As maiores
demandas são as imagens do Padre Cícero e
Luiz Gonzaga esculpidas na madeira. (FOTO: ANTONIO RODRIGUES)
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O
conjunto de peças enfileiradas até lembra uma grande galeria de arte. Mas o
silêncio denuncia a ausência de plateia, ou melhor, de admiradores e
consumidores da arte popular produzida em Juazeiro do Norte. É neste cenário
que os artesãos do Centro de Cultura Popular Mestre Noza convivem, há nove
meses, desde que foram realocados no Centro Multiuso, enquanto o antigo prédio
passa por reformas. Orçada em pouco mais R$ 241 mil, a obra deveria ter sido
entregue em outubro de 2018, mas está paralisada.
A
última reforma realizada no Centro Mestre Noza aconteceu há mais de 18 anos.
Nos últimos tempos, o equipamento cultural já vinha sofrendo com o piso
danificado e instalações elétricas ultrapassadas.
Com
as obras finalizadas, os artesãos esperam ter um local adequado e seguro para
suas criações, além de um ambiente para armazenar a madeira e estocar seus
produtos. O espaço para comercialização será integrado à nova estrutura.
A
ideia é que a circulação de pessoas, desde a entrada até a saída, possa ser
feita de forma interativa, intuitiva e com acessibilidade. Também está prevista
a instalação de um Café Cultural e a criação de uma área de convivência para os
artistas e visitantes.
Enquanto
a obra não é finalizada, os artesãos amargam prejuízos. Eles estão ocupando um
espaço no terceiro andar do Centro Multiuso, cedido pela Universidade Regional
do Cariri (Urca), através do Instituto de Pesquisa José Marrocos (Ipesc).
No
térreo do edifício, funciona uma oficina improvisada, com madeira espalhada por
todos os lados. É nesse local que os artesãos trabalham. A maioria reclama da
falta de visibilidade do espaço.
Severino
Souza, 48, admite que o Centro Multiuso é bom para trabalhar, pois tem muito
espaço e conta com estacionamento, mas a visitação é bem diferente da que era
registrada no prédio antigo, onde trabalhou por mais de 30 anos. "As
pessoas já conheciam, o turista já sabia pra onde ir. Aqui, além de ser um
pouco deserto, não tem a visitação que tinha", lamenta.
Desde
maio do ano passado, o artesão conta que perdeu as melhores épocas para
comercializar: férias e romaria. "Mesmo não comprando peças de alto valor,
o romeiro pedia ex-votos. Aqui, mesmo estando próximo à (Igreja) Matriz, eles
não vêm", completa.
Outro
problema é a falta de referência. Severino imagina que, com as obras paradas e
o prédio fechado, os visitantes podem até achar que o Centro Mestre Noza
acabou. "Eu, particularmente, perdi várias encomendas. Lá, fazia muitas placas
para fazendas, sítios. Aqui, nenhuma". Contudo, reforça que a renda só não
foi mais afetada porque possui clientes de outros estados como São Paulo e Rio
de Janeiro, por exemplo. "O pessoal de fora nos socorre", diz.
O
comércio vizinho ao equipamento em reforma, na Rua São Luiz, também vem sendo
afetado pelo atraso das obras. "Aqui, a gente tinha movimento nos meses de
férias", lamenta a comerciante Dayana Ribeiro. Com o fechamento temporário
do ponto turístico, sua loja de artesanato contabiliza uma perda de 50% nas
vendas. A saída encontrada é participar de feiras de artesanato.
Apesar
de avançada, a obra foi interrompida porque a Secretaria de Cultura de Juazeiro
do Norte está aguardando a liberação, por parte do Governo Federal, de um
aditivo de recurso.
De
acordo com a Pasta, o cronograma foi afetado durante a execução, pois, foi
percebido que outras melhorias deveriam incluídas no projeto. No entanto, não
detalhou quais as novas intervenções que devem ser feitas. Em nota, garantiu
que os trâmites burocráticos para receber a verba já foram realizados, mas não
informou qual o valor do dinheiro solicitado e qual o possível prazo para
recebê-lo.
A
escolha do Centro Multiuso foi debatida com a Associação de Artesãos de
Juazeiro do Norte que, na época, acreditou que este era o local com as melhores
condições para acomodar temporariamente os trabalhadores.
Hoje,
com aproximadamente 80 associados, apenas 12 trabalham diariamente no local. O
restante elabora as criações em casa e apenas expõe a produção no equipamento.
Desde junho do ano passado, as peças do Centro Mestre Noza também estão sendo
vendidas no Cariri Garden Shopping.
Alternativas
Longe
dali, no Pirajá - outro importante bairro comercial de Juazeiro - 11 artesãos
que trabalhavam no Centro Mestre Noza resolveram, por contra própria abrir, um
ateliê há quatro meses. Com peças expostas, eles apostam que voltarão a ter a
visibilidade que tinham no Centro de Juazeiro do Norte.
"A
gente já estava trabalhando em casa por um motivo pessoal. Nós vimos que
estávamos perdendo ainda mais. Como grupo, é melhor ficar juntos. Somos mais
fortes", justifica o artesão Nil Morais.
Batizado
de "Ateliê os Compadres", o grupo custeia aluguel, telefone, energia
elétrica e internet. "Tudo do nosso bolso, sem ajuda de ninguém",
ressalta Nil. Hoje, apostam na venda on-line dos produtos. "Para começo,
tem sido surpreendente, mesmo sem divulgação nenhuma. A tendência é melhorar. A
gente vai usar um banner na frente, colocar mais prateleiras, fazer cartões de
visita, investindo aos poucos, porque é tudo do nosso bolso", finaliza
Nil. Diário do Nordeste
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