Oliveira Costa (25), casada e mãe de uma filha, sempre encontrou na agricultura familiar seu meio de subsistência. Mas as dificuldades de conviver com o Semiárido exigiam dela, e de outras famílias da pequena comunidade de Lagoa Comprida, na zona rural de Senador Sá, na região Norte, força suficiente para enfrentar de forma criativa e econômica a constante falta de chuva, sempre acreditando no potencial das sementes de milho e feijão lançadas na terra, à espera do "bom inverno".
Porém a falta de técnica e o manejo necessário ao plantio nem sempre trouxeram bons resultados, mesmo apesar das chuvas; ainda mais, trabalhando por si só, sem contar com o apoio conjunto da comunidade. Essa história começou a mudar com a participação da agricultora no 'Curso Agricultor Familiar', que mobilizou vinte e seis famílias da região, mudando o jeito de pensar da agricultora.
"Eu pensava que o curso iria ser só sobre animais, e ia ter poucas coisas sobre as plantas, o solo, água, semiárido, mas tivemos muitas práticas onde eu aprendi demais. Após o curso, fiquei mais unida às pessoas da comunidade. Aprendi, entre outras coisas, a importância do cuidado com as pragas, por exemplo", afirma a agricultora, que aguarda, ansiosa, assim como Manuel Ricardo Andrade (38), pai de dois filhos e companheiro de curso de Maria Joice, pela entrega dos certificados, nessa quinta-feira (31), na comunidade. Segundo ele, "o curso foi bastante produtivo e excelente por capacitar os agricultores familiares naquilo que eles mais gostam de fazer, produzir. Esperamos que a comunidade colha os frutos daquilo que foi semeado durante o curso", comemora.
Demandado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores de Senador Sá, por meio do Território da Cidadania de Sobral, o curso, realizado entre os meses de março e julho deste ano, foi possível com as parcerias da Universidade Estadual do Ceará e Fundação Universidade Estadual do Ceará (Funece), além do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec Campo).
Durante as atividades, os participantes receberam kits de sementes, produziram uma horta comunitária, receberam também material para estudo de campo, apostilas com foco na agroecologia, realizaram visitas técnicas, e tiveram palestras sobre políticas públicas voltadas à agricultura familiar, em especial para mulheres e jovens.
Durante as aulas práticas, todos tiveram a oportunidade de conhecer alguns projetos desenvolvidos pela Embrapa Ovinos e Caprinos, instalada na região de Sobral. Lá, o grupo conheceu os sistemas de produção dos animais de pequeno porte e aprendeu mais sobre suas características, entre elas, a de resistência ao clima e vegetação diferenciada do Semiárido.
As técnicas desenvolvidas pelo Sistema Agro Florestal, que utiliza ao máximo a vegetação local em consórcio com as plantações, também tiveram espaço na formação do curso, assim como as tecnologias socioambientais de reúso de águas e cinzas para melhor desenvolvimento da plantação, realizado no Município de Massapê, também na região Norte, pelo Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria do Trabalhador (Cetra).
Tecnologias
O apoio para custeio de despesas e fomento foi dado pelo Governo do Estado a quem cumpriu 200 horas/aula com estudos sobre tecnologias relacionadas à produção animal, vegetal, mineral, aquícola e pesqueira, extração, cultivo e produção referente aos recursos naturais, incluindo, ainda, tecnologia de máquinas e implementos, estruturada e aplicada de forma sistemática para atender às necessidades de organização e produção dos diversos segmentos envolvidos, buscando por qualidade e sustentabilidade econômica, ambiental e social.
Entre os resultados obtidos, estão o diagnóstico da propriedade familiar, baseado nas ações integradas do sistema produtivo, planejamento e organização de ações de forma cooperativa, além do manejo dos recursos naturais de forma sustentável, promovendo a integração lavoura e pecuária.
De acordo com Francisco Jailson Monteiro, secretário de Políticas Sociais e Meio Ambiente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Senador Sá e coordenador local das atividades, "os cursos do Pronatec Campo buscam diminuir o impacto causado pelo êxodo rural em nossa região, principalmente dos jovens que saem em busca de novas perspectivas. Em nosso caso, não tem sido diferente, mas observamos que, após o curso, a comunidade ficou mais unida e preocupada em fortalecer seu desenvolvimento", afirmou.
Enquete
Como avalia o conteúdo do curso?
"Achei bom para nossa comunidade, que quase não tinha muita coisa diferente a realizar. Nós confiamos que iria dar certo, porque o nosso Sindicato sempre tem trazido coisas que nos ajudam a produzir melhor"
Maria Vanda de Sousa. Agricultora
"Gostei demais. Pensava que seria aquela coisa chata, quando a gente vai para sala de aula e fica sentada só ouvindo, mas me surpreendi com muitas práticas e coisas novas que não sabia que existiam"
Maria Vânia Nascimento. Agricultora
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