terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Universidade Regional do Cariri concede título de Doutor Honoris Causa a Huberto Cabral


O Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Regional do Cariri (URCA), em reunião ordinária, ocorrida no último dia 21 de novembro, concedeu o título de Doutor Honoris Causa ao memorialista e radialista Huberto Cabral.

A proposição desta homenagem tramitou, preliminarmente, no Colegiado Departamental do Curso de História e no Conselho do Centro de Humanidades da URCA, sendo deferida com ampla margem de aprovação.

Segundo o vice-reitor da URCA, professor Lima Júnior, que presidiu a reunião do CONSUNI em que o título foi concedido pela unanimidade dos seus membros, a reunião solene dos conselhos superiores para outorga do título será oportunamente marcada. Os muitos amigos e admiradores de Huberto Cabral prometem realizar uma significativa comemoração na vindoura solenidade.

Dados biográficos e trajetória profissional – Segundo o renomado intelectual Dr. Raimundo de Oliveira Borges (que foi diretor das três primeiras Faculdades fundadas em Crato: Filosofia, Ciências Econômicas e Direito, todas hoje componentes da Universidade Regional do Cariri–URCA) “a cidade de Crato notabiliza-se por ser uma das cidades vanguardeiras do Nordeste brasileiro, não somente pelas páginas que enriquece a sua história política, mas, e sobretudo, pela atuação de alguns de seus filhos no campo das ciências, das letras, das artes e da cultura de um modo geral”.

Dentre os filhos de Crato que se destacaram, e continuam se destacando, nessas atividades está o memorialista e radialista Huberto Cabral. Na sua trajetória profissional, Huberto Cabral exerceu inúmeros cargos, dentre eles o de Assessor de Imprensa da Prefeitura de Crato, Câmara de Vereadores e Assessor de Comunicação nos primórdios da Universidade Regional do Cariri. Ao longo da sua existência ele tem sido animador e organizador de inúmeras promoções de caráter cultural que se realizam em Crato desde o início da década 50 do século passado.

Huberto Cabral sempre participou ativamente da organização da “ExpoCrato” (Exposição Centro-Nordestina de Animais e Produtos Derivados) o maior evento econômico-social do interior nordestino. São milhares as crônicas escritas e divulgadas por ele através dos meios de comunicação, as quais – se reunidas e publicadas – constituiriam o resgate das efemérides históricas, políticas e educacionais de Crato e do Cariri.

Francisco Huberto Esmeraldo Cabral nasceu em Crato, Ceará, em 20 de dezembro de 1936, filho do casal José Leite Álvares Cabral e Pia Esmeraldo Cabral. O pai guarda parentesco com o célebre navegador português Pedro Álvares Cabral, tido pela historiografia tradicional como o “descobridor do Brasil”. Segundo Huberto Cabral, irmãos e parentes do “descobridor” se radicaram em Patos, na Paraíba, na época da expansão da pecuária pelos sertões nordestinos, e membros da família chegaram ao Cariri cearense, onde fundaram a fazenda Riachão, no atual município de Barro.

Com três anos de idade, numa visita que sua família fez ao segundo bispo do Crato, Dom Francisco de Assis Pires, Huberto Cabral convidou aquele prelado para ser o seu padrinho de crisma. Convite aceito, o desejo daquele extrovertido garoto foi confirmado algum tempo depois, selando uma forte relação entre ele e o bispo, o que valeu a Huberto Cabral o convite para ser o secretário pessoal de dom Francisco. A influência exercida do padrinho sobre o afilhado foi tamanha que este, decidido a ser padre, ingressou no Seminário São José do Crato, onde permaneceu por oito anos, tempo de duração do chamado Seminário Menor. Mesmo não persistindo na vocação sacerdotal, os laços de Huberto Cabral com a Igreja e a Diocese do Crato permanecem fortes até hoje.

