sábado, 4 de novembro de 2017

Cresce número de adeptos das pedaladas na Região do Cariri

Os passeios noturnos têm reunido mais praticantes em Juazeiro. Seja por lazer ou por saúde, eles acreditam que essa seja a forma mais segura ( Fotos: Antonio Rodrigues )

Mountain Bike é outra modalidade que ganhou destaque no Cariri nos últimos anos. Atualmente são realizadas, em média, seis competições por ano na região
Juazeiro do Norte. Antes de o relógio badalar, as primeiras bicicletas começam a chegar à Praça Padre Cícero. O local ganha o colorido das roupas dos ciclistas, que se reúnem no ponto de encontro. Às 19h, o grupo parte para o Sítio Leite, passando pela Palmeirinha e pelo Açude dos Carneiros. Com o retorno, o trajeto é de 30 quilômetros. Mas esse é apenas o primeiro pedal da semana. Até quinta-feira, centenas de pessoas praticam o ciclismo como atividade esportiva de lazer, saúde e interação, atividade que só cresce em Juazeiro do Norte.
Um dos organizadores destes pedais é o mototaxista Josevaldo Oliveira, conhecido como Jó, que começou a pedalar por orientação médica, há três anos. Na época, pesava 120Kg e estava com problemas na pressão arterial e colesterol. Hoje, pedalando cinco vezes por semana, ele atingiu 80Kg. No início, se reunia com mais dois amigos. O grupo foi crescendo e atualmente conta com 256 pessoas. No entanto, a cada dia, cerca de 40 a 50 pessoas fazem os trajetos, variando os participantes. Mas o recorde, em um só passeio, chegou a levar 173 ciclistas.
"A gente não deixa ninguém para trás. Iniciante ou experiente. Se furou pneu, conserta, quebrou a corrente, ajeita. É isso aí. Mas toda semana é uma rota diferente. Tem uma que a gente vai até o Arajara e passa pelo Crato. São 47Km. Eu organizo somente na boa vontade de ajudar o próximo, pois, no ciclismo, somos todos iguais", conta Jó.
O grupo reúne, na maioria, pessoas adultas. Há médicos, engenheiros, policiais, donas de casa. Cada um leva sua água de casa, mas, durante o dia, já faz a hidratação, enquanto Jó leva a rapadura para repor as energias durante o passeio. No trajeto, os ciclistas adotam comportamentos diferentes. Alguns gostam de conversar, outros focam mais no percurso e em manter o ritmo.
A comerciante Leila Menezes conta que sempre gostou de pedalar junto com o marido, mas achava perigoso os dois sozinhos e encontrou no grupo uma segurança. Há mais de um ano se juntou a eles. "Foi ótimo, maravilhoso! No trajeto, vou conversando com o pessoal quando não é muito puxado. Com o grupo, me sinto tranquila. Mas, quando vão dois, três, não me sinto segura", conta Leila.
A agente de trânsito Adjanir do Nascimento sempre gostou de pedalar, mas optou pela atividade por causa da saúde. Sua família tem histórico hipertensão e obesidade, então adotou a bicicleta por precaução e também por prazer. "Os locais de caminhada, às vezes, têm muita poluição. Com a bicicleta a gente pode percorrer trilhas mais rurais, longe da poluição e dos perigos do trânsito", garante.
Trânsito
Juazeiro do Norte tem a segunda maior frota de veículos do Ceará, com cerca de 106.768 registrados no Município, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). As ruas ficam lotadas e os ciclistas disputam os espaços com carros, motos, caminhões, entre outros.
Segundo o empresário João Almeida, que todo dia vai ao trabalho de bicicleta, a cidade não oferece ainda as condições de acomodar esse modelo de transporte. "É complicado, é uma aventura. Como é o mais sensível, ele fica mais vulnerável a colisões. Já sofri uns 'tricas', fui ao chão. Os motoristas até respeitam, mas não tem estrutura, as ruas são desniveladas, tem esgoto. Em pleno Centro tem esgoto a céu aberto! Não é culpa das pessoas, é das gestões públicas. O esgoto na Rua São Pedro toma largura de 80cm de cada lado. Ali são espaços ociosos e poderia se criar uma ciclofaixa. Ganharíamos esse espaço sem prejudicar", opina João Almeida.
A agente de trânsito Adjanir do Nascimento acredita que Juazeiro do Norte tem estrutura boa para a bicicleta, mas que os pedestres e condutores de veículos têm pouco respeito pelos ciclistas. "A cidade tem espaço para comportar as bicicletas, como tem para as carroças que provocam um problema muito maior no trânsito, mas o pessoal está acostumado e virou tradição. Mas vejo uma certa antipatia com os ciclistas", aponta.
Obras
Algumas obras de mobilidade urbana impulsionaram a atividade de ciclismo na região. A primeira foi a ciclofaixa na Avenida Ailton Gomes, construída em 2016. Já em agosto deste ano, o Governo do Estado do Ceará inaugurou a ciclovia que liga Juazeiro, Crato e Barbalha, com um total de 17Km. Outra ciclovia foi construída junto com o Anel Viário.
Segundo Josevaldo Oliveira, as ciclovias e ciclofaixas foram conquistas dos ciclistas locais que foram às câmaras municipais de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha pleitear essas construções. Enquanto João Almeida, acredita que foi um marco, pois mostrou que é possível tomar um espaço ocioso, como o canteiro central, e transformar em um lugar habitável.
"O grande ganho dessas ciclovias, intangível, é mostrar para as outras pessoas que existe um modelo de transporte que precisa ser respeitado. Investir em ciclovia pode reduzir o aumento no número de carros em circulação. Nossa geração vai continuar lutando por mais ciclovias e ciclofaixas em nossa cidade", afirma o empresário.
No entanto, Adjanir do Nascimento aponta que a ciclovia que liga os três municípios beneficia, principalmente, aqueles que usam a bicicleta como transporte para o trabalho, pois não comporta muitos ciclistas e ainda concorre com o espaço dos pedestres que fazem caminhada e corrida. "Não é adequada para a prática esportiva, pois a gente que tende a desenvolver um ritmo maior. É insegura para iniciantes. Se cai ali, está cercado por duas faixas de ultrapassagem. A trepidação no asfalto é grande, principalmente para quem anda na modalidade speed", explica a agente.
Mountain Bike
A modalidade é outra que ganhou destaque no Cariri nos últimos anos. Atualmente são realizadas, em média, seis competições por ano na região, como o Desafio 6 horas MTB, que chega à 16ª edição em dezembro deste ano. O local preferido para a prática é a Chapada do Araripe, que possui diversas trilhas exploradas pelo Turismo Ecológico e que, nos fins de semana, são ocupadas por ciclistas.
Segundo o advogado Raimundo Soares Filho, praticante de MTB, a modalidade ainda é pouco divulgada. "Os lojistas investem quase nada e os gestores públicos praticamente ignoram o esporte. São raros os casos em que os prefeitos apoiam a competições ou passeios ciclísticos em seus municípios", coloca.

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