Luiz
Inácio Lula da Silva em entrevista da prisão.
Foto: Reprodução/El País
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu nesta
sexta-feira (26) sua primeira entrevista à imprensa, após mais de um ano preso
na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Ao jornal Folha de S.Paulo
e El País, o petista falou sobre a vida detido, da morte do neto, do governo de
Jair Bolsonaro, das acusações de corrupção e da possibilidade de nunca mais
sair da prisão.
“Fico preso cem anos. Mas não troco minha dignidade pela
minha liberdade”, afirmou às reportagens.
A
entrevista aconteceu após uma batalha judicial, que chegou a ser censurada pelo
STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, o presidente da corte, Dias
Toffoli, reviu a decisão e permitiu a conversa.
O
ex-presidente, segundo os veículos, foi entrevistado por cerca de duas horas,
em uma sala preparada pela PF. No esquema, foi determinado que ele seria
colocado em uma mesa a uma distância de 4 metros de todos os presentes e
ninguém poderia se aproximar.
“Eu tenho certeza de que durmo todo dia com a minha
consciência tranquila. E tenho certeza de que o Dallagnol não dorme, que o
[ministro da Justiça e ex-juiz Sergio] Moro não dorme”, disse Lula.
O
ex-presidente disse que a elite brasileira deveria fazer uma autocrítica depois
da eleição de Bolsonaro. “Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que
não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o
país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso”, afirma.
Embate
com a entrevista
Depois
da autorização do presidente do STF, a Polícia Federal informou os advogados do
ex-presidente que todos os veículos de imprensa interessados em falar com Lula
poderiam participar da entrevista.
Sua
defesa, no entanto, solicitou ao ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso,
que o ex-presidente conceda as entrevistas de forma reservada, somente com os
jornalistas com os quais ele desejar conversar. O que foi acatado pelo
magistrado.
A
Folha de S.Paulo e Florestan Fernandes Júnior foram os primeiros a fazer o
pedido à Justiça. A solicitação foi negada pela primeira instância da Justiça
Federal em Curitiba, e, posteriormente, autorizada pelo Supremo.
“Esclareço que a decisão da Corte se restringe exclusivamente
aos profissionais da imprensa supramencionados, vedada a participação de
quaisquer outras pessoas, salvo as equipes técnicas destes, sempre mediante a
anuência do custodiado’, decidiu o ministro.
Dúvidas
Uma
pessoa detida pode dar entrevista? A decisão depende do juiz, de acordo com
advogados ouvidos pela imprensa. Não há legislação específica sobre o tema e as
decisões são feitas caso a caso, considerando a manutenção da ordem interna do
presídio e um possível prejuízo da pena.
O
artigo 41 da Lei de Execução Penal prevê apenas o “contato com o mundo exterior
por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação
que não comprometam a moral e os bons costumes” como direito do preso.
Há
exemplos notórios de entrevistas realizadas com detidos no Brasil, como a do
líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho (o Marcola) ao jornal O Globo em
março de 2014, e do traficante Fernandinho Beira-Mar para a TV Record em junho
de 2017.
Outros
casos de criminosos famosos que receberam a imprensa na prisão foram do ex-médico
e estuprador, Roger Abdelmassih, de Suzane von Richthofen, que matou os pais,
do ex-prefeito e deputado Paulo Maluf e do traficante Nem da Rocinha. Site Exame
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