Perto
de completar 100 dias no cargo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) tem
governado com o apoio apenas do seu partido político no Congresso Nacional. Por
enquanto, nenhuma legenda assumiu um compromisso com o Palácio do Planalto.
Precisando
votar a reforma da Previdência, Bolsonaro segue sem construir uma base forte
para aprovar uma matéria de desgaste no Parlamento. Entre as lideranças
entrevistadas, sobram queixas sobre essa articulação.
Desde
o início do seu mandato, o presidente estabeleceu uma política de aliança com
as bancadas temáticas, como da Bala, da Bíblia e a Ruralista, resistindo às
negociações com as siglas. Até a formação do primeiro escalão, Bolsonaro
manteve esse discurso, adotado ainda na campanha eleitoral, indicando nomes
técnicos e ligados a essas frentes. E deu espaços estratégicos para os
militares em ministérios e estatais.
Somente
o DEM foi contemplado com três Pastas importantes - Casa Civil, Saúde e
Agricultura -, ainda assim não foram indicações do partido. Tanto que, apesar
da posição de destaque na Esplanada dos Ministérios, o Democratas não aderiu à
base governista e está dividido.
A
relação entre o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e
Bolsonaro começou a azedar com as cobranças públicas que o parlamentar faz para
o Governo organizar a base.
Reclamações
O
líder do Pros na Câmara, deputado Toninho Wandscheer, prova essa insatisfação.
Ele diz que a sigla está sendo "excluída" pelo Governo e critica o
despreparo na articulação política.
"A
gente está sendo deixado de lado. Em dezembro, ele marcou uma reunião e
cancelou. Em janeiro marcou, cancelou. Em fevereiro, marcou outra e cancelou. A
gente não está entendendo qual a importância do partido para o Governo",
esbravejou.
Assim
como o Pros, o Solidariedade não definiu um posicionamento em relação ao
Governo. O líder do partido, deputado Augusto Coutinho, é claro: se não existe
uma base no Legislativo, a culpa é do Executivo. "Ele não construiu
nenhuma relação partidária por opção própria. Isso é péssimo, porque em
qualquer democracia um Governo tem que ter uma base e hoje aqui na Câmara você
não vê um partido ao lado do presidente, e a oposição já está formalizada",
alertou.
Negociações
Os
parlamentares têm pressionado o Governo pela liberação de emendas e cargos
federais nos estados em troca de apoio. Interlocutores de Bolsonaro iniciaram
as negociações com as bancadas, mas ainda sem êxito. Ao contrário, o presidente
tem travado esse processo ao extinguir mais de 23 mil cargos e fixar regras
para as nomeações.
Para
o cientista político Marco Antônio Carvalho, professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), o governo vai ter de mudar a tática. "Vai ter que sucumbir a
essa lógica do Legislativo. É um processo que não é fácil e não se muda a
partir do resultado de uma eleição, porque boa parte dos apoiadores são da
lógica anterior. Para o Governo fazer uma boa articulação ele tem que somar,
não dividir", argumenta.
Reforma
Enquanto
as conversas não prosperam, os partidos não prometem apoio à reforma da
Previdência que requer, no mínimo, 308 votos para aprovação. Apesar de não
integrar a base governista, o líder do PR, deputado José Rocha, nega que os
partidos, mesmo insatisfeitos, se articulem para barrar a proposta. "A
reforma é suprapartidária, não é do presidente. Não vejo que nenhum partido
queira obstruir um projeto importante". Diário do Nordeste
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