Centro de Convivência Antônio Diogo, antigo leprosário do
Estado,
completou 90 anos em agosto e ainda abriga 12 ex-pacientes que
ficaram
ali isolados por conta da doença. (Foto: José Leomar)
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Doença
milenar, da época de Cristo, a hanseníase ainda é grave problema de saúde
pública. No Estado do Ceará, entre 2008 e 2017, 20.353 novos casos foram
confirmados, sendo, em média, pouco mais de dois mil por ano ou 169 por
mês.
Em
Fortaleza, no mesmo período, foram 6.6 mil. Na comparação, houve uma redução da
ordem de 39% de confirmações em 10 anos no Estado e de 45% na Capital. Apesar
disso, alertam infectologistas, o parâmetro para os padrões da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde ainda é alto. A maior preocupação
agora é com a faixa etária até 15 anos de idade, cuja a taxa de detecção ainda
chama atenção.
Segundo
o mais recente boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa),
isso pode significar a existência de fontes de transmissão ativa da doença.
“Por isso, faz-se necessária a intensificação das atividades de controle para
frear a cadeia de transmissão e reduzir a taxa de detecção nessa faixa etária
para zero até 2020, como preconiza a OMS”, adverte a articuladora do Programa
do Controle da Hanseníase Estadual, Girlânia Martins.
Indicadores
De
acordo com o boletim, no Ceará, em 2008, a taxa de detecção em menores de 15
anos de idade foi de 6,6 para cada 100 mil habitantes. A taxa é a maior já
registrada e considerada muito alta pelos parâmetros do Ministério da Saúde. Em
2017 a taxa foi de 2,7 para o mesmo grupo populacional, uma redução de 59,1%. O
indicador passou de muito alta para alta. “A situação preocupa muito, pois
indica que, como a doença apresenta longo tempo de incubação até seus sintomas,
a pessoa adoeceu com menos idade ainda”, frisa Girlânia.
A
doença, informa, é fácil de diagnosticar, tratar e tem cura; no entanto, quando
detectada e tratada tardiamente pode trazer consequências para os portadores e
seus familiares, pelas lesões que os incapacitam fisicamente.
O
Centro de Dermatologia Dona Libânia, no Centro de Fortaleza, é referência no
diagnóstico e tratamento. Ali, a dona de casa Aline Maria Pereira aguarda a
consulta para a filha de 13 anos, Maria Juliana. Temerosas da repercussão
social no bairro que moram, elas não quiseram falar muito, mas a mãe conta que
a menina apareceu com manchas na pele e sem sensibilidade desde os 12 anos,
além de dormência. Mesmo assim, só decidiram procurar ajuda agora. O que é um
erro, aponta Girlania. “Logo nas primeiras manifestações é fundamental ir a uma
unidade de saúde”.
Leprosário
O
Ceará ainda guarda pesadas marcas do que foi a antiga Colônia Leprosário de
Canafístula, denominada atualmente de Centro de Convivência Antônio Diogo. O
local completou 90 anos em agosto passado e ainda abriga 12 ex-pacientes que
ficaram ali isolados por conta da doença, que naquela época não tinha cura.
Maria Iracy Torres Coutinho tem 70 anos e não se lembra quando foi levada para o antigo leprosário. Ela é uma das remanescentes. “Era jovem, mas já tinha homem, foi ele que me trouxe e foi embora”, discorre com tristeza. No local teve seis filhos, que acabaram sendo retirados de lá.
Maria Iracy Torres Coutinho tem 70 anos e não se lembra quando foi levada para o antigo leprosário. Ela é uma das remanescentes. “Era jovem, mas já tinha homem, foi ele que me trouxe e foi embora”, discorre com tristeza. No local teve seis filhos, que acabaram sendo retirados de lá.
O
atual diretor geral da unidade, Francisco de Assis Duarte, conta que alguns
pacientes não conseguiam nem falar direito até há pouco tempo. “A dor foi tanta
que eles simplesmente não suportavam articular ou expressar qualquer coisa que
lembrasse aquele tempo de isolamento do mundo”.
A
maioria dos dois mil internos que passaram pelo leprosário morreu ali mesmo.
Quem sobreviveu à enfermidade não superou a perda de laços familiares. São
poucos que recebem visitas. Duas filhas de Iracy costumam visitá-la vez por
outra. Em muitos casos as companhias são ex-pacientes e a equipe médica.
Centro
de Dermatologia
De
antigo "depositário" de seres humanos vítimas do bacilo Mycobacterium
Leprae, transmissor da hanseníase, o atual Centro de Convivência Antônio Diogo,
a 50 km de Fortaleza, reforçará as ações do Estado no combate à proliferação da
doença. A partir de novembro próximo, a unidade será um Centro de Dermatologia,
dando suporte ao Centro Dona Libânia, referência estadual no diagnóstico e
tratamento da enfermidade.
De
acordo com o diretor a ex-colônia, Francisco de Assis Duarte, o local terá
capacidade para atender toda demanda dos municípios do Maciço de Baturité,
possibilitando diagnóstico e encaminhamento para tratamento nas unidades
básicas de saúde. Diário do
Nordeste
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