Diagnosticado
com leucemia quando tinha 14 anos, o cearense Italo Rosse dos Santos Clarindo
“vive o outro lado da moeda” em relação à doença. Atualmente curado, ele é
estudante de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e atua como
interno na Associação Peter Pan, em Fortaleza, mesmo local onde recebeu o
tratamento contra o câncer. Ele também é casado com uma colega de tratamento
contra a doença. O atendimento que recebeu na adolescência, conta o futuro
médico, foram os “primeiros passos” no estudo da ciência.
“Eu
sempre falava com as médicas e tirava dúvidas durante o tratamento, sobre
medicações, como era a doença. Tentei me aprofundar no assunto, mas de maneira
amadora. E comecei a gostar”, lembra o estudante sobre “os primeiros passos” na
intenção de cursar Medicina.
“Eu trabalho e acompanho os médicos que cuidaram de mim. Ando
todos os dias com o médico que me diagnosticou. Tive muito contato com eles.
Foram três anos bem intensos, e enfim, a gente cria vínculos”, comenta.
Em
2010, já próximo do fim dos três primeiros anos de tratamento, Italo participou
de um projeto social na Associação Peter Pan — uma entidade filantrópica sem
fins lucrativos que atua no apoio a crianças e adolescentes com câncer, bem
como a seus familiares, em Fortaleza.
Nesse
período, ele conheceu Bárbara Castelo, atual esposa. Ela também se curou de
leucemia, após receber o diagnóstico em 2003, e saiu do ambulatório por volta
de 2015. Hoje ela é estudante de Psicologia, também na UFC em Sobral. Eles
casaram em 2017, após anos de namoro.
Italo
foi diagnosticado com leucemia em julho de 2007, quando tinha 14 anos de idade.
Logo em seguida, ele iniciou o tratamento que durou três anos. “Na época eu praticava
hipismo na Cavalaria da PM (Regimento de Polícia Montada da Polícia Militar do
Ceará). E, inicialmente, pensou-se que podia ser linfonodos reacionais a algo
infeccioso”, rememora Italo.
“Eu
tenho uma tia que é técnica de enfermagem, e trabalhava, na época, no
Gonzaguinha (Hospital Gonzaga Mota) da Messejana. Ela conheceu uma médica que
conseguiu uma consulta para mim no Hemoce (Centro de Hematologia e Hemoterapia
do Ceará). Na época, lá nem atendia a faixa pediátrica. Daí, ela viu que eu
tinha umas manchas pelo corpo que nem eu tinha percebido. E também viu uma
alteração no meu hemograma”, conta o jovem que conseguiu excepcionalmente a
primeira consulta.
Até
julho de 2010, Italo fez um longo tratamento, com sessões de rádio e
quimioterapia. “Eu fui um paciente oncológico, meu cabelo caiu; às vezes,
ficava com a boca ferida. Eu vomitava, tinha náuseas, não queria comer”,
completa Italo, relembrando os difíceis tempos no início do tratamento.
Após
o tratamento de três anos, Italo iniciou o processo chamado “ambulatório” —
procedimento de rotina, onde ele colhe exame de sangue semestralmente — que tem
duração de dez anos.
“Existe
o risco de reincidir ao longo do tempo. Quanto mais tempo de término de
tratamento, menor é o risco de recidiva da doença”, explica o estudante de
Medicina. Em 2020, Italo encerra dois processos importantes da própria vida: o
ambulatório e a graduação em Medicina.
Em
2015, Italo transferiu o ambulatório para o Hemoce. Mas em 2018, ele pediu
transferência do procedimento para Sobral, onde cursa Medicina atualmente, na
Universidade Federal do Ceará. “Por conta do internato, eu tenho que estar
todos os dias no serviço. E quando eu ia a Fortaleza, eu perdia três dias [com
viagem de ida e volta e os exames]”, complementa o futuro médico.
Atualmente,
Italo comemora duas conquistas. “Em linhas gerais, posso dizer que estou
curado”, complementa. Ele iniciou a graduação em Medicina no segundo semestre
de 2014, e se forma no primeiro semestre de 2020.
Além
do obstáculo, Italo teve de superar outra barreira no sonho de virar médico: o
déficit de aprendizado causado pelos anos de estudo em escola pública. Ele teve
de entrar em um cursinho pré-vestibular, oferecido pelos estudantes de Medicina
da própria UFC.
Depois
de algumas tentativas, e de passar pelo curso de Farmácia na UFC, e de Medicina
em uma universidade particular, Italo conseguiu entrar em Medicina, no campus
de Sobral da UFC em 2014. Hoje, ele faz internato na Santa Casa de Misericórdia
de Sobral, mas está passando o mês de janeiro no Hospital Albert Sabin, em
Fortaleza — unidade que ele “viu ser construída” nos primeiros anos de
tratamento da leucemia. G1 CE
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