Sobral. Após quase duas horas de tentativa, deslizando o pequeno barco de um lado a outro do Açude Ayres de Sousa, o pescador Ângelo Ribeiro, 33, recolhe todo o material utilizado para a captura de peixes, e decide voltar para casa com o cesto praticamente vazio. Apesar do tempo nublado e das pancadas de chuva das últimas semanas, os dias para pescaria não têm sido os mesmos de anos atrás, quando a fartura enchia de certeza a vida dos pescadores do distrito de Jaibaras, neste Município do Norte do Estado.
Hoje, com a falta do cará tilápia, espécie antes abundante no Açude, e bastante consumida na região, o jeito é buscar outro tipo de atividade. "Minha mulher trabalha como doméstica e eu faço pequenos bicos como pedreiro; assim consigo manter as contas em dia. Faz tempo que o povo deixou de pescar por aqui. Eu fico por teimosia, mesmo, porque foi isso que aprendi com meu pai", conta.
Queda
Atualmente operando com 46,47% de sua capacidade, o Açude Ayres de Sousa, em nada lembra sua importância no passado para o desenvolvimento do projeto de piscicultura local, com apoio de tanques-redes, no ano 2000. As atividades eram realizadas com sucesso por 19 comunidades que, juntas, chegavam a produzir cerca de 150 toneladas de cará tilápia por mês. Hoje, o número de comunidades caiu para três, e a produção do pescado bate a casa das 10 toneladas para suprir o mercado local, mensalmente.
Das três associações que gerenciavam a pesca dentro do projeto, apenas uma se mantém em funcionamento, assim como o complemento da produção local realizado por dois produtores particulares. Além das sucessivas secas, que mudaram para pior a situação do Açude, outras dificuldades se fizeram presentes no que se refere ao colapso do projeto no Município.
Procura
No Mercado Central de Sobral, por ainda ser um peixe de valor mais acessível, o cará tilápia continua sendo bastante procurado; mas, por conta da crise na produção local, o peixe consumido na cidade tem vindo de Camocim, no Litoral Oeste cearense, ou de criatórios pernambucanos. "Essa foi a forma encontrada para manter venda, porque é um peixe barato e gostoso", afirma Manoel Dias, peixeiro do Mercado, que tem cobrado, em média, de R$ 12 a R$ 15 por esse tipo de pescado.
"Eu ainda acho um bom preço, se comparado a outros peixes. Mas, na época em que era vendido nos bairros, no Caminhão do Peixe, era bem melhor", lembra a dona de casa Maria de Lourdes Serra, enquanto embalava um quilo e meio da tilápia para o almoço da família de quatro pessoas.
Retomada
"Com o declínio da produção e a determinação do Ministério Público do Estado do Ceará, o projeto de produção local de cará tilápia foi comprometido quase por completo. O caminhão era voltado àquelas comunidades mais carentes de Sobral, que tinham acesso, semanalmente, a um produto mais acessível. Essa atividade foi encerrada ainda no ano passado", lamenta Aquiles Moreira de Moraes, engenheiro de pesca da Secretaria de Agricultura de Sobral. Ao mesmo tempo, ele revela o novo momento que o Município vive de retomada dessa produção.
"Estamos entrando com o novo projeto tecnológico de cultivo de tilápia em bioflocos, o que diminui o volume de água necessário ao cultivo, além da utilização de bactérias essenciais para estabilizar os parâmetros de qualidade da água, com ajuda de gerador", explica.
O projeto piloto está sendo implantado na Comunidade de São Domingos, às margens do Jaibaras, com aproveitamento de um tanque que já existia no local. "Estamos em fase de licitação para a compra do gerador e de outros equipamentos", detalhou o engenheiro.
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