"Queria
que todos que puderem começassem a passear, viajar, praticar a leveza no dia a
dia... Quem quiser ir, voltar, sair, ficar, silenciar... Siga seu coração...
Decida por si... Não esperem permissão para serem felizes."
O
trecho acima integra a carta de despedida da médica Larissa Medeiros,
que morreu aos 40 anos no sábado (22), vítima de câncer de
mama. Natural de Lages (SC), formou-se em medicina pela Universidade
Federal de Santa Catarina, em 2001, era professora de residência em hematologia
e hemoterapia da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e atuava no
Hospital das Clínicas do estado.
Na
mensagem deixada à família que viralizou nas redes sociais, a médica
aborda as questões que, em sua opinião, precisam ser deixadas de lado, como
brigas e desentendimentos. Destacou também que o que fica de memória são
"as risadas, os carinhos, a alegria das viagens que tanto gostava, da
comida gostosa fosse caseira ou de um bom restaurante".
Leia
abaixo a íntegra da mensagem, divulgada no Facebook do Conselho Regional de
Medicina do Paraná.
“Querida
família!
Ando
mais reflexiva e ausente... Têm sido dias difíceis. Pensei na morte, mas vi um
documentário da minha incoerência, já que é a coisa mais certa... Pedi a Deus
uma segunda chance ou força para entender se ele tiver outro propósito.
Vou
fazer um pedido aqui: hoje minhas chances de cura são menores do que as de
sucesso! Luto por 10% de cura!! Sem drama, é um fato!
Quero
e vou vencer, com a ajuda de Deus e Nossa Senhora, sem as estatísticas dos
homens!
Mas
queria com muito carinho que se lembrem das coisas que estou aprendendo...
Hoje
ter R$ 1, R$ 2, R$ 5 ou R$ 20 milhões num banco; ter um bilhete de viagem
maravilhosa; um vestido lindo ou poder ir em restaurantes incríveis... Um
bom vinho, um doce delicioso... NADA NADA disso eu poderia usufruir agora. Não
mudaria minhas chances ou acessos a remédios, não teria pique e disposição para
viajar (não posso me ausentar por mais de 15 dias pela quimio, que tem dado
muitas reações extras), não posso beber, comer muitos doces... E não tenho
ânimo físico para usar um lindo vestido com alegria...
A
vaidade de crescer cientificamente, ganhar algo na profissão, prestígio??? Nada
fica... Perdi tanto tempo com isso... Fui tão tola em vários aspectos... Só o
carinho dos amigos colegas e pacientes que o trabalho trouxe... Mas, claro que
não serei hipócrita: trabalhar, responsabilidades, ter economias... São coisas
importantes, mas NÃO são mais do que viver o hoje... Ter conforto, usufruir das
boas coisas da vida valem a pena... Já viver sempre esperando um futuro que
pode não chegar, isto é ir morrendo aos poucos.
Então,
o que ficou e o que mais me alegra? As boas lembranças dos momentos e
experiências que vivi... As risadas, os carinhos, a alegria das viagens que
tanto gostava, da comida gostosa fosse caseira ou de um bom restaurante... Os
sentimentos verdadeiros e o amor puro da família e tantos amigos queridos que
redescobri...
Sei
que nada será tão palpável como é para mim que precisei passar por isso porque
ter tanta clareza de pensamentos... Ouvia isso dos pacientes mas não coloquei
em prática...
Gostaria
que experimentassem sem ter que passar por algo ruim para mudar:
Brigas,
reclamações, vaidades, conflitos... Acontecem, mas deixam o ar muito pesado,
sugam nossa energia e não levam a nada. Transformam a reunião alegre em algo
desagradável... Amor, perdão, paz, alegria renovam tudo...
Nós
sendo filhos, noras e genros, pais, irmãos, casais, todos iremos errar...
Escolher o caminho tem esse desfecho: de acertar ou errar. E errar tem o
aprendizado, só o erro traz essa graça de aprender e mudar! Não aprendemos com
os erros alheios infelizmente... Os acertos infelizmente também não trazem esse
conhecimento todo, por ironia... Ninguém sabe o que é certo... O certo
para mim não é para os demais.
Vamos
conviver em paz, respeitar a individualidade das pessoas, dos casais, mesmo não
sendo nossa opinião. Vamos celebrar a vida, ter prazer nos encontros, evitar
brigas ou assuntos pesados... Queria que todos que puderem começassem a
passear, viajar, praticar a leveza no dia a dia... Quem quiser ir, voltar, sair,
ficar, silenciar... Siga seu coração... Decida por si... Não esperem permissão
para serem felizes. Só quem pode nos autorizar somos nós mesmos...
[O
nome do marido], meu amor, tem me ensinado muito também... Foi um ano terrível
para nós... Muitas concessões, ajustes... Mas nosso amor tem aprendido a ser
laço de fita, não e nunca NÓ... Nos respeitamos, apoiamos, nos incentivamos
mutuamente... Se você está estressado, volta da corrida, leve, com o
sorriso mais lindo no rosto e só traz boas energias para mim. Não fala nada
pesado, não fala de ninguém, sempre positivo, o melhor companheiro que eu
poderia ter... Meu amor ❤! Muitas vezes discordamos, queremos coisas diferentes, mas aprendemos
a respeitar a decisão do outro sem perder tempo tentando convencer a nossa maneira...
Acho que ganhamos mais amor e respeito!! Amor não é posse ou prisão,
é liberdade e respeito...
Sei
que ainda temos muito a aprender... Mas acho que estamos no caminho, entre
acertos e erros...
Tenho
vontade de gritar, para todos que quero bem: 'Tomem as rédeas de suas vidas...
Viajem, namorem, comprem com responsabilidade o que lhes dá prazer...
A vida é HOJE!! Só hoje!!! Viagens, comer num lugar gostoso, comprem a
roupa bonita que querem...'
Não
sabemos se viveremos até o futuro... Se gozaremos da aposentadoria... Se
teremos saúde e ânimo para aproveita-lá!! Vivam, vivam, cada um é dono da sua
trajetória...
E
a vida dará em troca, amor verdadeiro, grandes amigos que farão parte da
família... e muito boas memórias...”
Portal TNH1
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