O deputado Capitão Wagner (PROS) nunca fez uma manifestação incisiva sobre, nas eleições deste ano, ser candidato a governador do Estado do Ceará. O seu projeto é ser eleito, em outubro vindouro, deputado federal, razão do rompimento com o seu parceiro, deputado federal Cabo Sabino. Wagner está determinado a, como integrante do Congresso Nacional, disputar pela segunda vez a Prefeitura de Fortaleza, sem o risco de ficar sem mandato.
O seu discurso, no plenário da Assembleia, na última quinta-feira, desancando a oposição cearense, da qual faz parte, embora tenha tentado demonstrar a diferença do seu comportamento com o dos demais, tirou de cima de si o peso da responsabilidade que lhe imputavam de ser candidato à sucessão do governador Camilo Santana (PT), como faziam quando Eunício compunha o bloco. Não se ouvia, nos últimos tempos, pronunciamento tão duro contra a oposição no Ceará, quanto o feito pelo Capitão Wagner, no dia seguinte à sua filiação ao PROS, na última quarta-feira.
Foi um verdadeiro libelo. Por suas palavras, só ele é oposição verdadeira neste Estado, posto o comprometimento de algumas lideranças defensoras da indicação de um candidato contra Camilo, estarem engajadas no projeto de reeleição do senador Eunício Oliveira (MDB), hoje um aliado do governador, de quem divergia até bem pouco tempo, desde quando ambos credenciaram-se para disputar as eleições de 2014. Eunício, realmente, tem o apoio do PSD e do Solidariedade cearenses, além de filiados ao PSDB, para continuar senador.
Sinalizada
E por isso Wagner tem razão. Uma coligação dividida é uma coligação derrotada. Mas sua decisão de dar um basta nessa onda oposicionista de ser ele o nome para disputar com Camilo, já havia sido sinalizada em alguns dos encontros, para tratarem da questão. Pelas exigências que fazia para assumir a condição de candidato majoritário estava explícita sua aversão ao projeto. Os resquícios da disputa pela Prefeitura de Fortaleza, em 2016, parecem estar ainda muito presentes em sua memória.
Ele precisa, assim deve entender, de mais tempo para adquirir um nível tal de musculatura que o deixe menos dependente de outras lideranças políticas na condução de uma nova postulação majoritária.
Mesmo alquebrada, a oposição vai ter candidato. Pode ser um nome, em alguns aspectos, até bem melhor que o do próprio Wagner. E o Capitão deve votar no escolhido, pois do contrário estará ajudando o governador a ter um segundo mandato. Em toda eleição sempre tem uma boa parte do eleitorado determinada em votar contra quem é Governo. E se o adversário ajuda, como foi o senador Tasso Jereissati (PSDB) em 1986, derrotando Adauto Bezerra; e Cid Gomes, em 2006, impedindo Lúcio Alcântara de ser reeleito, a perspectiva de sucesso eleitoral não deve ser descartada. Dessa forma, mesmo muito machucada como está, a oposição não deve ser desprezada.
Tonta
O discurso de Wagner, da quinta-feira, foi o golpe maior sofrido pelos adversários de Camilo ao longo dos últimos meses. A decisão do senador Eunício Oliveira de desgarrar-se do grupo que quer enfrentar o governador estremeceu as bases oposicionistas. Deixou-as tonta. Ele era o animador de todos, com discursos contra o Governo e transmitindo a esperança de ser o aglutinador da chapa majoritária concorrente, posto estar, ao longo de mais de dois anos, sendo apresentado como candidato novamente ao Executivo estadual.
A decisão da deputada Gorete Pereira de tirar o PR da oposição para ser Governo, mais recentemente, também foi ruim, mas a fala de Wagner, acusando de traição alguns dos que o estimulavam a ser o cabeça de chapa na sucessão estadual, feriu mais profundamente ao deixá-los, os explícitos e implicitamente citados, em situação de vulnerabilidade, e, consequentemente desacreditados para acordos futuros se não reordenarem seus posicionamentos. Hoje, e enfatize-se bem, Eunício é governista, não é correto com as oposições, quem dela faça parte, como liderança, desprezar um dos candidatos ao Senado da chapa adversária do governador para votar num governista.
O discurso de Wagner, pela sua contundência, não o fará candidato a governador. Se ele já não queria a incumbência, a partir de sua fala nem mais a oposição o quer, mas ele deu uma grande contribuição ao grupo.
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