sábado, 22 de dezembro de 2018

Chuvas mudam paisagem do sertão cearense


(Foto: Honório Barbosa)
As últimas chuvas caídas no fim de novembro passado e início deste mês já foram suficientes para mudar a paisagem do sertão nordestino: a vegetação seca, cinza da Caatinga, deu lugar ao verde. No solo, a pastagem nativa surge para alegria e alívio dos pequenos criadores que, nesta época do ano, enfrentam período de dificuldades para alimentar o rebanho. A mata nativa se renova e a vida volta a pulsar com esperança de mais precipitações no campo.

Quem percorre as rodovias estaduais e vicinais já percebe a diferença. "Se continuar chovendo, teremos um bom inverno no ano que se aproxima", torce o agricultor José Custódio, da localidade Vila União, zona rural de Iguatu. É essa a esperança dos agricultores. O fim do ciclo de estiagem, de um período de chuvas abaixo da média, que castiga o sertão cearense desde 2012. "O ano passado já foi bem melhor", observa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva. "Estou esperando que no ano novo tenhamos muitas chuvas para encher riachos, rios e açudes".

As últimas chuvas ainda não foram suficientes para recarga de açudes e cheias de riachos, mas já modificaram a paisagem do sertão e asseguram a alimentação do rebanho - bovino, ovino e caprino. "A babugem (pastagem nativa, gramíneas e capim que nascem após as primeiras chuvas) alimenta o gado, salva o rebanho que estava magro", disse o criador Antônio Cardoso, da localidade de São Pedro, Jucás. "Nesses últimos quinze dias, já choveu mais de 200 milímetros aqui no meu terreno. Estou esperançoso".

O criador Edmilson Duarte disse que o pasto nativo ressurge com força, modificando o cenário do sertão e contribuindo para alimentar o rebanho. "As chuvas vieram mais cedo neste ano, aliviando as nossas dificuldades", comemorou. "Para o gado, tem sido uma salvação", pontuou o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Sebastião Alves.

De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em novembro passado as chuvas ficaram 177% acima do esperado para o período, que é de 5.8mm. Foram observados em média 16mm.

"Estamos no mês de pré-estação chuvosa, que tem média reduzida, mas que é importante quando chove, favorecendo a agropecuária", observa o secretário de Agricultura de Iguatu, Hildernando Barreto. A Funceme prevê mais chuvas no decorrer do mês.

Previsão
O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) chegou a divulgar previsão de chuvas abaixo da média para o período de pré-estação no Ceará (novembro, dezembro e janeiro). A preocupação dos meteorologistas é com relação à formação do fenômeno El Niño (aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico) que interfere para que ocorra, geralmente, chuvas abaixo da média no Ceará. "Daí a importância de boas chuvas na pré-estação e em fevereiro, início da quadra chuvosa", observou o meteorologista da Funceme, Raul Fritz.

Ontem, a meteorologista da Funceme, Meiry Sakamoto, informou que as condições do Oceano Pacífico sinalizam que a previsão de El Niño, de fraco a moderado, podem minimizar a expectativa de chuvas abaixo da média no Ceará em 2019. A informação foi repassada no Paço Municipal, durante coletiva sobre as ações da Prefeitura de Fortaleza para a próxima estação de chuvas.

Apesar desse cenário, Sakamoto reforçou que as condições podem mudar até janeiro, e que o prognóstico de chuvas será divulgado apenas no dia 18 de janeiro. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para Clima e Sociedade (IRI, em inglês), há 80% de chances de ocorrência do El Niño no período de fevereiro a abril de 2019. Porém, para o Ceará, é necessário que sejam observadas as anomalias de Temperatura de Superfície do Mar (TSM) do Oceano Atlântico, que interferem no posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).       Diário do Nordeste

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