No ano em que comemora 70 anos de sua fundação, a
Federação do Comércio do Ceará homenageia os mestres da cultura cearense. 16
Museus Orgânicos dos Mestres de Cultura Tradicional do Cariri serão inaugurados
fortalecendo as memórias daqueles que ainda guardam as tradições deste
território com seus saberes e experiências. Em setembro, aconteceu em Potengi a
abertura do Museu do Reisado de Couro dos Caretas.
O segundo museu com o conceito de
orgânico, apoiado pelo Sesc Ceará e pela Fundação Casa Grande, é o do
mestre flandeiro Francisco Dias de Oliveira, Mestre Françuili, e será
inaugurado também em Potengi – interior do Ceará, dia 15 de novembro,
às 16h. A data é véspera da abertura da Mostra Sesc Cariri de
Culturas, principal iniciativa de difusão cultural do Sesc Ceará, que congrega
2500 artistas de todo o País. O circuito artístico será realizado em 26
municípios da região e pretende atrair um público de 300 mil
pessoas para os shows, espetáculos, peças e apresentações tradicionais
durante cinco dias, de 16 a 20 de novembro.
Miniaturista e inventor
Nos olhos, o fascínio por aviões e, nas mãos, a
habilidade de moldar objetos, essa combinação transformou Francisco Dias de
Oliveira em um artesão mestre da cultura. Com uma lâmina flexível de metal,
material conhecido como flandre, tudo o que Mestre Françuili imagina se
materializa, hoje ele tem uma frota de 32 aeronaves e um grande acervo de
objetos que simbolizam o sertão. Sua casa tem espaço para guardar
ultraleves, helicópteros, foguetes e até disco voador, tudo em miniaturas
caprichosas e detalhistas, algumas até motorizadas, que ele reproduziu só de
olhar.
O pequeno tesouro do mestre Françuili, assim
como sua casa, espaço repleto de cores, formas e imaginação, agora são
inseridos em uma rede de espaços de memória da Região Cariri, promovendo o
fortalecimento de vínculos, o turismo social e a economia criativa do entorno.
Assim, é lançado o Museu Oficina do Mestre Françuili, um centro
cultural para visitação de estudantes, turistas e também
seus conterrâneos da cidade de Potengi, município da região
Caririense e terra-natal do artesão. Com a proposta orgânica do espaço de
memória, os visitantes são convidados a vivenciar a rotina do Mestre, conversar
sobre sua artesania, histórias e causos.
O flandeiro é um patrimônio vivo da inteligência,
destreza e inventividade do povo nordestino. Moldar miniaturas é um talento que
começou a desenvolver ainda na infância, quando viu primeira vez um avião
planar acima da plantação onde trabalhava e sua imaginação decolou junto com o
voo.
Quando criança, vivia dividido entre o trabalho na
roça e a feitura dos aviõezinhos. Desde esta época, ele já tinha ciência da
importância daquela arte, o que foi aos poucos mostrando para sua família e o
povo da cidade. “Desde de pequeno tenho o desejo de deixar uma história aqui e
trabalhei até conseguir isso. A história está feita! Agora é um museu, que se
Deus quiser agora vai até o fim”, diz Mestre Françuili.
Além dos brinquedos, ele constrói utensílios e
equipamentos, como fornos e pás, também adaptou baldes para coletar água nas
estreitas cacimbas do sertão. Inventou tubos de armazenar legumes e até hoje
sabe fazer os candeeiros que antigamente flamejavam para alumiar as casas.
O aprendiz deste ofício é o filho do artesão,
conhecido na cidade como José de Françuili, ele leva adiante a experiência de
seu pai na manufatura dos pequenos aviões e dos objetos domésticos, que são
vendidos tanto na loja do Museu, quanto no comércio local. “Meu pai me ensinou
a arte, estou muito agradecido e vou seguir a história dele. A inteligência que
ele me ensinou não é todo mundo que aprende não”, diz José, que agora é
responsável pelo museu.
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