Açude Castanhão. (Foto: Thiago Gadelha)
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Já
faz anos que o Castanhão agoniza, compartilhando os lamentos com o Orós. Logo o
diálogo se espalha, e mais 94 açudes do Ceará com volume abaixo de 30% da
capacidade se juntam aos dois. Atualmente, o Estado conta com apenas 12,5% da
capacidade total dos 155 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh) - secura que tem provocado fortes impactos
socioeconômicos, os quais ações voluntárias saídas da cidade ao campo tentam
amenizar.
Para
as populações do Interior, a escassez de água sufoca e causa a falta de tudo:
terra boa, emprego, comida, saúde e sustento básico; ausências visadas por
projetos não-governamentais como a Caravana dos Sertões, que viaja aos
municípios de baixa renda para regar esperanças. "Atendemos, em cada
local, cerca de 350 famílias com alimentos, garrafões de água, brinquedos e
kits de higiene pessoal. São quatro viagens por ano, e 100% dos recursos vêm de
doações", descreve o analista de sistemas e coordenador do projeto, Felipe
Abreu.
A
ação social, que hoje reúne cerca de 200 voluntários, surgiu há 18 anos, a
partir de um grupo de amigos que doava alimentos a pedintes na estrada para
Canindé. Hoje, o projeto mapeia os municípios mais afetados pela crise hídrica,
onde, muitas vezes, as ações do poder público são insuficientes ou nem chegam.
"O que as pessoas reclamam é da falta de oportunidades. Não tem nenhum
desocupado, mas artesãos, agricultores e pescadores que, com a seca, perdem a
profissão e não conseguem o próprio sustento", retrata Felipe.
Serviços
Além
de insumos básicos, segundo o voluntário, são fornecidos serviços sociais e de
saúde por odontólogos, médicos, psicólogos, advogados "e o maior número de
profissionais dispostos a ajudar". "O poder público é ausente, são
famílias totalmente esquecidas. Muitas vezes, se elas quiserem ir a um posto de
saúde, andam quilômetros até outra cidade. Tentamos fortalecê-los e levar mais
esperança, mostrando que alguém lembra, sim, de que eles estão lá",
observa.
O
coordenador da Caravana dos Sertões, que chega à 30ª edição em novembro e já
passou por municípios como Russas, Irauçuba e pelo Sertão dos Inhamuns,
ressalta a necessidade de se fornecer o básico - mas reconhece que as medidas
são paliativas.
"A
cesta básica acaba, dura no máximo um mês. Eles precisam de atenção
perene", alerta Felipe - apontando para a premissa de um dos projetos da
Associação Caatinga, outra entidade não-governamental com ações no Interior
cearense.
Associação
Caatinga
Criada
para proteger a Carnaúba, árvore-símbolo do Estado, a instituição se expandiu e
tem como um dos focos contribuir para a segurança hídrica em 30 comunidades no
Ceará, com cerca de 3.600 famílias. "Nós ajudamos a criar novas unidades
de conservação, para preservar o bioma Caatinga. Porque floresta em pé é igual
a disponibilidade de água", explica o coordenador geral da associação,
Daniel Fernandes.
Dentre
as ações realizadas pela equipe - parte contratada, parte voluntária -, lista
Daniel, estão a "disseminação de tecnologias sociais, como instalação de
cisternas de placa para captação de água da chuva; e implementação do sistema
bioágua, que incentiva o reúso da água do chuveiro ou da pia da casa em
atividades agrícolas". Segundo o coordenador, as tecnologias são de baixo
custo e geram impactos visíveis às comunidades sertanejas do Estado do Ceará.
"A
média diária é de 500 litros de água reutilizada. Numa região semiárida tão
populosa, com milhões de pessoas, é importante que ações como essa sejam
replicadas", pontua Fernandes, esclarecendo que os projetos da Associação
Caatinga são custeados por editais, patrocínios e doações de pessoas físicas ou
jurídicas, sem nenhum apoio governamental.
Poços
Em
resposta aos relatos de ausência de ações públicas no Interior, a Secretaria de
Recursos Hídricos do Estado (SRH) afirmou, em nota, que tem "desenvolvido
medidas em todos os 184 municípios, dentre elas o maior programa de perfuração
de poços já visto".
De
janeiro de 2015 a setembro deste ano, diz a Pasta, mais de 6 mil poços foram
perfurados, 1.484 chafarizes construídos e, pelo menos, 430km de adutoras
implantados no Estado.
Ainda
conforme a SRH, "as tomadas de decisão para a realização de cada uma das
medidas emergenciais acontecem semanalmente, durante reunião do Grupo de
Contingência, considerando a realidade de hídrica e a demanda de cada
município". Diário do
Nordeste
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