sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Sete anos após transbordar, Orós atinge 2º pior volume da história


(FOTO: HERMANN RABELO)
"Quando o açude está cheio não fica barco emborcado, ninguém fica parado, sem trabalho. O açude Orós já foi uma riqueza, com caminhões subindo cheio de peixes, mas agora é só sequidão, quase não tem mais pesca. Só Deus para nos salvar". A observação é da pescadora, Lucélia Alves de Lima, de 40 anos e que desde os sete começou a pescar nas águas do segundo maior reservatório do Ceará. Assim como no Castanhão, o cenário do Açude Orós é desolador. O reservatório acumula apenas 5,5% de sua capacidade total, que é de 2.109 milhões m³. A água se distanciou das fazendas, inviabilizando ou reduzindo as atividades agropecuárias locais.

Para se ter uma ideia do impacto da seca, há sete anos, o açude estava com sua capacidade máxima, a exemplo do que ocorreu nos anos de 2008, 2009, por exemplo. Hoje, o baixo volume do reservatório afeta a produção de pescado, leite, grãos e capim em unidades produtoras nos municípios de Iguatu, Quixelô e no próprio Orós, todos na região Centro-Sul do Ceará.

Prejuízos acumulados
Casada com Francisco Gregório da Silva, que se viu obrigado deixar temporariamente a atividade de pesca, para o plantio de uma vazante de feijão, Lucélia de Lima, conta que resiste em ser pescadora. "Não gosto de roça", pontua. Diariamente Lucélia sai de casa com o anzol nas mãos e um sonho no coração. "A gente espera que vai chover, que a vida vai melhorar", confidencia a pescadora.

No entanto, quem insiste, como ela, em colocar linhas com anzol e lançar redes na pouca água que ainda resta, reclama da baixa quantidade de peixe. "Quase não está dando mais nada", disse José Pedro Lima. "Com dificuldade a gente consegue alguma tilápia e tucunaré, mas é tudo peixe pequeno", acrescenta.

O produtor de tilápia em tanques redes e comprador de pescado de outros produtores, na bacia do Açude Orós, Francisco Kinderman Oliveira de Lima, disse que a produção local caiu 90%.

Em maio de 2018, Kinderman Lima e o pai, Antônio Neto, perderam mais de 100 toneladas de peixe, que morreram nas gaiolas. O prejuízo foi estimado em quase um milhão de reais. Insistiram na produção, mas diminuíram a quantidade de gaiolas. "A gente produzia 30 toneladas por mês, mas agora caiu para três toneladas", comparou. "A gente tinha 600 gaiolas, mas agora só tem 300 e com reduzida quantidade de pescado".

Arroz Irrigado
Nos últimos três anos, houve significativa redução da área de cultivo por causa do baixo nível de água no reservatório. Os produtores estimam queda de 20% na safra de 2018 em relação a de 2017. Já em consideração a igual período de 2014, quando o açude acumulava 50%, a retração é de 90%.

"Já fomos uma das áreas de maior produção de arroz irrigado no Ceará, nas várzeas do Orós e do Rio Jaguaribe, mas a atividade enfrenta séria crise", pontuou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva. O plantio de arroz irrigado nas várzeas do Açude Orós ocorre no segundo semestre (a partir de julho) e a colheita é feita sempre nos meses de novembro e dezembro.

Efeito
A perda de água no Orós criou um clima de preocupação e de tristeza entre os moradores, produtores rurais, piscicultores e aqueles que trabalham com o setor de serviço, alcançado com a ausência dos turistas. A crise afeta os negócios na cidade, com queda nas vendas nos postos de gasolina, lanchonetes e bares, farmácias e até mercadinhos. "Sem renda, as pessoas compram menos, procuram priorizar o essencial", disse o empresário, Luís Souza.    Diário do Nordeste

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