domingo, 4 de novembro de 2018

Artesanato juazeirense é presença em São Paulo


A designer Paula Dib reunida com artesãos que produziram peças para a exposição de Ai Weiwei. (Foto: Paula Dib)
“Tu já viu Padre Cícero cabeludo?”, questionou a primeira cliente do artesão Beto Soares logo quando ele iniciou a confecção das primeiras peças, aos 16 anos. “Aquilo foi ruim, fiquei triste, mas foi um incentivo”, lembra o profissional. Mais de três décadas depois no ofício de moldar imagens na madeira, o juazeirense soube pela televisão que seu trabalho está exposto em São Paulo entre as 70 obras que compõem “Ai Weiwei Raiz”, considerada a maior mostra já realizada pelo artista plástico e ativista chinês Ai Weiwei. A exposição está em cartaz em São Paulo, no edifício Oca, Parque Ibirapuera, até janeiro.  

Junto a Beto, mais três artesãos cearenses participantes da mostra têm suas trajetórias profissionais contadas pelo Verso. São eles: Severino Souza, Natan Alves e Nil Morais, cada um com diferentes perspectivas de trabalho no segmento e peças que exaltam a cultura nordestina. 

Foi Paula Dib a principal articuladora do contato entre Ai Weiwei e os artesãos cearenses, otimizando a participação deles na mostra. Em entrevista, a designer conta que o chinês ficou fascinado quando viu ex-votos expostos no Museu Afro Brasil, em São Paulo, partindo dali a ideia de se conectar aos artistas daqui.

“Ele ficou muito intrigado com a questão da técnica utilizada e do conceito atrelado à religiosidade. Várias coisas que diziam da nossa cultura podiam ser acessadas por meio daquelas obras. Então, ele me perguntou sobre aquilo e eu já conhecia os artesãos de Juazeiro do Norte de outras empreitadas. Foi aí que tudo começou”, relata.

Os trabalhos evocados pela profissional realizados em solo cearense dizem respeito aos projetos desenvolvidos junto a mestres do couro e sapateiros, na região do Cariri, entre 2011 e 2013. Em número de seis, eles foram incentivados a desenvolver mais tempo para cuidar de cada peça, com maior cuidado nos detalhes, sem a urgência de ter que vender barato nas feiras populares. “Um processo, então, de resgate e redirecionamento da técnica”, explica Paula.

Nessa mesma época, ela desenvolveu o documentário “A sandália de Lampião”, em parceria com Adriana Yañez e Antonio Lino, selecionado para a Competição Brasileira de Curta Metragem do Festival É Tudo Verdade, em 2014. A obra retrata a civilização do couro no Ceará através da história do mestre Espedito Seleiro, cujo pai fez uma sandália para o Lampião nos anos 1930.

“No entanto, meu conhecimento da região do Cariri vem de antes dessas atividades. Lá pelo ano de 2004 eu já estava lá, conhecendo os artesãos do Mestre Noza, mergulhando nesse caldo cultural tão forte próprio daquela área”, reitera. “Para a exposição, de forma particular, eu construí um processo com eles de forma que conseguissem transmitir o que o Ai Weiwei desejava, mas mantendo todo o imaginário e leitura de seus trabalhos. Então, não era uma encomenda estática, e, sim, algo que os artesãos tinham liberdade para construir junto com o artista”.

Saiba Mais
Há 18 anos, o Centro de Cultura Popular Mestre Noza não era reformado. Com investimento de R$ 241.371,24 – fruto da parceria do Ministério da Cultura e Secretaria Municipal de Cultura – a obra contempla a instalação de um Café Cultural e a criação de uma área de convivência para artistas e visitantes. Os espaços onde os artesãos criam suas peças estão sendo readequados para oferecer mais segurança e conforto. O fim dos trabalhos estava previsto para o último mês de outubro. Mais informações: (88) 3511-3133

Em números

32 é o número de artesãos cearenses que fabricaram ex-votos para a empreitada. Os profissionais reproduziram 300 peças do repertório do oriental, entre elas a mais popular, a mão com o dedo médio erguido simbolizando um gesto obsceno

Serviço 
Exposição “Ai Weiwei Raiz”. Até dia 20 de janeiro de 2019 no edifício Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo (Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Ibirapuera). Visitação: de terça a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Ingressos: R$ 20 (inteira)              Diário do Nordeste

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