quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Pesquisa revela as crenças religiosas dos cearenses


Peregrinos vão a Canindé para pagar promessas
e agradecer ao santo. (Foto: Thiago Gadelha)
O Ceará é de muitas crenças. É da fé em Deus, do culto a Jesus Cristo, das oferendas a Iemanjá, da doutrina espírita e também da negação da existência de divindades. Essa multiplicidade está expressa na inédita Pesquisa sobre Religiosidade no Ceará, elaborada pelo Instituto Opnus em janeiro deste ano. A partir de 2.100 entrevistas, realizadas em todas as regiões do território cearense, o levantamento traz o panorama atual da religiosidade no Estado.

Ainda que o catolicismo se mantenha predominante, sendo adotado por 66% dos entrevistados, o espaço para as demais crenças tem aumentado. A religião evangélica representou 21% das pessoas ouvidas. Já 6% dos estrevistados se consideraram ateus e 4% afirmaram ser religiosos, mas não seguem religiões específicas. Outras religiões, como as afro-brasileiras, as orientais e a espírita, alcançaram 2% do total. 

Em uma análise dos dados por região, a comunidade católica se faz mais presente em regiões que concentram grandes polos religiosos. Na área central do Estado, onde está situado o Município de Canindé, reconhecido pela devoção a São Francisco, o percentual de entrevistados católicos chegou a 70%. No Cariri, terra de Padre Cícero, e no Centro Sul, 4 em cada 5 pessoas ouvidas afirmou seguir o catolicismo. A população católica, equivalente a 80% do total, foi a maior dentre as regiões cearenses. 

“A concentração de católicos nessas regiões se deve, sem dúvida, à influência do catolicismo popular e à proximidade geográfica a centros simbólicos importantes, aos quais aportam romarias de longa tradição no Estado”, explica George Paulino, professor e pesquisador de Antropologia, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

Nos grandes centros urbanos, contudo, a religião evangélica, introduzida no Ceará no início do século XX, tem, nos últimos anos, encontrado brechas e feito cada vez mais fiéis. Enquanto no Interior o percentual de católicos ultrapassa os 70%; em Fortaleza, esse total só chega a 54%. “O fenômeno da religiosidade se mistura com a realidade social. Temos visto, de algumas décadas para cá, o movimento pentecostal entrando com força nas periferias das grandes cidades”, diz o cientista político Pedro Barbosa, coordenador da pesquisa do Instituto. 

Identificação
O sentimento de identificação de evangélicos com a religião ajuda a explicar, conforme mostra a pesquisa, que eles costumam frequentar mais seus templos do que católicos. Ao todo, 79% dos entrevistados que seguem o evangelicalismo afirmaram ir a cultos, pelo menos, uma vez por semana. Entre os católicos, a presença semanal à Igreja cai para 42%. 

“Justamente pelo Brasil ser um País de maioria católica, muitas pessoas se entendem católicas por tradição, porque vêm de famílias católicas, mas não têm vivência na religião. Evangélicos, como são de uma cultura mais recente, tendem a ser mais próximos dessa religiosidade”. 

Na contramão, a pesquisa revela que o Estado também presencia um movimento de distanciamento de religiões, em geral. Dos entrevistados, 4% afirmaram ser religiosos, mas sem religião específica, e 6% se consideraram ateus. 

Para a professora da UFC, Ercília de Olinda, ambos os posicionamentos têm se alastrado no País em consequência da insatisfação da população perante instituições religiosas. “Muitas das pessoas que creem em Deus, por exemplo, não aceitam os usos políticos e para enriquecimento pessoal ou conquista de poder postos em prática na atualidade. Há também uma grande dificuldade em aceitar normas de conduta e a disciplina exigida na vida comunitária”. 

O geógrafo, Christian Dennys de Oliveira, pesquisador de Geografia Cultural e Patrimônio Religioso, reitera o pensamento. “Já que é possível cultuar entidades, deuses, forças e dimensões abstratas, sem intermediações institucionais, por que manter vínculos com organizações tão contestáveis?”.

Presença Franciscana
Em 2018, a presença franciscana no Ceará completa 260 anos. Teve início em 1758, com a chegada dos primeiros frades ao território cearense e, mesmo com o decrescente número de fiéis católicos, consegue se manter forte até os dias de hoje.

Peregrinos
Além da população local, estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas, vindas de todas as regiões do Ceará, peregrinem até Canindé anualmente, para pagar promessas e agradecer ao santo por graças alcançadas.

Cidadão canindeense
De acordo com o decreto legislativo N° 020/2018, publicado na edição 129, desta quinta-feira, 1° de novembro, no Diário Oficial Eletrônico do Município de Canindé, a Câmara Municipal vai conceder o Título Honorífico de Cidadão Canindeense ao padroeiro da cidade, São Francisco (in memoriam) pelos relevantes serviços prestados ao Município na área religiosa e no desenvolvimento do turismo religioso.  Diário do Nordeste

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