Juazeiro do Norte. Criada pelo Padre Cícero, que estimulava os romeiros a visitarem seus entes queridos sepultados na cidade, a Romaria de Finados se tornou a maior deste Município do Cariri. A estimativa é que, neste ano, 300 mil pessoas passaram pela cidade durante os cinco dias de peregrinação, iniciada em 29 de outubro e encerrada ontem, com duas celebrações religiosas. A primeira missa, pela manhã, reuniu milhares de fiéis na Praça da Capela do Perpétuo Socorro, onde está sepultado o corpo do "Padim". Em seguida, ao meio-dia, ocorreu a despedida dos romeiros, na Basílica de Nossa Senhora das Dores.
A Prefeitura, em parceria com a Basílica de Nossa Senhora das Dores, organizou a Romaria de Finados. As secretarias agiram em conjunto para atender à demanda na cidade, que dobrou a população neste período. "Nós estendemos nossos serviços. Além das ações realizadas nas romarias passadas, aumentamos o número de agentes de romaria e criamos manual do romeiro. Esperamos que na Romaria das Candeias possamos colocar outras ações que já estão dentro do nosso planejamento", antecipa o secretário de Turismo e Romaria, Júnior Feitosa.
Economia
Nesta época, Juazeiro recebe dezenas de comerciantes, que aproveitam a peregrinação para aumentar a renda. É o caso de Fernando Fernandes, que há 25 anos vem de Triunfo (PE) para vender rapadura. Neste ano, ele trouxe três toneladas. No próprio caminhão, ele vende junto com seu filho. Lá, eles passam seis dias, dormindo ao lado do veículo, em redes improvisadas.
No entanto, neste ano, muitos vendedores admitem que o movimento não foi tão bom quanto esperavam. A artesã Maria Helena, de Tacaratu (PE), que vende mantas e redes produzidas em sua cidade, acredita que o movimento foi fraco porque as pessoas foram afetadas com a crise econômica.
Devoção
Apesar da crise, o bispo Gilberto Pastana, da Diocese de Crato, destacou o número de romeiros presentes nesse período, acrescentando o problema da seca em alguns estados do Nordeste. "A Romaria sempre supera nossas expectativas. As pessoas fazem disso um sacrifício para, cada vez mais, demonstrar sua confiança em Deus, sua fé e esperança", exalta o sacerdote.
Segundo Gilberto Pastana, a Romaria de Finados reporta ao fim dos tempos, mas também à vida eterna. Os romeiros vêm para rezar por seus entes queridos falecidos e pelo Padre Cícero. "Não vivemos aqui por acaso. Nós temos uma missão. Aqueles que confiam no Senhor sabem que a morte é uma passagem para a vida eterna. Nós precisamos, cada vez mais, viver os valores cristãos. A vida do Padre Cícero recorda esses valores, esses testemunhos e esse cuidado para com o povo", acredita o bispo.
Na Capela do Socorro, por exemplo, o costume foi criado a partir da visita ao túmulo do Padre Cícero. Lá, as pessoas levam objetos para tocar a sepultura do patriarca de Juazeiro do Norte. São terços, quadros, rosários, medalhas, estátuas, chaves, bonés, chapéus, documentos. "A gente gosta. É a fé no Padre Cícero", conta a romeira Graciete Barbosa, que viajou de Natal (RN).
Mas nem todos os romeiros visitam Juazeiro do Norte por causa da fé. A aposentada Genésia Mendes, 71, viajou, pela primeira vez, há 50 anos, de Petrolina (PE). Na época, ela veio por causa do passeio. Depois, começou a vir por devoção ao Padre Cícero. "Agora mesmo alcancei uma graça. O menino jogou uma bola em mim e fiquei dois meses sem poder caminhar. Pedi a Deus e ao Padre Cícero", conta.
Na viagem, muitos levam presentes para os parentes, amigos e até mesmo para revender. "Eu tô levando um caixa de rapadura para dar aos amigos", conta o aposentado Hermes Gomes, de Gararu (SE). Enquanto o conterrâneo, Manoel Vieira dos Santos, auxiliar de serviços gerais, leva panelas de alumínio, roupas e redes. "A gente gasta com hospedagem, alimentação, presentes, tudo dá cerca de R$ 1.500 a R$ 2 mil. Mas aqui é mais em conta", confessa.
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