Sérvulo deixou um
legado de mais de 30 esculturas e
incontáveis esboços. (Foto: Natinho Rodrigues)
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Basta
caminhar com um olhar mais atento por Fortaleza para perceber a convergência da
criatividade do artista Sérvulo
Esmeraldo (1929-2017) com o desenho arquitetônico
contemporâneo da cidade. Para citar dois trabalhos mais conhecidos, temos à
beira-mar, o "Movimento ao Interceptor Oceânico" que se equilibra, há
décadas, em meio à feirinha de artesanato na Praia do Náutico; e, no Centro, a
escultura-fonte "Ballet Gráfico" que divide a beleza do espaço com a
Catedral da Sé e o Mercado Central. "Ele tinha a ideia de fazer da cidade
de Fortaleza um grande museu a céu aberto de esculturas", elucida a viúva
do artista, Dodora Guimarães Esmeraldo.
A
genialidade e contribuição para a arte do multiartista nascido no Crato serão comemoradas
com o "Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo", a partir desta
quarta-feira (27), no Cineteatro São Luiz. A data da abertura não foi
escolhida à toa, ela coincide com o dia em que Sérvulo completaria 90 anos.
Promovido
pela Secretaria de Cultura
do Estado, o evento gratuito e aberto ao público terá um
cerimonial, com a presença de Dodora, apresentação musical e a exibição do
documentário "Sérvulo Esmeraldo: o espaço no infinito".
(Foto: Fabiane de Paula) |
Curadora
do acervo e à frente do Instituto Sérvulo Esmeraldo, Dodora adianta que mais
eventos estão sendo produzidos para lembrar a obra do artista, tanto no Crato
como em Fortaleza. Entre eles, destaca-se o projeto de um Festival na cidade em
que ele nasceu, no aguardo de aprovação do Edital Mecenas, da Secult. "Nós
daremos ênfase sobretudo na formação, na difusão da informação do trabalho da
arte contemporânea", pontua Dodora.
A
proposta é oferecer um seminário com curso de arte contemporânea, curso de
formação de arte para professores de escolas públicas e uma residência de artistas
que dialogam com as obras de Sérvulo. A edição prevê ainda uma homenagem a
Maciej Babinski, polonês naturalizado brasileiro e amigo próximo do artista
cratense.
A
cidade do Crato receberá ainda uma exposição fotográfica com imagens de Gentil
Barreira, que acompanhou a trajetória e registrou a vida, exposições e obras de
Sérvulo desde a década de 1980. Já em Fortaleza, o Museu de Arte da
Universidade Federal do Ceará (UFC) deve expor trabalhos do artista que estão
sobre o seu poder. Ao todo, o acervo do museu soma 77 obras, de acordo com a
viúva. "A ideia é mostrar os verdes anos do Sérvulo, o início dele como
artista", declara.
Durante
este ano serão lançados também dois livros, um deles de gravuras, primeira
expressão artística que projetou Sérvulo, e, o outro, com as peças de joalheria
desenhadas por ele. "Pouca gente sabe que ele fez joias ao longo da
vida", explica Dodora.
Fora
do Ceará, mas ainda dentro das comemorações previstas pelo Instituto Sérvulo
Esmeraldo, a obra do artista ganhará novas exposições, em espaços do Rio de
Janeiro e São Paulo.
Casa-museu
Dodora
e Sérvulo foram casados durante 36 anos. Além da parceria na vida, os dois se
complementavam no trabalho. "Ele é o amor e o artista da minha vida. Desde
que nós nos encontramos, a gente passou a trabalhar juntos. Eu acompanhei todo
o trabalho do Sérvulo e sempre fui muito companheira. Fui sempre uma curadora
do Sérvulo, no que a palavra tem de mais precisa. A nossa casa é Sérvulo
Esmeraldo, mas também é Dodora. Foi muito bom e eu gosto de cultivar esse amor
e essa obra", caminha com as palavras para reviver as lembranças.
Com
o falecimento do esposo, ela preferiu continuar morando na mesma residência,
apesar dos palpites contrários. "Como é que eu vou deixar a casa? O
Sérvulo está lá", brinca com a resposta dada. E está mesmo. A sala
principal é repleta de maquetes e esculturas dele, assim como outros cômodos,
como um quarto que abriga mais obras e um armário que guarda em suas gavetas
esboços de um acervo ainda incontável. Diário do Nordeste
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