Crato. A pé ou a cavalo, a Festa da Santa Cruz da Baixa Rasa chegou à sua 104ª edição ontem, com cerca de 2 mil pessoas, sendo 600 vaqueiros. Alguns, percorrendo quilômetros, vindos de cidades vizinhas e, até mesmo de Pernambuco. O evento anual ganha, cada vez mais, caráter de romaria e, em 2015, foi tombado como Patrimônio Material e Imaterial do Município.
A festa reconta a história do vaqueiro que passava pela região, vindo de Pernambuco, montando seu cavalo, quando se perdeu na Chapada do Araripe. Os mais velhos dizem que ele ficou perdido por dias, com fome e sede, até ser encontrado pouco antes de morrer. Foi enterrado ali mesmo. Há exatos 104 anos, a primeira missa no seu túmulo foi rezada e, com o tempo, a peregrinação cresceu. Ao redor da sua cova, várias outras apareceram, pois outros vaqueiros pediram para ser enterrados por lá. Hoje, parece um cemitério popular no meio da floresta.
Segundo o secretário de Cultura, Wilton Dedê, a festa não teria sentido sem a presença da comunidade e expressões culturais, que residem nos grupos de tradição. Além dos vaqueiros, o evento recebeu o Reisado do Mestre Aldenir, a Lapinha da Mestre Zulene e a Banda dos Irmãos Aniceto. Sua produção durou 60 dias, com os grupos culturais e de vaqueiros já mobilizados e participação na organização de diversos órgãos. "A responsabilidade do Poder Público aumentou. Com o tombamento, é obrigado cuidar", pontua.
Para o prefeito de Crato, Zé Ailton Brasil, que acompanhou o evento, a celebração representa o homem do campo e a população abraça em homenagem aos antepassados. "É tradição, folclore. Já faz parte do Município. É aqui, hoje, que começa nosso calendário cultural e a gente vai mostrar nossa cultura para todo Ceará", garante.
Tradição
Há 45 anos, o agricultor Antônio do Nascimento vai à Festa da Santa Cruz da Baixa Rasa. No começo, ainda criança, ele vinha a pé, com as pessoas mais antigas de sua comunidade. Ele conta que, na época, muitas mulheres vinham pagar promessas, dando comida aos vaqueiros. "Era uma santa na mão e a comida na cabeça. Aí, era muito grande a festa. Cavalo era pouco. A graça mesmo era a pé. Mas foi chamando atenção a cada ano que passava, aí pegou a tradição de vir a cavalo", lembra.
O vaqueiro José Nilton acredita que a festa mostra a luta do povo do campo, que, a cada ano, aumenta mais. "É uma cavalgada sadia. Venho com minha proteção, primeiramente Deus, segundo, a roupa de couro". Já Junior Isidório, colega de cela, acredita que o evento é um encontro onde cada grupo monta seu "bloco", faz suas camisas padronizadas e cavalga. "Se fosse domingo, teria o triplo", pontua.
O sucesso da cavalgada atraiu o agricultor Messias da Silva, que percorreu 30Km, de Nova Olinda até o Crato, a cavalo. "Os amigos me convidaram, como eu gosto de cavalgada, vim", afirmou Messias.
Um dos remanescentes da primeira família a realizar a missa na Baixa Rasa, o aposentado Expedito Manoel dos Santos, teve seu primeiro contato com o local aos 7 anos, trazido por sua vó e sua mãe. No lombo de um jumento, o menino carregava uma carga de água e outra de comida para dar aos vaqueiros. Era essa a promessa de sua bisavó, a Mãe Pretinha, que pediu para que uma doença não chegasse à sua família. "E fazia um terço todo ano", garante Expedito, que mantém a tradição, acompanhando a festa anualmente.
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