(FOTO: KID JÚNIOR)
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A
diferença de público-alvo e programas de financiamento entre o Banco do
Nordeste (BNB), Banco da Amazônia (Basa) e o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) é um dos entraves para a não consolidação da
possível fusão entre as instituições. Segundo uma fonte do BNB, que falou sob
anonimato, o desenvolvimento do Nordeste estaria prejudicado com a medida
estudada pela equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro.
"O
BNDES é um banco de segunda linha. A operação que ele tem com os clientes é
muito pequena. Normalmente, ele repassa para um banco que faz a operação
assumindo o risco. No BNB é diferente. A gente opera como um banco de primeira
linha com operação direta com o cliente".
Outro
ponto citado pela fonte do BNB diz respeito ao desenvolvimento regional.
"O BNB tem um foco geográfico bem definido que é o Nordeste, e o BNDES tem
uma atuação nacional. Há um risco de, em uma fusão, esse objetivo ser perdido.
Uma vez que o BNDES tem essa perspectiva de atuação nacional, ele não faz esse
recorte por regiões com priorização de investimento, e isso poderia ser um
prejuízo para a redução das desigualdades regionais".
Para
o professor em Desenvolvimento Econômico do Departamento de Teoria
Econômica-DTE da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jair do Amaral, a
realização dessa ideia é complexa e cheia de riscos. "A fusão é complexa
porque ambos os bancos tem naturezas, funções e culturas diferentes. Os
aspectos comuns são que ambos são federais e voltados para o desenvolvimento
econômico. Contudo, o BNB, além de comercial, é voltado para o desenvolvimento
regional. O BNDES, que não tem atividades comerciais, é voltado para o
desenvolvimento das empresas e dos setores. Caso seja concretizada, essa fusão
poderá trazer a vantagem de elevar os padrões de qualidade dos procedimentos
dentro da estrutura do BNB".
Desvantagens
De
acordo com ele, a concretização também poderá trazer desvantagens para o BNB e
o Nordeste ao afetar o montante do Fundo Constitucional (FNE) e o sistema
Pronaf voltado para a pequena produção familiar. "De toda maneira, caso a
fusão avance ela terá de levar em conta que as dinâmicas dos mercados e das
economias regionais, no Brasil, são heterogêneos, logo, levar em conta que os
mecanismos de equalização regional no Brasil ainda são importantes e
necessários", acrescenta o professor.
A
fonte do BNB também afirma que atualmente o orçamento do Banco tem duas áreas
de atuação, com foco no microcrédito que o BNDES não possui. "Além de
afetar a questão desse recorte regional você tem esse risco também de uma linha
importante ser anulada. Hoje, os principais recursos do Banco são o FNE e o
microcrédito. O FNE é assegurado pela Constituição, e o recurso do microcrédito
é um recurso de mercado, de tesouraria do Banco, então, eu não vejo essa
perspectiva de redução do volume de recursos à disposição no BNB".
Para
a fonte, o presidente eleito precisar dar atenção para a política de
desenvolvimento regional. "Se ele (Bolsonaro) quer ter o Brasil rico, ele
precisa desenvolver o Nordeste, mas a iniciativa dessa natureza eu vejo como
uma coisa perigosa e um grande risco para esses objetivos que se esperam para o
desenvolvimento do País", observa.
Setores
rechaçam
A
notícia da fusão não foi bem recebida por alguns setores da economia cearense.
Para Freitas Cordeiro, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes
Lojistas do Ceará (FCDL-CE), a ideia é prejudicial para o Estado e não traz
benefícios.
"Se
isso se concretizar, nós vamos perder um banco que faz toda a diferença para a
nossa economia. Os recursos que vêm para a gente são diferenciados. A hora que
a gente entrar numa só linha a gente fica distante na efetividade da entrega.
Nós (Ceará) somos pequenos, precisamos de diferencial", afirma o presidente
da FCDL.
"A
verdade é que eles (novo governo) estão tirando da gente um banco de fomento,
um banco de desenvolvimento, o único que nós temos. Um banco que tem alcançado
resultados promissores, que não é deficitário. Esse crédito, após a fusão, vai
ficar diluído em três instituições. Essa fusão é uma penalidade para a Região.
As lideranças teriam de se unir no sentido de barrar essa pretensão",
sugere.
Para
Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do
Ceará (Faec), a ideia é prejudicial para o FNE. "Mais cedo ou mais tarde
seremos todos absorvidos pelo grande Centro-Sul, que já dispõe da força dos
negócios e recursos", lamenta. Diário do Nordeste
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