José Wilson Silva, conhecido como Sol pelos vendedores
e
amigos da Travessa Crato, começou como auxiliar de cozinha e,
atualmente,
trabalha com couro. (Foto: Helene Santos)
|
A
delicadeza do artesanato
nordestino seduz turistas e encanta a população local. Uma
mistura de cores, formas e materiais rústicos enfeita as fachadas de uma das
vias mais tradicionais de Fortaleza. Revitalizada em junho de 2016, a Travessa Crato, localizada
entre as ruas Conde
D'Eu e General
Bezerril, reflete um ar bucólico no paisagismo, calçamento,
iluminação e também nos banquinhos espalhados pelo Centro. Um convite a
saborear o tempo sentado nas calçadas, como fazíamos em outras épocas.
No
local, é raro ver comerciantes dentro das lojas. Eles ficam do lado de fora,
conversando entre si como velhos amigos e, claro, convidando clientes de
forma amistosa para
conhecerem seus produtos, que variam entre redes de dormir, utensílios
domésticos, cestarias, peças de madeira e couro, dentre outros. Um desses
artesãos é José
Wilson Silva, o Sol. Aos 56 anos de idade, conhece bem o valor
do ofício, já que trabalha com peças de couro há 12 anos.
Começou
como auxiliar de cozinha em um restaurante próximo à Travessa, e até alcançou
cargos elevados dentro do negócio, mas não conseguiu o retorno financeiro
desejado. Com a ideia de um amigo, começou a confeccionar redes e,
posteriormente, peças de couro. O artesanato o pegou de jeito. "Não tinha
como escapar, conquista mesmo. Hoje, isso daqui é a minha casa, e não digo nem
a segunda, é a primeira mesmo".
Revitalizada em junho de 2016, a Travessa Crato,
localizada entre
as ruas Conde D'Eu e General Bezerril, reflete um ar bucólico
|
Autointitulado
"ignorante e bruto", Sol demonstra
o contrário por meio do sorriso e brincadeiras enquanto conversa. Ele vende de
tapetes a acessórios para vaqueiros e de vez em quando recebe pedidos
inusitados. "Diz aí que um moço pediu pra eu fazer um cinto de castidade
pra namorada. Aceitei, mas pense aí na raiva", lembra. Atualmente, Sol
produz apenas peças sob encomenda e expõe na loja trabalhos de outros artesãos
para venda.
Apreço
pela arte
Andando
mais um pouco, uma loja chama atenção pela diversidade de objetos. A dona é Angélica Monteiro, 41
anos, que possui carinho especial pela cultura nordestina. A arte entrou na sua
vida quando menos esperava. Ela cursava Engenharia Civil na Universidade
Federal do Ceará quando, durante uma greve, começou a frequentar a loja de
artesanato do namorado no Mercado Central. "Não conseguia ficar sentada.
Comecei a vender e a conversar com artesãos".
Após
esse primeiro contato, Angélica trancou o curso e tomou tanto gosto pela
tradição popular que já são 10 anos trabalhando na área. Chegou a confeccionar
bijuterias com sua irmã, Adelita, mas hoje atua apenas como comerciante.
Com
peças de 500 artesãos, entre eles Mestre
Espedito Seleiro, J.
Borges, Zé das
Velhas e Mestre
Dim, o acervo de sua loja é resultado de muita procura.
"Aqui tem de tudo. Desde lembrancinhas de cinco reais a produtos de quatro
mil, assinados por grandes nomes do artesanato nordestino e artistas
locais". Para além do espírito empreendedor, Angélica tem o brilho no
olhar de quem ama o que faz. Sua missão é disseminar a valorização do trabalho
de cada artista. "Certa vez, um homem chegou pedindo qualquer coisa para
sogra. Não deixei ele levar nada. Quando você compra uma peça de artesanato,
você também está levando sentimento e essência", afirma.
Para
finalizar o passeio pela Travessa Crato, nada melhor que experimentar o
gostinho de pratos
regionais. No conhecido ponto do seu Raimundo dos Queijos, além
da iguaria que virou o sobrenome do dono, tem paçoca, cerveja e música ao vivo
aos domingos. (Lívia
Baral, com colaboração de Tainã Maciel).
Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário