(Foto: Fernanda Siebra) |
Dentre
todas as incalculáveis consequências do câncer à vida de quem o enfrenta, estão
as marcas na autoestima. Em relação às mulheres, principalmente às vítimas do
carcinoma mamário, a questão é ainda mais delicada: em muitos casos, o
bem-estar emocional é removido cirurgicamente, junto com uma parte do corpo.
Para
minimizar os prejuízos à saúde e reparar, dentro do possível, as formas do
corpo de mulheres que realizam a mastectomia (cirurgia de retirada da mama), foi
sancionada pelo Governo Federal uma lei que garante a reconstrução dos dois
seios, para garantir a simetria entre eles. O procedimento deve ser feito
independentemente de apenas uma mama ter sido retirada em consequência da
doença.
Reconstrução
A
nova lei foi assinada em solenidade com a bancada feminina do Congresso
Nacional, no último dia 19 de dezembro. Para a supervisora do Núcleo de Defesa
da Saúde (Nudesa) da Defensoria Pública Geral do Ceará, Karine Matos, a nova
garantia de direito assegurada às mulheres é de grande importância. "É
fundamental pela representatividade de a mulher se sentir feminina. Essa
conscientização da reconstituição deve ser feita desde o momento do diagnóstico
até a saída da mesa de cirurgia, com as mamas iguais", frisa.
Segundo
Karine, a Defensoria Pública "ficará atenta" para assegurar
judicialmente os direitos das mulheres assistidas neste caso. "Toda
política pública que beneficia a mulher tem que ser devidamente cumprida,
porque vai além da estética. É sobre o bem-estar delas", pontua. Desde
2013, a Lei 12.802 obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a fazer a cirurgia
plástica reparadora da mama logo em seguida à retirada do câncer, quando houver
condições técnicas e médicas.
Preparo
Apesar
da obrigatoriedade, cerca de 70% das mulheres operadas não realizam a
reconstituição, como estima o presidente Regional no Ceará da Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM), Francisco Pimentel, afirmando que a quantidade
"nem de longe é um número ideal". "(A Lei) é um avanço, mas o
sistema público de saúde necessita preparar sua infraestrutura. Senão, na
prática, a nova lei não vai mudar nada".
"É
preciso ter preparados o material e o humano, os equipamentos e o pessoal. A
Sociedade (de Mastologia) fez, nos últimos anos, inclusive cursos para preparar
as equipes. Então, é possível que com a nossa iniciativa e com a lei aumente o
número de mulheres que se submetam à reconstrução", projeta Francisco.
Complicações
Somente
as mulheres consideradas "tardias", que voltam tempos depois da
mastectomia para solicitar a reconstituição, e que tenham cardiopatia ou sejam
idosas não podem se submeter ao procedimento, devido ao tempo da cirurgia.
De
acordo com Dr. Pimentel, a complicação acontece entre 5% a 10% dos casos,
"em qualquer lugar do mundo". "As mulheres ainda precisam se
submeter à radioterapia contra a reincidência. Isso danifica o tecido e sua
taxa de firmeza", explica. Francisco trabalha no Hospital Geral de
Fortaleza (HGF), referência na área, e garante que o procedimento é realizado
em todas as pacientes.
Diagnosticada
com câncer de mama, Antonia dos Santos foi atendida no HGF, em 2012, e
conseguiu a reconstituição dos dois seios, mesmo antes da alteração da lei que
garante esse direito.
"Nem
imagino meu corpo se não tivesse feito. Só com as duas mamas do mesmo tamanho
eu consigo me enxergar bem no espelho e ter autoestima", afirma. Diário do Nordeste
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