(Foto: Alex Pimentel) |
Restando
exatamente uma semana para o fim da quadra chuvosa, que se iniciou em
fevereiro, o Ceará alcançou um número expressivo. As chuvas registradas ao
longo deste período garantiram ao ano de 2019 a terceira melhor média
pluviométrica das últimas duas décadas. Apesar disso, há pontos de preocupação.
Devido à irregularidade espacial das chuvas, os principais reservatórios
cearenses não conquistaram aporte hídrico suficiente. Será preciso, para o
segundo semestre, usar a água de forma racional. Caso contrário, o Estado pode
enfrentar, novamente, problemas no abastecimento, conforme autoridades da área
de gestão hídrica.
Redução
e prejuízos
A
tendência para os últimos dias da quadra chuvosa é de diminuição de ocorrência de
precipitações no Ceará. "O balanço parcial aponta que as chuvas ficarão
dentro do previsto nos dois prognósticos, com melhor distribuição no
Centro-Norte do Estado em detrimento da região Centro-Sul", mostrou o
meteorologista da Funceme, Raul Fritz.
No
Cariri, as chuvas ocorridas em 2018 superaram as deste ano. A consequência
direta é a perda elevada de safra em municípios do Sul do Estado, uma das áreas
importantes de produção de grãos. "O maior índice de frustração da safra
ocorre no Cariri", disse o presidente da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Antônio Amorim. "Em Jardim e Brejo
Santo chega a 90% de perda".
As
regiões Centro-Sul, parte do Sertão Central e Inhamuns registram, em um balanço
parcial, perda de safra agrícola de sequeiro (aquela que depende exclusivamente
da chuva). A irregularidade nas precipitações e o veranico ocorrido na segunda
quinzena de abril e início de maio prejudicaram o desenvolvimento do plantio. O
gerente regional da Ematerce, Virgolino Ferreira, disse que aguarda até o fim
deste mês o relatório da situação de produção, mas observou perdas em Acopiara,
Catarina, Jucás e Saboeiro. "Tivemos chuvas muito irregulares e
localizadas", afirmou.
O
Sul e Centro-Sul do Ceará são as mais afetadas com a perda da lavoura de grãos.
Os dados parciais da Ematerce apontam, nessas duas regiões, frustração de safra
que varia entre 60% e 80%. Na média estadual, o presidente do órgão estima
perda de 20%.
A
frustração de safra nas duas regiões com mais peso produtivo (Cariri e
Centro-Sul) afeta a economia regional, gerando queda de receita e
descapitalização do pequeno produtor rural. "O setor agrícola em crise
impacta nas economias das cidades e é um quadro recorrente há alguns
anos", pontuou Amorim.
O
agricultor Clóvis Moreira, da comunidade Riacho Vermelho, zona rural de Iguatu,
lamentou a segunda perda seguida do plantio de milho e feijão. "Talvez
aproveite uns 20%", disse. "No tempo que precisava, as chuvas não
vieram".
Irregulares
Para
explicar essa dualidade de cenário, em que as chuvas se apresentaram com vigor,
mas não foram suficientes para recarga hídrica ou tampouco para beneficiar a
produção de grãos, Fritz recorre aos fenômenos naturais que incidem sobre o
Estado. A justificativa está na atuação do fenômeno El Niño que contribuiu para
que as precipitações no Sul e Centro-Sul do Estado fossem reduzidas.
"Não
tivemos grandes aglomerados conectivos de nuvens de chuva, por isso houve muita
irregularidade espacial e temporal", acrescentou o especialista da
Funceme.
Açudes
atingidos
A
concentração da pluviometria nas regiões Norte e Litorânea afetaram a recarga
de água nos principais reservatórios cearenses, que estão situados em outras
regiões do Estado.
O
Castanhão, maior açude do Ceará, acumulava no início da quadra chuvosa, 3,7% de
sua capacidade máxima. Hoje, está com 5,5%. A recarga hídrica de apenas 1,8
ponto percentual é ínfima tendo visto o grande contingente de pessoas
abastecidas por ele. O Castanhão é responsável pela segurança hídrica de mais
de quatro milhões de pessoas do médio e baixo Jaguaribe e da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF).
O
cenário no segundo maior reservatório cearense é o mesmo. Em fevereiro, o Orós
acumulava 5,4% e, atualmente, está com 9,2%. O açude Banabuiú, terceiro em
capacidade de água armazenada, passou de 5,4% para 8,1%.
Conforme
o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias de Oliveira, para que um reservatório
consiga ultrapassar todo o segundo semestre do ano, período marcado pela
ausência quase completa de chuvas, se faz necessária uma recarga de segurança
de, em média, 20%. Este índice, no entanto, está distante na maioria dos
reservatórios do Estado.
Dos
155 açudes monitorados pelo órgão, 72 estão com volume abaixo de 30%, 18 estão
no volume morto e seis estão secos. Em contrapartida, 33 estão sangrando. Mesmo
diante de tantos fatores que mantêm o alerta ligado no Estado, o gerente da
Ematerce de Iguatu e Quixelô, Erivaldo Barbosa, ressalta que o cenário poderia ser
pior.
"Se
tivéssemos mais um ano com chuvas abaixo da média o cenário seria devastador.
Temos que lembrar que o Estado enfrenta, nos últimos anos, sucessivos períodos
de seca. Portanto, quando há números expressivos como estes, temos que
comemorar, embora seja preciso atenção para o segundo semestre do ano que é
marcado por poucas chuvas". Diário do Nordeste
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