Sobral O professor universitário e artista plástico fortalezense Domenico Sávio Rocha Cavalcante se define como um apaixonado por gatos, desde a infância. Sempre cercado pelos animais, Domenico teve tempo de sobra para não apenas mantê-los saudáveis e bem alimentados, mas também para observar como os bichanos se relacionavam com as pessoas mais próximas e quais seus reais interesses na disputa por espaço ou, até mesmo, por carinho e atenção da parte de seus donos. Aliás, no que se refere à convivência com os felinos, somente os verdadeiros admiradores desse tipo de animal podem desmistificar a história espalhada aos quatro cantos de que os gatos, além de muito independentes e egoístas, não seriam muito chegados aos humanos, a não ser que estejam em jogo seu conforto e a também a garantia de alimento.
A paixão pelos felinos se fez mais forte, quando, aos 24 anos, o jovem teve acesso a uma escultura que representava um animal, no caso, uma girafa. Aquela figura tomou conta do imaginário do rapaz, que decidiu criar sua própria peça utilizando o arame como matéria-prima dos primeiros trabalhos. No início, a produção era variada e tentava representar tudo que se relacionasse com o cotidiano do jovem, ou com a estética humana, em geral, além de transitar por temáticas regionalista (trabalhadores rurais, violeiros e outros personagens) e religiosa (com a imagem de Cristo). Logo, as primeiras experiências foram evoluindo para a utilização de outros materiais, levando o até então artesão a participar de exposições plásticas coletivas e realizar inúmeras oficinas de artes. Com a chegada a Sobral, em 1995, para assumir uma vaga como professor do Curso de Letras da Universidade Vale do Acaraú (UVA), aos poucos, veio também o desejo de fixar um tema que realmente fosse envolvente para ele mesmo. Daí, não foi muito difícil saber qual seria ele. Com a técnica aprimorada, a partir de 2005, os gatos que conviviam com o artista foram ganhando novas formas e cores variadas, distribuídas em todo tipo de material que pudesse ser trabalhado. O diferencial, até hoje, é que boa parte da matéria-prima seja reciclável como arame, barro, papel (revistas, jornais, papelão), ou garrafas PET, além dos quadros pintados a óleo ou ainda montados cuidadosamente a mão, com colagem, utilizando a "papietagem", técnica artesanal que dá forma a uma escultura ou preenchimento de molde a partir de papéis recortados ou picados e cola.
Com uma identidade temática definida, os gatos tomaram conta, de vez, não apenas do coração de Domenico Sávio, mas de suas ideias. O que o autor define como uma deliciosa obsessão. "Eu sempre fui deslumbrado com a beleza e leveza dos gatos. Eles fazem parte da minha vida, desde muito pequeno. Mas sempre via como eles eram colocados em segundo plano, em relação aos cachorros. O gato sente necessidade de estar próximo do ser humano, apesar da fantasia negativa que se criou em torno desses belos animais, os associando ao mal, na figura do gato preto, ao azar ou aos presságios ruins. Sem falar da canção popular "Atirei o pau no gato", que fez parte o imaginário infantil por séculos", disse.
Literatura
Durante a reportagem, o casal de bichanos, companheiros do artista, desapareceu. Não quis dar o ar da graça. Coisas de gatos, claro! Mas, o certo é que a homenagem aos felinos, feita pelo professor Domenico, se estende também ao terreno da literatura. A obra "Gatos, Amigos Pra Cachorro", lançada em 2015, celebra a convivência amorosa e, por que não dizer, até generosa dessas misteriosas criaturas com os amigos e familiares do autor.
Por meio de crônicas, contos e poesia, o escritor narra as aventuras e desventuras dele e de outros na companhia dos seus bichanos. A alegria da convivência e a tristeza pela perda, por desaparecimento do bicho, ou por morte do mesmo, pontuam cada história, cada relato de quem sabe o quanto é prazeroso ser criado por um gato. Pois, como reza outra lenda, eles é quem escolhem você como parceiro de vida, e não o contrário.
"No livro, eu conto histórias reais, de relações duradouras, e outras nem tanto, mas muito profundas com os gatos, que já passaram por essa vida, ou os que ainda estão por aí, nos pedindo ou oferecendo carinho", disse, com os olhos marejados, enquanto finalizava mais uma peça de papietagem, mais um gato a ganhar vida.
Livro
156
É o número de páginas do livro Gatos Amigos Pra Cachorro, que pode ser adquirido através do Facebook: Domenicosavio Rocha Cavalcante
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