Peregrinos vão a Canindé para pagar promessas
e agradecer
ao santo. (Foto: Thiago Gadelha)
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O
Ceará é de muitas crenças. É da fé em Deus, do culto a Jesus Cristo, das
oferendas a Iemanjá, da doutrina espírita e também da negação da existência de
divindades. Essa multiplicidade está expressa na inédita Pesquisa sobre
Religiosidade no Ceará, elaborada pelo Instituto Opnus em janeiro deste ano. A
partir de 2.100 entrevistas, realizadas em todas as regiões do território
cearense, o levantamento traz o panorama atual da religiosidade no Estado.
Ainda que o catolicismo se mantenha predominante, sendo adotado por 66% dos entrevistados, o espaço para as demais crenças tem aumentado. A religião evangélica representou 21% das pessoas ouvidas. Já 6% dos estrevistados se consideraram ateus e 4% afirmaram ser religiosos, mas não seguem religiões específicas. Outras religiões, como as afro-brasileiras, as orientais e a espírita, alcançaram 2% do total.
Em
uma análise dos dados por região, a comunidade católica se faz mais presente em
regiões que concentram grandes polos religiosos. Na área central do Estado,
onde está situado o Município de Canindé, reconhecido pela devoção a São
Francisco, o percentual de entrevistados católicos chegou a 70%. No Cariri,
terra de Padre Cícero, e no Centro Sul, 4 em cada 5 pessoas ouvidas afirmou
seguir o catolicismo. A população católica, equivalente a 80% do total, foi a
maior dentre as regiões cearenses.
“A
concentração de católicos nessas regiões se deve, sem dúvida, à influência do
catolicismo popular e à proximidade geográfica a centros simbólicos
importantes, aos quais aportam romarias de longa tradição no Estado”, explica
George Paulino, professor e pesquisador de Antropologia, do Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Nos
grandes centros urbanos, contudo, a religião evangélica, introduzida no Ceará
no início do século XX, tem, nos últimos anos, encontrado brechas e feito cada
vez mais fiéis. Enquanto no Interior o percentual de católicos ultrapassa os
70%; em Fortaleza, esse total só chega a 54%. “O fenômeno da religiosidade se
mistura com a realidade social. Temos visto, de algumas décadas para cá, o
movimento pentecostal entrando com força nas periferias das grandes cidades”,
diz o cientista político Pedro Barbosa, coordenador da pesquisa do
Instituto.
Identificação
O sentimento de identificação de evangélicos com a religião ajuda a explicar, conforme mostra a pesquisa, que eles costumam frequentar mais seus templos do que católicos. Ao todo, 79% dos entrevistados que seguem o evangelicalismo afirmaram ir a cultos, pelo menos, uma vez por semana. Entre os católicos, a presença semanal à Igreja cai para 42%.
O sentimento de identificação de evangélicos com a religião ajuda a explicar, conforme mostra a pesquisa, que eles costumam frequentar mais seus templos do que católicos. Ao todo, 79% dos entrevistados que seguem o evangelicalismo afirmaram ir a cultos, pelo menos, uma vez por semana. Entre os católicos, a presença semanal à Igreja cai para 42%.
“Justamente
pelo Brasil ser um País de maioria católica, muitas pessoas se entendem
católicas por tradição, porque vêm de famílias católicas, mas não têm vivência
na religião. Evangélicos, como são de uma cultura mais recente, tendem a ser
mais próximos dessa religiosidade”.
Na
contramão, a pesquisa revela que o Estado também presencia um movimento de
distanciamento de religiões, em geral. Dos entrevistados, 4% afirmaram ser
religiosos, mas sem religião específica, e 6% se consideraram ateus.
Para
a professora da UFC, Ercília de Olinda, ambos os posicionamentos têm se
alastrado no País em consequência da insatisfação da população perante
instituições religiosas. “Muitas das pessoas que creem em Deus, por exemplo,
não aceitam os usos políticos e para enriquecimento pessoal ou conquista de
poder postos em prática na atualidade. Há também uma grande dificuldade em
aceitar normas de conduta e a disciplina exigida na vida comunitária”.
O
geógrafo, Christian Dennys de Oliveira, pesquisador de Geografia Cultural e
Patrimônio Religioso, reitera o pensamento. “Já que é possível cultuar
entidades, deuses, forças e dimensões abstratas, sem intermediações
institucionais, por que manter vínculos com organizações tão contestáveis?”.
Presença
Franciscana
Em
2018, a presença franciscana no Ceará completa 260 anos. Teve início em 1758,
com a chegada dos primeiros frades ao território cearense e, mesmo com o
decrescente número de fiéis católicos, consegue se manter forte até os dias de
hoje.
Peregrinos
Além
da população local, estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas, vindas de todas
as regiões do Ceará, peregrinem até Canindé anualmente, para pagar promessas e
agradecer ao santo por graças alcançadas.
Cidadão
canindeense
De
acordo com o decreto legislativo N° 020/2018, publicado na edição 129, desta
quinta-feira, 1° de novembro, no Diário Oficial Eletrônico do Município de
Canindé, a Câmara Municipal vai conceder o Título Honorífico de Cidadão
Canindeense ao padroeiro da cidade, São Francisco (in memoriam) pelos
relevantes serviços prestados ao Município na área religiosa e no
desenvolvimento do turismo religioso. Diário do Nordeste
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