segunda-feira, 25 de março de 2019

Bolsonaro só conta com apoio do próprio partido perto de completar 100 dias de governo


Perto de completar 100 dias no cargo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) tem governado com o apoio apenas do seu partido político no Congresso Nacional. Por enquanto, nenhuma legenda assumiu um compromisso com o Palácio do Planalto.

Precisando votar a reforma da Previdência, Bolsonaro segue sem construir uma base forte para aprovar uma matéria de desgaste no Parlamento. Entre as lideranças entrevistadas, sobram queixas sobre essa articulação.

Desde o início do seu mandato, o presidente estabeleceu uma política de aliança com as bancadas temáticas, como da Bala, da Bíblia e a Ruralista, resistindo às negociações com as siglas. Até a formação do primeiro escalão, Bolsonaro manteve esse discurso, adotado ainda na campanha eleitoral, indicando nomes técnicos e ligados a essas frentes. E deu espaços estratégicos para os militares em ministérios e estatais.

Somente o DEM foi contemplado com três Pastas importantes - Casa Civil, Saúde e Agricultura -, ainda assim não foram indicações do partido. Tanto que, apesar da posição de destaque na Esplanada dos Ministérios, o Democratas não aderiu à base governista e está dividido.

A relação entre o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Bolsonaro começou a azedar com as cobranças públicas que o parlamentar faz para o Governo organizar a base.

Reclamações
O líder do Pros na Câmara, deputado Toninho Wandscheer, prova essa insatisfação. Ele diz que a sigla está sendo "excluída" pelo Governo e critica o despreparo na articulação política.

"A gente está sendo deixado de lado. Em dezembro, ele marcou uma reunião e cancelou. Em janeiro marcou, cancelou. Em fevereiro, marcou outra e cancelou. A gente não está entendendo qual a importância do partido para o Governo", esbravejou.

Assim como o Pros, o Solidariedade não definiu um posicionamento em relação ao Governo. O líder do partido, deputado Augusto Coutinho, é claro: se não existe uma base no Legislativo, a culpa é do Executivo. "Ele não construiu nenhuma relação partidária por opção própria. Isso é péssimo, porque em qualquer democracia um Governo tem que ter uma base e hoje aqui na Câmara você não vê um partido ao lado do presidente, e a oposição já está formalizada", alertou.

Negociações
Os parlamentares têm pressionado o Governo pela liberação de emendas e cargos federais nos estados em troca de apoio. Interlocutores de Bolsonaro iniciaram as negociações com as bancadas, mas ainda sem êxito. Ao contrário, o presidente tem travado esse processo ao extinguir mais de 23 mil cargos e fixar regras para as nomeações.

Para o cientista político Marco Antônio Carvalho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o governo vai ter de mudar a tática. "Vai ter que sucumbir a essa lógica do Legislativo. É um processo que não é fácil e não se muda a partir do resultado de uma eleição, porque boa parte dos apoiadores são da lógica anterior. Para o Governo fazer uma boa articulação ele tem que somar, não dividir", argumenta.

Reforma
Enquanto as conversas não prosperam, os partidos não prometem apoio à reforma da Previdência que requer, no mínimo, 308 votos para aprovação. Apesar de não integrar a base governista, o líder do PR, deputado José Rocha, nega que os partidos, mesmo insatisfeitos, se articulem para barrar a proposta. "A reforma é suprapartidária, não é do presidente. Não vejo que nenhum partido queira obstruir um projeto importante".    Diário do Nordeste

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