sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Atraso nas obras do Centro Cultural Mestre Noza prejudica artesãos do Cariri


As maiores demandas são as imagens do Padre Cícero e
Luiz Gonzaga esculpidas na madeira. (FOTO: ANTONIO RODRIGUES)
O conjunto de peças enfileiradas até lembra uma grande galeria de arte. Mas o silêncio denuncia a ausência de plateia, ou melhor, de admiradores e consumidores da arte popular produzida em Juazeiro do Norte. É neste cenário que os artesãos do Centro de Cultura Popular Mestre Noza convivem, há nove meses, desde que foram realocados no Centro Multiuso, enquanto o antigo prédio passa por reformas. Orçada em pouco mais R$ 241 mil, a obra deveria ter sido entregue em outubro de 2018, mas está paralisada.

A última reforma realizada no Centro Mestre Noza aconteceu há mais de 18 anos. Nos últimos tempos, o equipamento cultural já vinha sofrendo com o piso danificado e instalações elétricas ultrapassadas.

Com as obras finalizadas, os artesãos esperam ter um local adequado e seguro para suas criações, além de um ambiente para armazenar a madeira e estocar seus produtos. O espaço para comercialização será integrado à nova estrutura.

A ideia é que a circulação de pessoas, desde a entrada até a saída, possa ser feita de forma interativa, intuitiva e com acessibilidade. Também está prevista a instalação de um Café Cultural e a criação de uma área de convivência para os artistas e visitantes.

Enquanto a obra não é finalizada, os artesãos amargam prejuízos. Eles estão ocupando um espaço no terceiro andar do Centro Multiuso, cedido pela Universidade Regional do Cariri (Urca), através do Instituto de Pesquisa José Marrocos (Ipesc).

No térreo do edifício, funciona uma oficina improvisada, com madeira espalhada por todos os lados. É nesse local que os artesãos trabalham. A maioria reclama da falta de visibilidade do espaço.

Severino Souza, 48, admite que o Centro Multiuso é bom para trabalhar, pois tem muito espaço e conta com estacionamento, mas a visitação é bem diferente da que era registrada no prédio antigo, onde trabalhou por mais de 30 anos. "As pessoas já conheciam, o turista já sabia pra onde ir. Aqui, além de ser um pouco deserto, não tem a visitação que tinha", lamenta.

Desde maio do ano passado, o artesão conta que perdeu as melhores épocas para comercializar: férias e romaria. "Mesmo não comprando peças de alto valor, o romeiro pedia ex-votos. Aqui, mesmo estando próximo à (Igreja) Matriz, eles não vêm", completa.

Outro problema é a falta de referência. Severino imagina que, com as obras paradas e o prédio fechado, os visitantes podem até achar que o Centro Mestre Noza acabou. "Eu, particularmente, perdi várias encomendas. Lá, fazia muitas placas para fazendas, sítios. Aqui, nenhuma". Contudo, reforça que a renda só não foi mais afetada porque possui clientes de outros estados como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. "O pessoal de fora nos socorre", diz.

O comércio vizinho ao equipamento em reforma, na Rua São Luiz, também vem sendo afetado pelo atraso das obras. "Aqui, a gente tinha movimento nos meses de férias", lamenta a comerciante Dayana Ribeiro. Com o fechamento temporário do ponto turístico, sua loja de artesanato contabiliza uma perda de 50% nas vendas. A saída encontrada é participar de feiras de artesanato.

Apesar de avançada, a obra foi interrompida porque a Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte está aguardando a liberação, por parte do Governo Federal, de um aditivo de recurso.

De acordo com a Pasta, o cronograma foi afetado durante a execução, pois, foi percebido que outras melhorias deveriam incluídas no projeto. No entanto, não detalhou quais as novas intervenções que devem ser feitas. Em nota, garantiu que os trâmites burocráticos para receber a verba já foram realizados, mas não informou qual o valor do dinheiro solicitado e qual o possível prazo para recebê-lo.

A escolha do Centro Multiuso foi debatida com a Associação de Artesãos de Juazeiro do Norte que, na época, acreditou que este era o local com as melhores condições para acomodar temporariamente os trabalhadores.

Hoje, com aproximadamente 80 associados, apenas 12 trabalham diariamente no local. O restante elabora as criações em casa e apenas expõe a produção no equipamento. Desde junho do ano passado, as peças do Centro Mestre Noza também estão sendo vendidas no Cariri Garden Shopping.

Alternativas
Longe dali, no Pirajá - outro importante bairro comercial de Juazeiro - 11 artesãos que trabalhavam no Centro Mestre Noza resolveram, por contra própria abrir, um ateliê há quatro meses. Com peças expostas, eles apostam que voltarão a ter a visibilidade que tinham no Centro de Juazeiro do Norte.

"A gente já estava trabalhando em casa por um motivo pessoal. Nós vimos que estávamos perdendo ainda mais. Como grupo, é melhor ficar juntos. Somos mais fortes", justifica o artesão Nil Morais.

Batizado de "Ateliê os Compadres", o grupo custeia aluguel, telefone, energia elétrica e internet. "Tudo do nosso bolso, sem ajuda de ninguém", ressalta Nil. Hoje, apostam na venda on-line dos produtos. "Para começo, tem sido surpreendente, mesmo sem divulgação nenhuma. A tendência é melhorar. A gente vai usar um banner na frente, colocar mais prateleiras, fazer cartões de visita, investindo aos poucos, porque é tudo do nosso bolso", finaliza Nil. Diário do Nordeste

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