terça-feira, 31 de outubro de 2017

CearádeAtitude: Michael Gandhi e a matemática para além dos números

Neste outubro, mês em que se comemora o Dia do Professor, a série especial Ceará de Atitude mostra a história de Michael Gandhi, professor da rede pública estadual que transforma a si e o outro pela educação

“Tudo está na forma de ensinar”. É assim que o professor de matemática Michael Gandhi, de 38 anos, ressignifica os números em sala de aula. As fórmulas e os cálculos, ele confirma, são mais que algarismos: eles podem mudar a realidade do aluno. “Há 15 anos, eu me dedico a ensinar matemática. É algo que, realmente, me dá prazer. Ao acordar, penso: o que eu posso fazer de diferente para mudar a prática em sala de aula?”, preocupa-se.

Professor da rede estadual de ensino desde 2003, Gandhi carrega no nome a vontade de fazer o outro se descobrir por meio da educação. E é na Escola de Ensino Fundamental e Médio José de Alencar, no bairro Messejana, em Fortaleza, onde o mestre em Matemática estimula os alunos a olharem para si e para o outro. Os prêmios expostos na biblioteca da escola refletem a dedicação, dele e dos estudantes.

“A escola, pelo porte dela, pelo nome, pelo que ela faz pela comunidade, nunca havia participado de feiras. Nem da Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor), nem de feiras estaduais”, relata o início da vontade de ir além, em 2014. O primeiro projeto coordenado por Gandhi foi relacionado à mobilidade.

“Peguei alunos da base e montamos, juntos, um projeto simples, em que nós pudéssemos utilizar a matemática para o bem da comunidade. Então, fizemos um trabalho com as rampas de acessibilidade, onde eles avaliavam, por meio da matemática, se as rampas eram adequadas ou não”, orgulha-se. O projeto, que posteriormente virou aplicativo (Check Rampa), foi bem avaliado na Feira Nacional de Matemática, na Bahia, e conquistou o 2º lugar na Feira da Sefor, em 2014.

No ano seguinte, ele rememora, vieram novos desafios. “Elaboramos um projeto para trabalhar a educação financeira dos alunos. Não apenas para eles, mas também para mudar a realidade deles dentro de casa”, explica o professor. “O projeto consistia na visita a lojas de Messejana para verificar se, de acordo com determinado produto, a prestação estava correta; e quanto o aluno poderia colocar no banco, para render juros, e como ele poderia adquirir o mesmo bem gastando menos”, detalha.

Ideias, entrega e resultados

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E os resultados não demoraram. Conforme registrou a Secretaria da Educação (Seduc), a escola teve, em 2016, 70 alunos ingressados em universidades públicas, além de 30 estudantes que conseguiram bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni) em universidades e faculdades particulares. Os números são mais que o dobro dos contabilizados no ano anterior, quando a escola somou 30 alunos em universidades públicas e 14 em particulares, por meio do ProUni. “Batemos o recorde de aprovação”, comemora.

Os bons resultados trouxeram novas ideias. Gandhi construiu a Olimpíada de Matemática na escola – projeto que deu origem ao José de Alencar Olímpico, programa que reúne professores voluntários para aprimorar as expertises dos alunos em matemática, química, física, biologia e história. Além disso, montou, em agosto último, o ProEnem JA. “É um cursinho preparatório para os alunos do José de Alencar, no turno da noite. Nós temos, de segunda a quinta-feira, 30 alunos que assistem aulas regularmente, com calendário fixo”, conta.
Além das provas do Enem, o ProEnem JA foca nos resultados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – prova que colocou o Ceará em destaque no Nordeste e no País, com resultados divulgados na última quarta-feira (25).

Mas não é só pelas notas e resultados que Gandhi deixou de lado a profissão de engenheiro civil e entregou-se ao magistério – trabalhando três turnos por dia, fins de semana e feriados. “Apenas com educação eu consigo mudar a realidade do aluno. A matemática faz parte disso, pois ela está no cotidiano de todos. Ensiná-la, para mim, é tudo. É o que eu gosto de fazer e quero fazer por toda a minha vida”. E insiste: “Se eu não fosse professor, não sei o que seria”.

Assista ao vídeo da entrevista 

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