sexta-feira, 26 de abril de 2019

‘Eu durmo com a consciência tranquila ao contrário de Moro’, diz Lula


Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista da prisão.
Foto: Reprodução/El País
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu nesta sexta-feira (26) sua primeira entrevista à imprensa, após mais de um ano preso na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Ao jornal Folha de S.Paulo e El País, o petista falou sobre a vida detido, da morte do neto, do governo de Jair Bolsonaro, das acusações de corrupção e da possibilidade de nunca mais sair da prisão.

“Fico preso cem anos. Mas não troco minha dignidade pela minha liberdade”, afirmou às reportagens.

A entrevista aconteceu após uma batalha judicial, que chegou a ser censurada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, o presidente da corte, Dias Toffoli, reviu a decisão e permitiu a conversa.

O ex-presidente, segundo os veículos, foi entrevistado por cerca de duas horas, em uma sala preparada pela PF. No esquema, foi determinado que ele seria colocado em uma mesa a uma distância de 4 metros de todos os presentes e ninguém poderia se aproximar.

“Eu tenho certeza de que durmo todo dia com a minha consciência tranquila. E tenho certeza de que o Dallagnol não dorme, que o [ministro da Justiça e ex-juiz Sergio] Moro não dorme”, disse Lula.

O ex-presidente disse que a elite brasileira deveria fazer uma autocrítica depois da eleição de Bolsonaro. “Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso”, afirma.

Embate com a entrevista
Depois da autorização do presidente do STF, a Polícia Federal informou os advogados do ex-presidente que todos os veículos de imprensa interessados em falar com Lula poderiam participar da entrevista.

Sua defesa, no entanto, solicitou ao ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso, que o ex-presidente conceda as entrevistas de forma reservada, somente com os jornalistas com os quais ele desejar conversar. O que foi acatado pelo magistrado.

A Folha de S.Paulo e Florestan Fernandes Júnior foram os primeiros a fazer o pedido à Justiça. A solicitação foi negada pela primeira instância da Justiça Federal em Curitiba, e, posteriormente, autorizada pelo Supremo.

“Esclareço que a decisão da Corte se restringe exclusivamente aos profissionais da imprensa supramencionados, vedada a participação de quaisquer outras pessoas, salvo as equipes técnicas destes, sempre mediante a anuência do custodiado’, decidiu o ministro.

Dúvidas
Uma pessoa detida pode dar entrevista? A decisão depende do juiz, de acordo com advogados ouvidos pela imprensa. Não há legislação específica sobre o tema e as decisões são feitas caso a caso, considerando a manutenção da ordem interna do presídio e um possível prejuízo da pena.

O artigo 41 da Lei de Execução Penal prevê apenas o “contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes” como direito do preso.

Há exemplos notórios de entrevistas realizadas com detidos no Brasil, como a do líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho (o Marcola) ao jornal O Globo em março de 2014, e do traficante Fernandinho Beira-Mar para a TV Record em junho de 2017.

Outros casos de criminosos famosos que receberam a imprensa na prisão foram do ex-médico e estuprador, Roger Abdelmassih, de Suzane von Richthofen, que matou os pais, do ex-prefeito e deputado Paulo Maluf e do traficante Nem da Rocinha.  Site Exame

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