domingo, 25 de novembro de 2018

Embaixador de Israel no Brasil prevê maior enfrentamento da seca no Nordeste


Embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley.
(Foto: Ericarlos Jesus)
A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República em outubro pode estreitar os laços entre o Brasil e Israel. O presidente eleito já sinalizou que sua política externa tende a se aproximar dos interesses do Estado judeu.

Atualmente, Israel colabora com ideias e ações para um dos principais dramas do País: a escassez de água no sertão nordestino pode ter um fim, e a solução deve vir de Israel, que tem se destacado como uma referência mundial no enfrentamento à seca. Na tentativa de solucionar o problema da estiagem no Nordeste, o presidente eleito já indicou um forte interesse pelos equipamentos e tecnologia de dessalinização de água usados pelos israelenses.

As usinas de dessalinização são algumas das inovações que ajudam a população israelense a enfrentar a escassez de água. Cerca de 80% da água potável consumida por eles é proveniente do mar.

Em entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares, o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, há dois anos no cargo, disse que o seu país tem muito a contribuir no combate à seca e ressaltou a parceria que já vem sendo implantada no Estado do Ceará.

A seguir, confira a entrevista com o diplomata.

Como tem sido a proximidade de Israel com o Brasil? E os benefícios dessa parceria?
Israel é um dos maiores países na área de inovação, pesquisa e desenvolvimento. Temos acordos com o Brasil, mas esses acordos foram um pouco resfriados.

Tivemos um acordo com o antigo governo como a fazenda modelo, que está sendo construída em Quixeramobim. Agora com o novo governo eleito, há a possibilidade de fazer outros negócios, e isso significa um grande momento e uma grande oportunidade para Israel. Devemos deixar a política de lado e fazer negócio. O objetivo é melhorar a vida do povo, aumentar a produção e fazer render mais.

Em relação ao Ceará, o que já tem sido feito e o que ainda está previsto?
O Ceará é um grande parceiro e não é indiferente do governo, temos a fazenda modelo, uma relação com a Universidade Federal do Ceará (UFC), com a troca de professores e estudantes com a instituição. Muitos israelenses estão vindo aqui para pesquisar as coisas da seca e agricultura, especialmente como usar a seca em favor da agricultura. A maior agricultura está no deserto, que não tem água e chuva, com estufas, tecnologias e sementes especiais que têm bactérias que ajudam a semente crescer mais. Essas coisas estão sendo feitas no Ceará por meio da fazenda modelo, já foram adquiridos equipamentos de dessalinização no início deste ano de 2018.

Como se deu a parceria com o Ceará? Foi por meio do governo federal?
O Ceará tem um acordo direto com Israel. Vamos fazer o consumo de água, gotejamento, dessalinização do mar, bombear água salobra, temos muito a fazer. Acho que a declaração do futuro presidente com outros países dá motivação pra fazer e temos uma grande corrida para ver o que fazer e trazer para o Brasil.

O que podemos esperar dessa parceria no combate à seca?
Vamos esperar a posse do novo presidente no dia 1º de janeiro, vamos tentar criar um programa total para acabar a seca, o governo tem interesse, é um plano não somente de dessalinização, vamos usar todas as tecnologias em um plano total.

Queremos fazer um planejamento de não somente tirar água, mas fazer programas de como usar, o que fazer com o esgoto que não é tratado. Vamos tratar e usar para agricultura, afinal no meu país 60% da água usada é reutilizada para agricultura e o custo diminui. Israel levou 30 anos para fazer essas pequenas usinas para purificação de esgoto, é um projeto total que durante 5 a 10 anos já traz resultados.

Quanto está sendo investido no processo de dessalinização?
Israel é um país que usa a força de empresário, o setor privado é o que dá um boom para o setor público, o setor público é o gerente, mas o setor privado é que vai fazer. Por exemplo, a obra da usina de dessalinização em Tel Aviv custou U$ 500 milhões e o governo israelense não pagou nada. Os empresários que fazem a Parceria Público Privada investem tudo e depois cada metro cúbico usado é pago e se não usado não paga. O valor é variável de acordo com a demanda. A ideia é impulsionar a construção da usina no Nordeste, e o futuro presidente irá fazer isso para acabar com a seca no Nordeste.

O que podemos esperar da relação Israel com o futuro governo? E a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém?
Não quero comentar sobre esse assunto, é um assunto político, é uma iniciativa dele, deixa ele decidir e fazer. É um assunto delicado, estou mais na área de engenharia e tecnologia. O governo quer fazer parcerias com Japão e Israel e não com Cuba e Venezuela e isso já é bem diferente. Espero que no governo Bolsonaro estejamos abertos para trocar ideias e ampliar o negócio, não tenho expectativa de dominar o mundo com o Brasil, mas o Brasil tem potencial para ser o segundo na economia.     Diário do Nordeste

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