Maria de Tiê se apresenta por todo Cariri.
(Foto:
Alexsandro Vinícius Melo da Costa)
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Maria
Josefa da Conceição, conhecida popularmente como Maria de Tiê, é uma das
figuras responsáveis pela transmissão dos saberes culturais no Cariri. Nascida
na Comunidade Quilombola de Souza, no Sítio Vassourinhas, em Porteiras, ela é bisneta
de Raimundo Valentim de Souza, ex-escravo que fugiu de Pernambuco em busca de
liberdade. Foi no município caririense que ele casou e constituiu família.
Banda cabaçal, reisado, roda de coco e maneiro-pau foram algumas das tradições
que passaram de geração em geração, desde Raimundo até chegar à mestra,
considerada uma das principais representantes da cultura popular local.
É
com orgulho que Maria de Tiê diz ter aprendido os ensinamentos de seu pai na
comunidade quilombola. Atualmente, ela possui grupos de dança de coco e
maneiro-pau, tanto de crianças e adolescentes como de idosos. “Junto todos numa
roda, toco pandeiro e canto aquelas músicas de toada, como meu pai fazia com
minha mãe”, explica, ao dizer que em suas letras presta homenagem à história
dos negros, da cultura negra e à comunidade dos quilombolas, que é um dos seus
motivos de orgulho. Entre as letras, ela dá como exemplo a que diz: “Pelo amor
de Deus, o meu povo da cultura são meu povo africano, o meu companheiro
amigo”.
Em
sua trajetória, Maria de Tiê já se apresentou em municípios como Crato,
Juazeiro do Norte, Itapipoca, Fortaleza, Caucaia e Salitre. Há, ainda, os
amantes da cultura, vindo de diferentes lugares como São Paulo, Brasília, Bahia
e cidades mais próximas, que a procuram para conhecer um pouco mais sobre a
riqueza cultural. “Eu não me apresento pelo dinheiro. Eu me apresento com o
amor que tenho à comunidade, à cultura, à minha cor”, enfatizou. Aos 58 anos de
idade, ela diz ensinar o que conhece para garantir a continuidade da tradição
para as novas gerações, já que nunca se sabe o dia de amanhã. “Eu tenho prazer
em ensinar o que eu sei. Por isso trago as crianças para dentro da cultura, até
o dia que não puder”, completou, agradecendo ao apoio da comunidade e de outras
entidades que acompanham o seu trabalho.
O
diretor municipal de Cultura de Porteiras, Ticiano Linard, explica que o
trabalho é realizado em conjunto com a Associação da Comunidade dos Quilombolas
de Souza da Chapada do Araripe, que é reconhecida pela Fundação Palmares. Há,
ainda, um suporte técnico para o melhor desenvolvimento de aplicabilidade de
políticas públicas, dentro da comunidade, que vai além do cultural, graças a um
trabalho desenvolvido em rede. “A gente trabalha na perspectiva de ter futuras ações
exitosas. A gente planta hoje para colher amanhã”, explicou.
Sobre
a Mestra Maria de Tiê, Ticiano diz haver orgulho em vê-la manter viva a
tradição de um processo de ancestralidade. “O reconhecimento deve ser feito no
município para se expandir. E vem desde quando realizamos um trabalho coletivo
na perspectiva que ele possa crescer. E isso a gente vê no amor que Maria tem
em realizar suas atividades com crianças e adolescentes passando o saber
adquirido”, enfatizou. Fonte: Jornal do Cariri
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