Huberto Cabral cursou “as primeiras letras” no Instituto São Luís Gonzaga, que pertencia a sua prima Cira Esmeraldo, e os antigos cursos primário e científico no Colégio Diocesano do Crato. Somados os anos que transitou entre o ensino laico e religioso, Huberto Cabral passou dezesseis anos nos bancos escolares, de 1945 a 1961.

68 anos dedicados à comunicação social – Ainda estudante e adolescente, Huberto Cabral iniciou carreira na área de comunicação social, que perdura até hoje, totalizando já quase sete décadas de duração. Sua estreia na profissão jornalística deu-se pelas mãos do Monsenhor Rubens Gondim Lóssio, que solicitou sua ajuda para a fundação e funcionamento do serviço de alto-falante do Seminário São José, inaugurado em 1º de dezembro de 1950, durante os festejos de comemoração do jubileu de diamante daquele casarão religioso. Também no Seminário, aconteceu o seu debut na imprensa escrita, como um dos editores d’O levita, jornal mantido pelos alunos sob o incentivo da direção daquele educandário católico que, desta forma, comprova ter sido também uma verdadeira escola de jornalismo. De O Levita, Huberto Cabral passou a escrever para o semanário A Ação, porta-voz da Diocese do Crato, fundado em 1939, na época tendo como editor-chefe o Monsenhor Pedro Rocha de Oliveira, a quem Huberto Cabral sucedeu na função, permanecendo até o encerramento das atividades do jornal, em 1989.

Ao sair do Seminário, Huberto Cabral passou a atuar na Amplificadora Cratense, pioneiro serviço de transmissão por alto-falante da região do Cariri, fundada em 1937 por Júlio Saraiva Leão, então secretário de Urbanismo do Crato. A Amplificadora Cratense tinha como padrão a programação da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Com a fundação da Rádio Araripe do Crato – a primeira empresa radiofônica do interior cearense –, Huberto Cabral se transferiu para aquela emissora. A Rádio Araripe fazia parte do Diários Associados, maior conglomerado de mídia da América Latina, que em seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência de notícia, pertencentes a Assis Chateubriand, conhecido magnata das comunicações. Huberto Cabral permaneceu na Rádio Araripe até 1958, quando foi convidado pelo bispo do Crato, Dom Vicente de Paula Araújo Matos, para colaborar na implantação da Rádio Educadora do Cariri, na qual permanece até hoje, como redator dos noticiários da emissora e apresentador do programa dominical de música e informações culturais, Recordação Saudade.

Apesar dos notáveis avanços obtidos na área das comunicações nas décadas de 1950 e 1960, a tecnologia disponível, em comparação aos dias atuais, era obviamente bastante incipiente. Isso, no entanto, não tirava o ímpeto e até as experimentações ousadas e inventividades pioneiras do nosso personagem enfocado. Prova disso foi o ato por ele protagonizado na captação, embora precariamente, de imagem e som de televisão pela primeira vez na região do Cariri, proeza ocorrida em 15 de agosto 1960, na praça da igreja-matriz da cidade de Milagres. As imagens captadas foram da TV Jornal do Commércio, geradas a partir de Recife, Pernambuco. Somente em 1968 é que foi instalado o serviço de micro-onda que possibilitou a repetição, para a região do Cariri, das imagens da TV Ceará Canal 2, em cadeia com as TVs Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, todas pertencentes aos Diários Associados.

Outra proeza a cargo de Huberto Cabral foram as transmissões radiofônicas de longa distância, notadamente de eventos esportivos que envolviam representações caririenses em competição em outras regiões do estado do Ceará. Utilizando geradores, baterias, rádios e outras aparelhagens e utensílios, como arame galvanizado, jornais e revistas, além de gambiarras, como cercas de arame farpado e os trilhos da linha da REFFSA, – Huberto Cabral, com a ajuda de Edmundo Gonçalves, técnico da Rádio Educadora do Cariri, conseguia recuperar e interligar as linhas dos telégrafos dos Correios à “parafernália” montada para conseguir o link que possibilitava a transmissão exclusiva das partidas de futebol, realizadas em cidades próximas diretamente para o Cariri. Nenhuma outra emissora conseguia essa façanha, que virou um “segredo de estado” entre os profissionais da Rádio Educadora do Cariri.

