sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Artesã produz bonecas de pano com 'corpo e alma', em Várzea Alegre


As bonecas de pano de Lidia usam vestidos de noiva, de festa, do dia-a-dia e biquíni estão entre as criações da artesã de Várzea Alegre. (Foto: Honório Barbosa)
A arte popular de confeccionar bonecas de pano, que esteve presente durante décadas nas feiras das cidades do sertão cearense, renasce pelas mãos da artesã Lidia Babinski, moradora do sítio Exu, na zona rural de Várzea Alegre. As peças coloridas e bem-acabadas retratam mulheres adultas e despertam a atenção de quem conhece a produção ainda incipiente.

A produção de Lidia ainda não está sendo
comercializada. Elogiada por amigos e
apoiada pelo marido, a artesã não descarta
a possibilidade de vender as peças no futuro.
(Foto: Honório Barbosa)
Até agora, a artesã tem resistido à pressão de amigas para produzir em maior escala, visando à comercialização, e também para exposição em espaços de artes na Capital cearense. Aos poucos, a dona de casa percebe que é uma verdadeira artista popular, ganhando gosto e ampliando a produção feita no seu ateliê, instalado em um dos cômodos da casa.

“Faço as bonecas sem compromisso, gosto dessa ocupação, é maravilhoso fazer, saio do mundo, é uma forma de entretenimento".

O espaço onde trabalha é bucólico, agradável, próximo a um açude, em meio de mata nativa e de pássaros que cantam em árvores no entorno da casa. O silêncio só é quebrado pelos ruídos da natureza.

Foi nesse espaço que Lidia Babinski encontrou motivação para, aos poucos, ir ampliando a confecção das peças que medem em torno de 20 cm. A referência veio da avó e da mãe, que faziam, de forma simples, bonecas de pano para as filhas e netas brincarem na vida humilde no campo.

A inspiração surgiu em um momento doloroso, quando o marido, o artista plástico polonês, Maciej Antoni Babinski, radicado no Brasil desde a década de 1950, teve que viajar a São Paulo, em 2010, para tratar-se de um câncer na clínica do médico oncologista Dráusio Varela. "Era acompanhante do Babinski e precisava ocupar meu tempo. Comprei tecido, linhas e comecei a confeccionar as".

Terapia
O passatempo ganhou forma cada vez mais aperfeiçoada e o resultado são peças admiradas pelos amigos. "Foi mamãe que me ensinou, deu a ideia, mas confesso que não gostava daquelas bonecas antigas, gordas, que não tinham bom acabamento", pontua. A produção tosca ficou para trás e surgiram bonequinhas adultas, com seios e cinturas.

"Faço do meu jeito e aprendi só, desenho o molde, faço o corte dos tecidos, o enchimento, a costura e os bordados que definem olhos, sobrancelhas, nariz, boca. Todo o trabalho é manual", explica Lidia Babinski. "Os vestidos são de tecidos coloridos de algodão e o enchimento é de manta acrílica, antialérgica". Toda a matéria- prima é encontrada em lojas da cidade de Várzea Alegre, distante cerca de 20 km de sua morada.

Para produzir uma boneca, Lidia leva, em média, uma semana, pois divide a atividade com os afazeres de casa. "Ainda não decidi se vou fazer para vender, estou amadurecendo a ideia". A artesã reforça o gosto pela boneca adulta. "As crianças não vão gostar porque não é desmontável, é toda costurada".

Lidia Babinski lembra da infância pobre no sítio Exu e da falta de brinquedos na época. Os pais eram agricultores. "A gente brincava com pauzinhos, colocava pano em um sabugo e imaginava que eram bonecas".

A produção artesanal serve ainda como terapia ocupacional, fato também reconhecido pelo marido de Lidia. "Admiro o trabalho, a força dela, a autenticidade, a originalidade absoluta, sem influência externa. É tudo muito daqui, da arte popular, da tradição que é mantida com perfeição e que me fez cunhar a seguinte frase: não seria alta-costura em miniatura?". Diário do Nordeste

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