Quixadá. Em matéria de sétima arte, a "Hollywood do Sertão", como esta cidade do Sertão Central, a 168Km de Fortaleza, é conhecida por muitos cineastas, está começando a despontar nos bastidores. Estão surgindo produções autorais independentes, a partir do incentivo da Escola de Cinema do Sertão, que chegou à cidade no segundo semestre de 2014. A cada turma, são capacitados, em média, 40 alunos, inclusive de cidades vizinhas, como Banabuiú, Choró, Ibaretama e Ibicuitinga.
Com as produções na mão, o Cineclube Cinema de Pedras, um projeto contemplado por um Edital de Cinema e Vídeo de 2015, da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), está levando as exibições para as escolas da cidade, o público do Ensino Fundamental. São 17 produções, com temas variados, todas educativas, focadas principalmente nas relações humanas e no meio ambiente. No complemento da ação, são dadas aulas de produção cinematográfica.
Ideia
A ideia do Cinema de Pedras é do produtor cultural Fábio Márcio de Almeida. Com habilidade nas mãos e o desejo criativo na cabeça, há mais de 10 anos ele passou a se interessar pelos desenhos digitais, mas naquela época, ter acesso à tecnologia era muito caro. Hoje está mais fácil. Os notebooks, as mesas digitalizadoras e os celulares estão ajudando. As aulas na Escola de Cinema, promovidas pelo Instituto Assum Preto, multiplicaram os pequenos produtores.
O processo se fortaleceu a partir do fim de 2015. O projeto cinematográfico de Quixadá promoveu o I Encontro de Formação para Cineclubistas e Exibidores na cidade. Entretanto, o objetivo passou a ser de fortalecer as produções locais. Nas escolas, além do entretenimento audiovisual o modelo serve para avaliar os trabalhos. Estão superando as expectativas, acrescenta o instrutor Antônio Castelo, se referido à atenção dos estudantes às exibições. Alguns até duvidam das criações de outros estudantes.
Referência
O Cinema de Pedras, referência à peculiaridade geográfica do Município, busca reunir e alcançar um público diferenciado, produtores e pesquisadores da área do cinema e do audiovisual, já que, na cidade, há diversas instituições acadêmicas com cursos de produção audiovisual, como a Faculdade Cisne, com o curso de Produção de publicidade, e, o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), onde atualmente funciona a Escola de Cinema e o Núcleo de Pesquisas e Experimentos Audiovisuais (Navi).
Para o coordenador do Navi e também da Escola de Cinema do Sertão, o realizador audiovisual Geraldo Cavalcanti, Quixadá tem um excelente potencial na área cinematográfica, todavia, trata-se de um processo demorado até a consolidação de um núcleo especializado, como ocorre com as produtoras de Hollywood, e nos tempos da Atlântida, década de 1940 e ao longo dos anos 1960, quando o cinema brasileiro chegou a ter uma "fábrica de filmes".
Fomento
A Escola de Cinema está fomentando os conhecimentos básicos para as produções, mas se faz necessário conhecer melhor todo o processo, de criação e de linguagem e estética audiovisual. O Navi cuida dessa outra parte. Além desses elementos, os participantes precisam aprender a combinarem suas propostas às ações institucionais com o poder público regional, como exemplo, a captação de recursos financeiros por meio de editais. "Dominando essas áreas, eles vão 'bombar'", acrescenta.
Fábio Márcio vê sua proposta como uma agência colaborativa em cinema. Segundo ele, é importante porque a comunidade do Sertão Central, em especial Quixadá, é carente de ações e projetos que possibilitem o compartilhar de experiências coletivas que garanta a livre expressão artística, política, ideológica e filosófica da comunidade local.
O Cineclube colabora com a promoção da autonomia do pensamento, de seus integrantes, especialmente do público envolvido diretamente nas ações de exibição. "O nosso Cinema de Pedras encontrou espaços onde antes se imaginava não existir", completou.
Fortalecimento
Para produtores conhecidos como Adriano Souza, do Instituto Assum Preto, que neste ano realiza o XII Encontro dos Mestres da Cultura do Mundo, o Cineclube, a Escola de Cinema e o Navi fortalecerão a produção cinematográfica na região. Esses mecanismos vão, inclusive, viabilizar a introdução dos profissionais de Quixadá e das cidades vizinhas no mercado cinematográfico nacional, vez que o cenário do Município é muito requisitado pelos produtores. Ele cita "Área Q", "Cine Holiúde" e "O Shaolin do Sertão" como exemplos.
Fique por dentro
Conheça a história dos cineclubes
O Cineclube é uma associação sem fins lucrativos, que estimula os seus membros a ver, discutir e refletir sobre o cinema. Esse modelo surgiu nos anos 20 do século XX na França e no Brasil, em 1929, com o Cineclube ChaplinClub, no Rio de Janeiro.
Os cineclubes foram responsáveis pela formação cinematográfica de grandes cineastas, entre os quais se podem destacar Glauber Rocha, Cacá Diegues, Jean-Luc Godard e Wim Wenders.
No Brasil, o Movimento Cineclubista experimenta um processo de intensa rearticulação, resultando na reorganização do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC), entidade cultural sem fins lucrativos, filiada à Federação Internacional de Cineclubes (FICC).
Nenhum comentário:
Postar um comentário