Como repórter radiofônico, Huberto Cabral conseguiu um “furo” jornalístico de caráter nacional por ocasião da visita do Presidente da República, Marechal Castelo Branco, a Crato, em junho de 1964, logo após a instauração do regime militar, quando a cidade comemorava o bicentenário de sua fundação. Escondido no meio da mata da chapada do Araripe, onde se localizava o Aeroporto Regional Nossa Senhora de Fátima (hoje desativado), Huberto Cabral, tão logo o avião presidencial aterrissou, burlou a forte esquema de segurança e adentrou na aeronave, conseguindo, em primeiro lugar, uma mensagem gravada do “marechal-presidente”. Antecipando-se a mais de cem correspondentes dos principais jornais e emissoras de rádio e TV do país que faziam a cobertura daquela visita presidencial, a Rádio Educadora do Cariri transmitiu o sensacional “furo” jornalístico conseguido pelo seu dinâmico repórter Huberto Cabral.

Outra cobertura jornalística de destaque feita por Huberto Cabral foi a inauguração do açude de Orós, em 11 de janeiro de 1961, pelo então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Tal como aconteceria em 1964, com o presidente Castelo Branco, Huberto Cabral “invadiu” o avião que trouxera o presidente Juscelino Kubitschek e conseguiu entrevistá-lo em primeira mão, fazendo em seguida a transmissão da solenidade de inauguração do açude, com auxílio das “técnicas” de difusão radiofônica de longa distância que só a Rádio Educadora do Cariri possuía.

O “Homem-Memória” – No entanto, a contribuição de Huberto Cabral ao Crato e à região do Cariri não se limita à sua atuação no campo das comunicações. Pela sua prodigiosa memória relativa aos acontecimentos históricos regionais, notadamente aqueles em que ele próprio foi testemunha ocular, Huberto Cabral é chamado de a “enciclopédia viva de Crato”. Por isso, é sempre requisitado por profissionais da imprensa e pesquisadores universitários para conceder depoimentos que detém informações de grande relevância para a elaboração de trabalhos jornalísticos e acadêmicos.

Os dados que detém estão, tal como num disco rígido de computador, armazenadas organizadamente em sua memória como que separadas em “pastas” de arquivo. Para cada uma delas, Huberto Cabral tem um zelo incomum, a exemplo da comemoração do centenário de elevação do Crato à categoria de cidade, ocorrida em outubro de 1953. Relata Huberto Cabral que, tão logo Décio Teles Cartaxo foi eleito prefeito do Crato, em 1950, foi procurado por ele com a sugestão de que um dos primeiros atos administrativos da nova gestão municipal fosse uma portaria nomeando uma comissão para planejar aquela importante efeméride. Sugestão aceita, a comissão, da qual Huberto Cabral era um dos integrantes, trabalhou arduamente por quase três anos para realizar aquela que, segundo Huberto Cabral, foi uma das maiores festas cívicas já realizadas no Nordeste brasileiro. Para se ter uma ideia da grandiosidade do evento, o Crato recebeu como convidados o Vice-Presidente da República, Dr. João Café Filho, representando o presidente Getúlio Vargas; o Ministro do Trabalho, João Goulart; o General Castelo Branco, então Comandante da 10ª Região Militar; o Governador do Ceará, Raul Barbosa; o polêmico político paulista, Ademar de Barros; o então maior empresário no campo das comunicações do Brasil, Assis Chateaubriand, que trouxe consigo o mitológico cantador Cego Aderaldo, e uma gama de outras destacadas autoridades civis, militares e eclesiásticas. Nunca mais, em nenhuma outra cidade do Cariri, observou-se tantas personalidades proeminentes reunidas para prestigiar um evento local.

Testemunha ativa da história recente do Cariri – Outra relevante contribuição dada por Huberto Cabral é a prestação diletante de serviço de cerimonial de eventos públicos e privados, o que denota sua participação ativa no cotidiano da cidade do Crato e da região do Cariri, além de sua abnegada participação em movimentos que visem o benefício da coletividade. Dentre eles, podemos relacionar a implantação e instalação dos pioneiros meios de comunicação escritos e falados da região, a retomada da Exposição Centro-Nordestina de Animais e Produtos Derivados, em 1953, após nove anos de paralisação; a criação do Instituto Cultural do Cariri (ICC), também em 1953, e da revista Itaytera, cujo primeiro número circulou em 1955; a fundação da Faculdade de Filosofia do Crato, em 1959, e, posteriormente, da Universidade Regional do Cariri (URCA), em 1987, além da campanha em prol da eletrificação do Cariri, pela energia gerada na Hidrelétrica de Paulo Afonso (BA), no ano de 1961. Sobre esta última conquista, Huberto Cabral, mesmo nos bastidores, teve uma importante e estratégica participação, que pode ser resumida em dois episódios tidos como cruciais daquela empreitada.

Em primeiro lugar, no início da campanha, constatou-se a apatia da população por conta da descrença pelas dificuldades para que que o Cariri recebesse a energia de Paulo Afonso. Este sentimento de desânimo contagiava até os membros do recém-criado Comitê Pró-Eletrificação do Cariri. As lideranças políticas e empresariais de Fortaleza, de inquestionável força política e peso econômico, queriam que a eletrificação fosse primeiramente instalada no litoral cearense, o que era geográfica e logisticamente um contrassenso. Para entusiasmar a população, Huberto Cabral tramou uma imaginária “inauguração da turbina do Cariri”, que aconteceria na Hidrelétrica de Paulo Afonso, transmitida ao vivo por ele pelos microfones da Rádio Educadora. Essa estratégia surtiu o efeito desejado e, a partir de então, a população tornou-se uma forte aliada na campanha pró-eletrificação do Cariri. Na sequência, próximo da inauguração da energia elétrica, prevista para o dia 28 de dezembro de 1961, ocorreu um defeito em uma peça da subestação da Companhia Hidrelétrica de São Francisco – CHESF, localizada no município de Milagres, o que deixou os técnicos preocupados, já que deveria ser mandada buscar uma nova peça em São Paulo, o que atrasaria o evento tão esperado por todos. Sabedor de uma solução caseira, Huberto Cabral solicitou a peça defeituosa e um helicóptero da Companhia para resolver o problema com a urgência necessária. Mesmo sob discordância dos técnicos, ele convenceu a direção da subestação e trouxe a peça até o Crato, levando-a até a Oficina Abinadab, onde, em pouco tempo, outra peça foi confeccionada. Assim, a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso ao Cariri foi mantida na data aprazada. Segundo Huberto Cabral, esta peça “made in Crato” ainda hoje funciona naquela subestação.

Atualmente, próximo de completar 82 anos de existência, contrariando uma tendência natural de com o avanço da idade ocorrer um arrefecimento de ânimo, força ou disposição do ser humano ao trabalho, Huberto Cabral continua firme no seu “sacerdócio” cotidiano de prestar serviços à comunidade caririense. Serviço de boa qualidade, sem preocupação de colher louros, a não ser aqueles que venham beneficiar a todos incondicionalmente.

Por essa história de vida, totalmente devotada à causa pública e ao progresso material e intelectual de nossa região, Huberto Cabral é merecedor de todo o nosso respeito e gratidão.   Conteúdo do Blog do Crato – Foto: Wagner Pereira

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